"A Escola Veiga Beirão é a solução para a Academia de Amadores de Música", sugeriu Miguel Coelho, após acusar a Câmara de Lisboa de 'bullying' por anunciar como solução um edifício municipal na Rua Vítor Cordon, na zona do Chiado, que é em parte ocupado pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, mas que não foi consultada previamente.

O autarca de Santa Maria Maior falava na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, em que afirmou que o problema da Academia de Amadores de Música "não se resolve despejando a junta".

Com 140 anos de história, a Academia de Amadores de Música (AAM) funciona na Rua Nova da Trindade, no Chiado, mas terá de abandonar, "até ao final do mês de agosto deste ano", essas instalações por incapacidade para pagar a nova renda, que passou de 542 euros para 3.728, pondo em causa o ensino de música de 320 alunos e o emprego de 40 professores.

A situação da AAM foi levantada pela deputada do PCP Natacha Amaro, que apresentou uma recomendação dirigida à câmara para que, "com a máxima urgência e em articulação com Academia de Amadores de Música, envide todos esforços no sentido de dotar a Academia de um espaço adequado à continuidade da sua atividade em prol do ensino da música e da cultura na cidade de Lisboa".

A recomendação foi aprovada por maioria, com os votos contra de PSD, Aliança, CDS-PP e deputada não inscrita Margarida Penedo (que se desfiliou do CDS-PP).

Em representação da câmara, a vereadora Filipa Roseta (PSD) disse que a Direção Municipal do Património identificou como solução para a AAM o edifício na Rua Vítor Cordon, nº 20 e 22, "num edifício digno, num sítio digno, perfeitamente apto e preparado para receber a Academia".

No entanto, esse edifício é ocupado pela Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, que tem um espaço de arquivo, e pelo Organismo de Produção Artística (OPART).

Filipa Roseta disse que o OPART estava disponível para partilhar o espaço com a AAM e que a câmara estava "a tentar com a junta chegar a um acordo para retirar o arquivo para outro sítio".

Perante as declarações da vereadora, o presidente da junta denunciou "o autêntico 'bullying' que está a ser feito sobre a freguesia de Santa Maria Maior em relação à Academia", referindo que é a câmara que tem de resolver este problema e não a junta.

"A junta está ali há anos e precisa daquele edifício", afirmou Miguel Coelho, apontando como possível solução para acolher a AAM a Escola Veiga Beirão.

Em resposta, a vereadora disse que a câmara "não faz 'bullying' nenhum, a ideia é arranjar um acordo com a junta".

"Não havendo acordo, arranjaremos outra solução. Nunca será contra e nunca será um 'bullying' ao senhor presidente de junta", declarou a social-democrata Filipa Roseta, referindo que será procurada uma solução no património municipal.

Contestando a resposta, o socialista Miguel Coelho reforçou que a situação se tratou de 'bullying' porque houve um anúncio público de uma solução num edifício ocupado pela junta sem que tenha existido uma conversa prévia, um aviso ou uma auscultação.

O autarca de Santa Maria Maior reiterou ainda que a junta não pode sair deste edifício municipal, informação que já comunicou ao presidente da câmara, Carlos Moedas (PSD), indicando que estas instalações foram entregues no âmbito da reforma administrativa.

Em relação ao problema da AAM, que é conhecido desde pelo menos 2018, Miguel Coelho apontou como solução a Escola Veiga Beirão, que foi recuperada pela Parque Escolar e que está sem utilização há anos: "E sei que a Academia até gostaria de ir para ali".

Na semana passada, na reunião da Assembleia Municipal de Lisboa, o presidente da AAM, Pedro Barata, criticou a falta de envolvimento da Academia no processo para encontrar um novo espaço em Lisboa e afirmou que a solução proposta na Rua Vítor Cordon é, para já, "a única viável".

A este propósito, Pedro Barata disse que o tratamento que os presidentes da câmara e da junta estão a dar à situação da AAM reflete "um comportamento indigno e uma demonstração de falta de respeito" para uma instituição histórica da cidade de Lisboa.