A fadista Gisela João, com uma carreira de mais uma década, atua no Coliseu do Porto, no próximo dia 23 de janeiro, anunciou hoje a sua discográfica

O alinhamento do espetáculo terá como base o seu mais recente álbum, "Inquieta", além de "coisas que anda a fazer" e outras que ainda não revelou, disse a fadista à agência Lusa.

Em fevereiro último, Gisela João editou “Inquieta”, o seu quarto álbum, em defesa da liberdade, no qual revisitou o repertório de José Afonso (1929-1987), com temas como “Vejam Bem”, “A Morte Saiu à Rua”, “Que Amor Não me Engana”, "Os Bravos", "Balada de Outono", "Canção de Embalar", e também “E Depois do Adeus” (José Niza/José Calvário), de Paulo de Carvalho, a canção que serviu de primeira senha às tropas para desencadear o movimento de derrube da ditadura fascista, em 25 de Abril de 1974.

Em declarações à agência Lusa, antes da edição deste álbum, a fadista afirmou: “A minha intenção com este disco é maior que a data em si, é maior que isso tudo, é lembrar as pessoas que a nossa Liberdade", a liberdade "de cada um de nós", impõe "cuidar da Liberdade" que "é nossa e do nosso vizinho”, que a Liberdade "tem um impacto de forma direta na vida e na liberdade das outras pessoas."

Gisela João defendeu a necessidade de “uma luta constante” e de “uma defesa muito concreta da Liberdade que é um direito por nascença.”

“O direito de qualquer um que nasce à Liberdade, à Liberdade de se ser o que se quer ser, e de se ser quem se deseja e quem se sonha”, argumentou.

“Há ali [naquelas canções do álbum] – nem, sei explicar como – qualquer coisa que me faz sentir muito portuguesa, como no fado”, disse Gisela João à Lusa, acrescentando que, quando as ouve, parece que está a fazer um mantra consigo própria: “Uma cantilena em repetição que me vai acalmando a alma.”

Nascida em Barcelos, Gisela João deu-se a conhecer ao grande público em 2013 com o álbum homónimo no qual gravou, entre outras, uma nova versão de “A Casa da Mariquinhas” (Capicua/Alberto Janes), assim como do fado "Sou Tua" (Domingos Gonçalves da Costa/Casimiro Ramos), do repertório de Fernanda Maria, entre outras fadistas como Flora Silva e Anita Guerreiro, e ainda “Bailarico Saloio”, do Cancioneiro Popular.

Em 2023, passada a crise financeira e os cortes dos anos da 'troika', que inspiraram a sua primeira versão d’"A Casa da Mariquinhas", Gisela João regressou a este clássico com Capicua, para encontrar "O Hostel da Mariquinhas", desta vez em plena crise da habitação: "Só é pena o português não ganhar para o T3, e ter de mudar p’ra lá da Conchichina.”

Gisela João venceu alguns concursos infantis na região de Barcelos, onde começou a cantar na Adega Lusitana, já na adolescência. Em 2000, mudou-se para o Porto para estudar design de moda, mas a música levou a melhor e continuou a cantar.

Mais tarde, em Lisboa, conquistou, um a um, os palcos do fado, culminando na edição do seu primeiro álbum em nome próprio. Antes gravara com a banda Atlantihda, em que o fado, como música de expressão urbana, se conjugava com outra influências de raiz tradicional.

Pelo meio editou os álbuns "Nua" (2016) e "AuRora" (2021).

No início deste ano, quando da edição de "Inquieta", questionada sobre a responsabilidade de interpretar as canções de autores como José Afonso, a fadista disse que quando começa a cantar é como se não estivesse ali.

“O que está ali é o poema. E quem me dera poder levar as pessoas para o lugar para onde vou quando estou a cantar.”