O grupo nasceu há uma década na Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC) para dar resposta a pessoas com grandes incapacidades motoras.
Atualmente conta com uma dezena elementos, homens e mulheres com idades entre os 23 e os 60 anos. São utentes daquela instituição, têm paralisia cerebral ou doenças neurodegenerativas e “têm algo para dizer e sentem coisas”.
“A música é uma forma de canalizar essas energias e de as partilhar com o público”, explicou à agência Lusa o musicoterapeuta Paulo Jacob, que fundou, orienta e integra Ligados às Máquinas.
A par dos 5.ª Punkada, esta é outra formação musical formada e ativa na APCC. Está direcionada para a eletrónica, até pela especificidade que implica: cada elemento tem um controlador personalizado ligado a um computador que permite a participação.
“Estamos a falar de pessoas que são utilizadoras de cadeiras de rodas e que têm alterações neuromotoras muito graves”. Há casos “em que o movimento é mínimo” e a ativação do sistema acontece “através da projeção labial, outras é um pequeno toque de cabeça”.
“A ideia é partir do movimento funcional, por mais pequeno que seja, e transformá-lo em algo que permita a participação musical”, acrescenta Paulo Jacob.
O efeito “é algo um bocadinho arrebatador”, até porque implica “muitos fios e tanta gente ligada à máquina”. Mas, sublinha, estar “ligado à máquina” é, aqui, bastante diferente do significado que existe no senso comum.
“É uma máquina libertadora e transformadora, no sentido mais positivo que possa haver”, porque, “pode dar asas a uma pessoa para que ela possa criar e participar”, afirmou.
A ideia para o disco “Amor Dimensional”, com edição Omnichord, nasceu há cerca de ano e meio. A produtora e editora desafiou Ligados às Máquinas para atuarem no festival Nascentes, em Leiria. “Trabalhámos quatro ou cinco temas e depois surgiu a ideia: porque não lançar um disco?”, recordou Paulo Jacob.
Para ultrapassar a questão dos direitos associados à utilização de ‘samples’, mais de 30 músicos nacionais cederam música, casos de Bruno Pernadas, First Breath After Coma, Joana Gama, Moullinex, Salvador Sobral, Samuel Úria, Selma Uamusse e até a Orquestra e Coro Gulbenkian.
A partir dessas faixas, o grupo de Coimbra criou o disco de estreia: “São nove temas que fazem uma espécie de alusão a um dia de um ser humano. Começa com o amanhecer e acaba com o ter de descansar, uma espécie de descanso do guerreiro, o dormir em direção ao sonho”.
O resultado é “bastante eclético”, com momentos que soam “a jazz, outras coisas mais ‘hardcore’”, mas também há “uma batida muito reminiscente do hip-hop” e até “música erudita”.
“Temos uma paleta bastante diversificada de cores”, salientou Paulo Jacob, reconhecendo que o disco está a mexer com o espírito do grupo.
“As pessoas notam que são acarinhadas, que o projeto é acarinhado, que é valorizado. É natural que isto acabe por ser transformador na vida deles. As pessoas começam a ter perspetivas de vida, começam a ter metas”, disse Jacob.
Ligados às Máquinas são Andreia Matos, Dora Martins, Fátima Pinho, Hélia Maia, Jorge Arromba, José Morgado, Luís Capela, Mariana Brás, Paulo Jacob, Pedro Falcão e Sérgio Felício.
“Ligados às Máquinas é de extrema importância para todos eles”, garante Paulo Jacob, que recentemente inquiriu os elementos para um trabalho. “Num dos casos, é de tal importância que, atualmente, se o grupo acabasse, essa pessoa não saberia o que fazer com a sua vida”.
O projeto da APCC abre “toda uma série de canais para a felicidade, para a participação individual, para a participação social e para a validação da pessoa com deficiência enquanto agente cultural”, conclui Paulo Jacob.
O disco “Amor Dimensional” é lançado no dia 6 de dezembro. O concerto de apresentação está previsto para o início de 2025.
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