Luís Represas a ser ele próprio, como se espera, com um repertório recheado de sucessos, que nos manteria na sala por muito mais tempo. O tempo que fosse, só para o ouvir cantar.
Dono de uma voz inconfundível, traz na algibeira um punhado de êxitos, que o público conhece e canta de cor. Os novos temas, do seu mais recente álbum “Miragem” - o mote, aliás, para esta digressão -, são acolhidos com o enlevo que merecem. Em breve farão parte dos sucessos da vasta carreira do cantor e serão entoados, como os foram os temas de outrora, pelo cunho ímpar que Represas dá às suas canções.
A noite começa, de resto, pelo single “Miragem”, «o trunfo», como lhe chama Represas. Basta-lhe a guitarra e a voz para presentear o público com os primeiros versos da canção. A banda haveria de juntar-se a ele. Foi mais do que um trunfo, diga-se. Foi, a partir daí, que o cantor, ainda antes de começar, já tinha ganho “o jogo”, num espetáculo onde só havia um resultado possível: a vitória. Uma vitória partilhada, com uma energia quase palpável e um público fiel, que se faz presente, ao longo da noite, ao longo dos anos.
«Quem me quiser seguir / é só me acompanhar», canta o autor, neste magnífico novo tema. A plateia haveria de segui-lo, de ovacioná-lo e de acarinhá-lo, como só assim podia ser feito.
Seguem-se, no alinhamento, “A Hora do Lobo” (1998) e, num recuo que é sempre um passo em frente, “A Chave dos Sonhos” (1996). O concerto ficou marcado por estes avanços e retrocessos no tempo, num vai-vém de emoções, que só a música consegue aportar.
Represas confessa que voltar ao Porto «é uma emoção, com muitos momentos fantásticos que vivi nesta sala, como o de hoje». Um vaticínio que iria revestir cada tema, até à nota final, até ao fechar das cortinas: fantástico!
Seguimos “Fora do Tempo”, e voltamos a ter “apenas” Luís Represas e a sua guitarra, com “Um caso a mais” e “Aprendiz”. Sem artifícios, sem floreados e sem elementos cénicos que, em muitos casos, falam mais alto do que a música, a simplicidade daqueles momentos, está, na verdade, longe de ser simples. Ao alcance de poucos.
“Feiticeira” marca o regresso da banda e seguimos, entre o passado e o presente, a construir um futuro, que nos acompanhará por bem mais tempo do que apenas esta noite. É este o poder da música. É assim Luís Represas.
“Da boca ao coração”, uma música transatlântica, que passa a ser do mundo, sorvida em cada verso. Soa o piano e já a antecipação vibra em toda a sala, “Perdidamente”, numa interpretação magnífica e intemporal.
Voltamos ao álbum “Miragem” e ao “sem-abrigo do amor”. Descobrir os novos temas, numa combinação com os hinos que todos sabem de cor, revela-se uma verdadeira aventura por um desconhecido que se veste a nós e que se afirma como o único lugar onde poderíamos estar.
“Da próxima vez”, “Palanquista”, “Foi como foi”, “Balada das setes Saias”, “Fizeram os dias assim” são algumas das canções que se seguem, talvez não por esta ordem, mas no caos de emoções que se agigantam, o alinhamento é o que menos importa. Queremos “só” ouvi-lo cantar, uma e outra vez, com a ânsia dos novos temas e as recordações dos temas mais antigos. «Só mais uma», grita o público. Sim, Represas, só mais uma para poder estender tanto quanto possível este magnífico momento.
“Saudade”, “Memórias de um Beijo” e seguem as canções, até à inigualável “125 Azul”, para terminar, com chave de ouro, numa volta ao início, e o refrão de “Miragem”, a ecoar na sala.
A dada altura do concerto, Luís Represas confessou que nunca tinha atuado no Porto na Passagem de ano, algo que gostaria muito de fazer. O seu memorável repertório haveria de marcar uma noite única. A não ser possível, a noite de ontem foi, em contagem decrescente, um novo recomeço. Só a boa música é capaz de marcar assim o tempo.
Segue-se o Coliseu de Lisboa, já esta sexta-feira, 15 de março, e, certamente, muitas outras datas, para a (re)descoberta de muitos anos de canções.
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