Quando começou a reunir material para criar o sucessor de “Boa Hora”, editado em 2018, Luís Represas encontrou um ficheiro identificado com as letras LRRL, as suas iniciais e do músico brasileiro Ricardo Leão.
“Era esta canção [que dá nome ao álbum], ‘Miragem’. Há dez anos estava no Rio de Janeiro a trabalhar num álbum com ele [Ricardo Leão], e ele mostrou-me esta canção e perguntou se eu queria fazer a letra, que fiz quase ali, aproveitámos, gravámos logo e ficou uma maquete feita”, recordou Luís Represas em entrevista à Lusa.
Quando percebeu que o tema ainda não tinha sido divulgado, contactou Ricardo Leão para perceber se poderia incluí-lo no novo álbum. E assim foi.
Entretanto, o músico brasileiro esteve em Portugal, juntaram-se “e surgiu a ideia de ele se encarregar a produção do disco e arranjos, partilhados com o Ricardo Silveira”.
“Nessa altura eu já tinha bastante material feito, estava praticamente com o disco fechado”, contou Luís Represas.
Ao fim de 30 anos de carreira a solo, e mais quase vinte com os Trovante, Luís Represas adotou um novo processo na criação de “Miragem”.
“Fui trabalhando de uma forma como normalmente não trabalho, que era estar a trabalhar várias músicas ao mesmo tempo. De facto, neste disco tive uma metodologia nova para mim”, partilhou.
Entre os nove temas que compõem o álbum, há uma versão de “Meu erro”, de Os Paralamas do Sucesso, que Luís Represas gravou com Zélia Duncan para uma edição “exclusiva no Brasil”. A música chegou a ser anunciada para a banda sonora de uma telenovela da Globo, mas acabou por ficar de fora por questões burocráticas.
“Decidimos recuperá-la e gravá-la de novo”, disse.
Além de Zélia Duncan e Ricardo Leão, em “Miragem” Luís Represas volta a trabalhar, entre outros, com o letrista João Monge e o músico e compositor brasileiro Ivan Lins.
“Miragem”, explicou Luís Represas, “não é um disco conceptual, que tenha um tema ou um mote”.
“Mas pelas histórias que lá se contam, pelas histórias que lá se dizem e pelas imagens que de lá se podem extrair, é muito o caminho em direção à miragem”, disse.
Quando se fala numa miragem, é habitual pensar-se “no deserto, numa imagem ondulante de uma palmeira e de um oásis”.
“Quando chegamos lá acaba por ser um bocado de areia, mas, de facto, a miragem antes de lá chegarmos é real, senão não caminhávamos em direção a ela. O que é importante no meio disto tudo é o caminho, o trajeto. A consequência desse caminho nós não sabemos, só quando chegarmos lá é que sabemos o que se passa lá”, referiu.
Nos quase 50 anos de carreira que leva na música, Luís Represas aprendeu que o essencial é ter-se uma identidade.
“A minha impressão digital, aquilo que me faz ser eu e que me faz ser diferente dos outros é o fundamental. Isso é que é o meu barco, o meu barco é esse e é nesse barco que tenho que navegar. E que eu quero e que gosto de navegar”, afirmou.
Os concertos de apresentação de “Miragem” estão marcados para os dias 14 e 15 de março nos coliseus de Lisboa e Porto, respetivamente.
Além dos temas do novo álbum, o alinhamento dos espetáculos deverá incluir também músicas mais antigas como “Feiticeira” e “Da próxima vez”, da carreira de Represas a solo, ou “Perdidamente” e “Timor”, dos Trovante.
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