O cenário foi traçado hoje no sexto Encontro de Produtores Independentes de Televisão, num debate entre os produtores José Amaral (produtora SPi, do grupo SP), Henrique Oliveira (HOP!) e Pandora da Cunha Telles (Ukbar Filmes), o presidente do Instituto do Cinema e Audiovisual, (ICA), Luís Chaby Vaz, e Susana Costa Pereira, do programa de financiamento Europa Criativa.

"Acreditamos que estamos num momento muito bom da produção nacional e do conhecimento que essa qualidade tem internacionalmente. Estamos numa fase crucial", afirmou Chaby Vaz no encontro, a propósito do cenário atual de produção de ficção portuguesa para o pequeno ecrã.

Tanto José Amaral como Henrique Oliveira sublinharam a importância de investimento da RTP, a existência, desde 2014, de uma linha de financiamento do ICA para o audiovisual e a criação da Portugal Film Commission, tudo no sentido de alargar o catálogo de produção de obras de ficção portuguesa.

"Era bom que houvesse mais verbas, mas o esforço da RTP e do ICA é considerável, é uma base de trabalho para tentar internacionalizar. O problema é quando chegamos lá fora", afirmou Henrique Oliveira, que assinou a produção, por exemplo, da série "Vidago Palace".

Conta-me como Foi

No entender do produtor, que adiantou a possibilidade de um acordo com a plataforma Netflix para exibir esta série em streaming, a chave para ampliar as capacidades da produção de ficção está na distribuição.

"A distribuição é que nos vai permitir fazer a ligação com os streamers. É a nossa chave e o nosso próximo passo: Juntar os novos projetos a uma distribuidora, mais até do que [apostar] na questão da coprodução", disse.

José Amaral, da empresa que produziu a série "Conta-me Como Foi", foca-se também na distribuição: "Atraindo uma distribuidora que esteja interessada em colocar dinheiro no projeto, garantimos que está interessada em recuperar o investimento, e que está no mercado internacional".

Pandora da Cunha Telles, produtora de cinema que começou também a trabalhar para ficção televisiva, reconhece que "tem sido um desafio encontrar histórias que podem ser feitas em Portugal", com baixos orçamentos e que possam ter potencial internacional.

"Estamos num momento de compreender onde nos encaixamos ao nível de tendências, porque trabalhamos com orçamentos relativamente baixos. (...) Estamos a encontrar uma nova forma de trabalhar dentro deste novo suporte que é as séries, estamos a fazer este trabalho com os canais de televisão e estamos a aprender o que é que o público quer em cada uma das plataformas", elencou.

A Ukbar Filmes produziu recentemente a série "A Espia", de Jorge Paixão da Costa, protagonizada por Daniela Ruah, e a minissérie "Soldado Milhões" a partir do filme homónimo.

Susana Costa Pereira, do programa de financiamento Europa Criativa, revelou que para o próximo quadro estratégico - 2021/2027 -, o que está previsto "não é uma revolução, é uma evolução", em matéria de regras de apoio ao audiovisual e media.

Segundo a responsável, para cumprir o objetivo do programa Europa Criativa, de aumentar a circulação de obras culturais e artística e as audiências, haverá uma aposta no envolvimento dos distribuidores na fase de desenvolvimento de um projeto, "desde tenra idade".

Enquanto Portugal aguarda a transposição de uma diretiva europeia para serviços media e audiovisuais, a denominada Diretiva AVMS, os produtores convidados deste debate reconheceram que o mercado das plataformas de exibição em 'streaming' é extremamente apetecível, pelo investimento implícito e pelo potencial de espectadores.

"As coisas não dependem só de nós. Somos dez milhões, o mercado para a Netflix em Portugal são dez milhões. Pode haver um interesse das grandes operadoras em fazerem produções connosco, mas à partida olham para Portugal como olham para a Suíça – é um território pequeno, com poucos subscritores e que não dão rendimento", advertiu Pandora da Cunha Telles.

"Vamos lá chegar, mas é preciso boas histórias, boa escrita, [já] não temos o problema do português, temos apoio, mas temos que chegar à distribuição", disse Henrique Oliveira.

Luís Chaby Vaz, dos contactos que tem tido em particular com a plataforma Netflix, afirmou que "a diversidade [da produção portuguesa] é uma característica muito apreciada. (...) O mundo das plataformas pode vir a ajudar ".