"Na altura em que soube da existência do compositor, há dez anos, fiquei fascinada. (...) É um compositor de culto. Quem gosta, gosta muito, mas não é muito, muito conhecido", explicou a pianista à agência Lusa.

Joana Gama fará na quinta-feira uma palestra ao piano, no Goethe Institut, sobre a vida e obra deste compositor, e, na sexta-feira, apresenta-se no grande auditório da Culturgest, para interpretar possivelmente a mais emblemática das obras de Hans Otte, "O livro dos sons", escrita entre 1979 e 1982.

Há ainda um terceiro evento dedicado a Hans Otte. A Culturgest convidou os músicos Norberto Lobo, Helena Espvall, Bruno Álvares, Violeta Azevedo, Pedro Melo Alves e Joana Conceição a reinterpretarem, a solo e à medida das suas práticas artísticas, "O livro dos sons".

O resultado dessa encomenda poderá ser visto em filme, a exibir online no dia 10, sábado, nas redes sociais da Culturgest.

A ideia de dar a conhecer a obra deste autor partiu de Joana Gama e concretizou-se através da Culturgest, que promete "um programa ambicioso que se prolongará no tempo", até porque Hans Otte, que morreu em 2007, aos 81 anos, foi mais do que pianista e compositor.

Durante quase trinta anos foi diretor musical da rádio pública de Bremen, na Alemanha, organizou um festival de música, deu a conhecer outros compositores, fez instalação sonora, peças de teatro musical, escreveu ensaios, "teve um espetro artístico bastante alargado", explica Joana Gama.

A pianista recorda que conheceu a obra de Hans Otte numa altura em que estava embrenhada no universo de Erik Satie e a começou a tocar em público. "Foi assim um amor... como com o Satie", admitiu.

Joana Gama estudou, investigou e divulgou o trabalho do compositor francês numa série de recitais pelo país, com palestras em escolas, edição de álbuns e um espetáculo para crianças.

Com Hans Otte sucedeu o mesmo interesse e vontade de descoberta. Investigou a vida do compositor alemão, estudou a obra, a relação dele com outros estilos musicais e com outros compositores e descobriu um grande potencial de divulgação, que deverá concretizar-se em 2021.

"No meu trabalho interessa-me saber quem está por detrás da música. Não interessa só o trabalho, mas como é que se faz aquilo que se faz", explica Joana Gama.

Quanto a "O livro dos sons", peça para piano dividida em doze andamentos, Joana Gama considera-a minimal expressiva, que demonstra uma preocupação de Hans Otte em relação à ressonância de cada som e à apropriação que os intérpretes fazem da partitura.

"O que é muito bonito nesta peça é que ele [Hans Otte] deixa muitas partes em aberto para os intérpretes. Há secções que são para ser repetidas e cada pessoa repete quantas vezes quiser. (...) Ele acreditava que a função do compositor não devia ser querer dono dos sons, mas que os sons dissessem para onde queriam ir", afirmou Joana Gama.

A pianista não descarta a possibilidade de registar em álbum a sua interpretação de "O livro dos sons", mas antes disso quer tocar a peça mais vezes em recitais, quer "amadurecer em público".

Nos meses de confinamento por causa da covid-19, que paralisaram praticamente toda a atividade cultural no país, Joana Gama esteve a estudar e a planear os projetos nos quais está envolvida.

"Felizmente estava tranquila em termos financeiros, soube-me bem ficar a estudar com calma. E quando recomeçou, recomeçou igual", contou, a propósito dos recitais a solo, do trabalho em parceria com Luís Fernandes, Vítor Rua, João Godinho, Victor Hugo Pontes e o coletivo Drumming.

Este mês, além de "O livro dos sons", Joana Gama estreará, no dia 17, o espetáculo para a infância "As árvores não têm pernas para andar", com o músico João Godinho e o ilustrador Francisco Eduardo, na Fundação Lapa do Lobo (Viseu), que estará depois em itinerância pelo país.

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