A azáfama do coletivo “Ligados às Máquinas”, a Orquestra Samples Cadeira de Rodas da APPC, é grande, porque há ainda muito para ensaiar para “o grande concerto de dia 28 de junho”, altura em que marcarão presença no Festival Nascentes, na aldeia de Fontes, concelho de Leiria.

Nesse dia, o coletivo assinala o seu 10.º aniversário e estreia um conjunto de novas canções, compostas a partir de ‘samples’ cedidos por vários nomes de destaque da música nacional.

Da Rita Redshoes chegou um trecho musical com voz e piano, a Orquestra e o Coro da Gulbenkian enviaram um ‘sample’ de cordas do coletivo, sendo ainda enviadas contribuições de Samuel Úria, Salvador Sobral, Joana Gama, Ana Deus, Bruno Pernadas, Moullinex, Coro Ninfas do Lis, Joana Guerra, José Valente, Surma, Gala Drop, Lavoisier e Cabrita.

Destes artistas chegaram ‘samples’ de todo o tipo, desde sopros, cordas, percussões, ‘beats’, vozes, sintetizadores e texturas.

“Isto foi quase como fazer uma lista de compras e o pessoal foi contribuindo, respondendo às encomendas, consoante as necessidades que manifestámos. E foi com isso que fomos trabalhando”, sublinhou à agência Lusa o coordenador do projeto, Paulo Jacob.

Através do ‘sampling’, é recriada uma espécie de “manta de retalhos” sonoros, em que se cruzam ambientes e estilos musicais díspares.

Do hip-hop ao fado, do rock à techno, do blues à world music, da música erudita à concreta, dos sons da publicidade às séries televisivas, tudo se conjuga num espetáculo sonoro que espelha as vivências do coletivo.

Grupo musical Ligados às Máquinas
Grupo musical Ligados às Máquinas

“Uns gostam de Queen, outros de kizomba, José Cid ou de música clássica. A ideia foi integrar um bocadinho de todas estas pequenas partículas identitárias”, evidenciou o coordenador do projeto.

Sérgio Felício, Fátima Pinho, Dora Martins, Pedro Falcão, Luís Capela, Andreia Matos, Élia, Zé Miguel e Jorge Romba são os nove elementos que compõem o coletivo e que encontraram na música o pretexto para se reunirem, conviverem e divertirem.

Em dia de ensaio, que decorreu na Quinta da Conraria, em Coimbra, uma série de cabos parte de uma caixa de madeira em direção às suas cadeiras de rodas.

É com este dispositivo que cada um contribui à sua maneira, fazendo disparar sons, consoante as suas capacidades: o Sérgio utiliza os lábios, a Fátima um teclado e outros colegas apertam um sensor com os dedos.

“Isto não é nada fácil, requer muita concentração e trabalho para chegar longe. Se um falha, estraga logo tudo”, realçou Sérgio.

Este é um compromisso que assumiu e que leva muito a sério e que lhe proporciona muitas “experiencias felizes” e que o fazem “sentir útil”.

“Consigo isso através da música! Faço viagens muito divertidas e o convívio é fantástico”, afiançou, de sorriso nos lábios.

A música ocupa também um espaço central na vida de Fátima Pinho, que recentemente até dividiu o palco com os Coldplay, quando os 5.ª Punkada, a banda de pop-rock da APPC, foi convidada a tocar um tema no Estádio Cidade de Coimbra.

“É tudo uma questão de vontade e quando gostamos mesmo muito, conseguimos tudo. É assim que encaro a música, pela qual sou apaixonada desde pequenina”, apontou a teclista.

Presa à sua cadeira de rodas, tilinta um conjunto de porta-chaves, com alusões aos diferentes países onde a música já a levou.

“São muitos, mas vou ter mais! Gosto muito de atuar e de fazer viagens”, garantiu divertida, sem nunca largar o teclado.

Sérgio e Fátima são os dois elementos mais fervorosos do projeto, que outros, de forma mais tímida e contida, dizem ser apenas um passatempo.

“Um passatempo que nos permite conviver”, sustentou Andreia Matos, que explicou que o nervosismo se vai embora pouco tempo depois de pisar um palco.

É isto que espera que aconteça no dia 28 de junho, quando subir a mais um, desta feita no concelho de Leiria.

Até lá, ainda há muito para continuar a ensaiar…