A Bienal de Arte Contemporânea da Maia assinala no sábado o "segundo momento" da programação, a decorrer até 14 de setembro, com um concerto da compositora Ece Canli e performances dos artistas Pedro Moreira, Carla Cruz e Cláudia Lopes.

A estreia da 'performance-concerto' "O Livro do Tigre", de Isabel Carvalho, a partir da obra homónima de Isabel Meyrelles, nome-chave do surrealismo português, constitui "um dos pontos altos deste segundo momento" da Bienal, de acordo com as notas de programa hoje divulgadas.

"Le livre du tigre", que inspira a atuação de Isabel Carvalho e os seus quadros expostos na Bienal, foi publicado em 1976, originalmente em francês, com ilustrações do artista Cruzeiro Seixas.

Nesta nova criação, a artista multidisciplinar, com um percurso sustentado na investigação, dá voz a uma seleção de poemas de Isabel Meyrelles, acompanhada pela direção musical de Rui Santos ('aka' Bug Snapper).

A Bienal de Arte Contemporânea da Maia, a decorrer sob o tema "Fulgor", teve o seu primeiro momento - o "momento inaugural" - no passado dia 3, com a abertura da exposição central no Fórum da Maia.

Este "segundo momento" ganha iniciativas e uma nova exposição, "Os olhos por instantes são sonhos", de Vasco Mota, constituída por 12 quadros em técnica mista sobre papel digitalizado, concebidos para 12 mupis, pelo artista que se destacou com o projeto “Rabiscar o Porto”.

As 'performances' "Recollection", de Pedro Moreira, e "Ar", de Carla Cruz e Cláudia Lopes, assim como o concerto "Perforata", da compositora e investigadora de origem turca Ece Canli, radicada em Portugal, marcam igualmente a programação do "segundo momento".

Esta edição da Bienal de Arte Contemporânea da Maia tomou o tema "Fulgor" a partir das interrogações lançadas pela escritora Maria Gabriela Llansol, no discurso de aceitação do Grande Prémio do Romance e da Novela de 1991: “Como continuar o humano? Que sonho vamos nós sonhar que nos sonhe? Para onde é que o fulgor se foi?”

O curador da bienal, Manuel Santos Maia, em entrevista à Lusa na altura da inauguração, explicou que o tema “Fulgor” faz sentido, porque as mais de 400 obras reunidas no Fórum da Maia são de alguma forma “fulgurantes”.

“E porque é que são fulgurantes? São imagens às quais nos podemos ligar", afirmou. "Como Llansol diz, nós somos lidos pelos poemas e também aqui nós somos lidos por estas obras de arte.”

A Bienal apresenta trabalhos de pintura, fotografia, escultura, vídeo, desenho, instalação, realidade aumentada, ações performativas, criações musicais, trabalhos sonoros. “A oferta é diversa e múltipla”, declarou Manuel Santos Maia à Lusa.

Entre os cerca de 70 artistas, de diferentes gerações e expressões, com trabalhos expostos, contam-se nomes como os de André Romão, Andreia C. Faria, Diogo Martins, Francisco Trêpa, Francisco Vidal, Joana Patrão, João Melo, Nuno Félix da Costa, Pedro Huet, Rita Castanheira, Rita Roque, Rúben Fernandes, Tiago Madaleno, Von Calhau.

A “figura central da exposição”, disse o curador, é Eduardo Batarda, um dos mais influentes da pintura contemporânea portuguesa, que apresenta 15 peças, a maioria da série "Misquoteros", patentes na sala central da bienal. Aqui convivem com instalações do artista plástico portuense Pedro Moreira, de 24 anos, e com esculturas de criadores moçambicanos, muitas delas inspiradas na sociedade matriarcal do Norte daquele país africano.

A presença de Moçambique na Bienal está relacionada com os 50 anos de independência deste país, assinalados no dia 25 de junho.

“Nestes 50 anos surgiram imensos artistas e nós apresentamos dois pilares do que são as artes plásticas em Moçambique – Malangatana Ngwenya e Alberto Chissano -, e toda a geração fulgurante que veio a seguir a eles como Gonçalo Mabunda, Estêvão Mucavele. Mas também era importante invocar as escultoras macondes, pertencente ao grupo étnico bantu da região de Cabo Delgado [no nordeste de Moçambique], como Julia Nacheque, Reinata Sadimba e Merina Amade”, explicou o curador da bienal.

“São muitos mais artistas moçambicanos que dão conta destas cinco décadas”, observou, destacando também o trabalho do jovem pintor e escritor Ruben Zacarias, que apresenta uma grande pintura de exterior “numa lona em frente ao metro e também uma pintura no interior”.

Para o curador, trata-se ainda de fazer justiça, pois muitos destes artistas moçambicanos passaram por Portugal, como Malangatana, que morreu em Matosinhos.

O "segundo momento" da bienal conta ainda com oficinas, visitas-oficina para crianças e uma performance gastronómica, por Subuia.

A bienal, promovida pela Câmara Municipal da Maia, é de entrada livre.