Nuno Lopes diz estar de "consciência absolutamente tranquila" após ser acusado de violação por uma argumentista, atriz e realizadora norte-americana que se identifica com o género não-binário.

Anna Martemucci, profissionalmente A.M Lukas, entrou com uma ação na justiça dos EUA na segunda-feira em que acusa o ator português de a “drogar e violar” em 2006, durante o Festival de Cinema de Tribecca, em Nova Iorque.

Segundo o seu relato, Nuno Lopes, então a estudar representação, terá drogado a sua bebida antes de a levar para o seu apartamento, onde a violou. Às 7h30 da manhã chamou um táxi e deu-lhe 30 dólares para pagar a conta e o seu contacto telefónico.

“Sou moralmente e eticamente incapaz de cometer os atos de que me acusam. Jamais drogaria alguém e jamais me aproveitaria de uma pessoa incapacitada, quer por excesso de álcool ou por influência de quaisquer outras substâncias. Nem hoje nem há 17 anos”, diz o comunicado enviado pelo assessor de imprensa de Nuno Lopes às redações no final da manhã e publicado nas redes sociais.

Notando que foi "veementemente instruído" pelos seus advogados nos EUA a não revelar "todos e quaisquer detalhes sobre o processo", Nuno Lopes diz que recebeu "com surpresa e choque" uma carta dos advogados da alegada vítima "pedindo-me que propusesse uma quantia monetária para este caso acabar, e um pedido de desculpas. Rejeitei ambos".

Dizendo ter "o maior respeito e solidariedade por todas as vítimas de qualquer tipo de violência", o ator acrescenta estar "de consciência absolutamente tranquila, mas ciente das consequências gravíssimas que este caso representa. E de como a minha decisão de recusar um acordo confidencial e avançar publicamente para tribunal aporta consequências para a minha reputação quer pessoal quer profissional".

"Refuto todas as acusações que me são feitas, que espero que este caso seja prontamente esclarecido e julgado justamente pelas autoridades competentes e que nunca terei medo de agir judicialmente contra qualquer pessoa que tente difamar o meu bom nome", conclui.

Com este processo judicial, interposto no Tribunal de Nova Iorque na segunda-feira, 17 anos após o sucedido, a norte-americana pretende responsabilizar o ator português pelos seus atos e chamar a atenção de vítimas de alegados crimes sexuais para o fim do prazo de um enquadramento legislativo especial, intitulado ‘The Adult Survivors Act’, para apresentarem queixa.

O prazo para interpor um processo ao abrigo da chamada Lei dos Sobreviventes Adultos de Nova Iorque (em tradução livre) termina na quinta-feira.

A.M. Lukas conta que, recém formada da faculdade de cinema, foi no dia 28 de abril de 2006 a uma festa de estreia do filme de uma amiga no Festival de Cinema de Tribeca, onde foi apresentada a Nuno Lopes, e que, pouco depois de se conhecerem começou a sentir o corpo “invulgarmente pesado” e começou a “perder a memória”, revelam os advogados.

Reportando-se às “poucas e horríveis recordações fragmentadas dessa noite e das primeiras horas da manhã”, A.M. Lukas relatou lembrar-se de Nuno Lopes lhe “segurar as pernas moles” e de a violar, detalhando as várias formas como o fez, enquanto ela entrava e saía de estados de consciência.

Segundo o processo, dirigiu-se ao hospital na mesma manhã para fazer um teste de violação.

A.M Lukas diz que precisou tomar medicamentos anti-VIH e foi diagnosticada com transtorno de stress pós-traumático quando começou a recordar-se do que aconteceu e teve pensamentos suicidas após a alegada agressão sexual.

Segundo os seus advogados, a argumentista sofreu “graves traumas psicológicos e emocionais”, que “tem de suportar até hoje”.

Um dos advogados, Michael Willemin, afirmou, em nome da sociedade que representa (Wigdor LLP), sentir-se “inspirado pela coragem” de A.M. Lukas em responsabilizar Nuno Lopes, assinalando que “a indústria cinematográfica tem repetidamente dado licença a homens como o Sr. Lopes para se envolverem em agressões sexuais sem consequências”.

A.M. Lukas afirmou, por sua vez, que foi dada ao ator português “a oportunidade de assumir a responsabilidade pelos seus atos: de reconhecer o que fez, de responder por isso e de pedir desculpa”.

“Recusou-se imediatamente a fazê-lo e comunicou de forma inequívoca que nunca reconheceria qualquer ato ilícito. Não podemos aceitar um mundo em que os autores de comportamentos hediondos e desumanos possam viver as suas vidas às claras, com impunidade e sem consequências sociais, enquanto as suas vítimas sofrem em silêncio”, acrescentou, sublinhando que não obstante quaisquer tentativas de humilhação e desacreditação que possam ser levadas a cabo pela defesa de Nuno Lopes, não se deixará “dissuadir de fazer justiça”.