Depois da mudança para Serpins em 2020, o projeto que se dedica ao registo e divulgação de práticas culturais assentes na tradição oral está agora a construir o seu centro interpretativo, que ficará concluído no início de 2023, com recurso a fundos comunitários, disse à agência Lusa o fundador do MPAGDP, Tiago Pereira.

O edifício que dará lugar à futura sede do projeto cultural é um anexo da Casa Cortez (em tempos, foi um entreposto comercial), que estava votado ao abandono.

“O centro carrega uma carga muito grande, porque este edifício foi também uma adega, em que o vinho se mantinha muito fresco, e por cima havia uma ateliê de costura. Era um edifício muito importante na comunidade e esta ligação o próprio centro vai querer manter com as pessoas que cá vivem”, afirmou Tiago Pereira.

O edifício está localizado numa encruzilhada entre a estrada que segue para dentro da vila e a que liga Góis à Lousã, sendo “um lugar absolutamente central, que se vê de todo o lado”, salientou.

Nesse sentido, o espaço não servirá apenas para se divulgar ou promover música, mas também para discutir o território, desde os incêndios ao diálogo entre o desenvolvimento urbano e industrial e o meio rural, tensão que se sente em Serpins, vila “com dois lados fortes e antagónicos – um bastante industrial e outro onde muitas pessoas têm os seus cultivos, trabalham nas hortas e que vão desaparecendo”.

O centro interpretativo do MPAGDP, com dois andares, terá no rés-do-chão uma “espécie de receção”, um espaço que poderá servir para exposições, e uma mesa digital interativa, em que o visitante poderá percorrer o país e ver todos os vídeos do projeto de norte a sul, explicou.

No andar de cima, haverá “um espaço amplo, que poderá ter atividades, que podem ir desde ateliês de construção de instrumentos, exposições, exibição de filmes, debates ou pequenos concertos”, referiu Tiago Pereira.

O centro, vincou, funcionará como “uma espécie de portal, onde se pode ver Portugal todo lá dentro”.

Se quando veio para Serpins, o MPAGDP assumiu o lema “Serpins, uma janela aberta para o mundo” (entretanto adotado pela própria junta de freguesia), agora quer “colocar o mapa em Serpins” e levar até àquela vila no interior da região Centro “todo o país que grava", realçou Tiago Pereira.

“Houve um mundo que mudou e a Música Portuguesa faz essa alfabetização da memória, num período único em que há esta transição da era da tradição oral para a tradição digital, em que as pessoas que sabiam as coisas de cor estão a morrer”, salientou.

A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPGDP) foi criada em 16 de janeiro de 2011, e tornou-se numa plataforma nacional de divulgação de práticas culturais assentes na música e na transmissão oral.