Lucrecia Martel apresentou no domingo, no Festival de Veneza, o seu mais recente documentário, "Nuestra Tierra" ["A Nossa Terra"], sobre o assassinato do líder da comunidade indígena Chuschagasta, no norte da Argentina

Nesta 82ª edição da Mostra, 21 filmes concorrem ao Leão de Ouro, que será entregue no dia 6 de setembro por um júri presidido por Alexander Payne e que inclui a atriz brasileira Fernanda Torres, a atriz chinesa Zhao Tao, o cineasta francês Stéphane Brizé, a cineasta italiana Maura Delpero, o cineasta romeno Cristian Mungiu e o cineasta iraniano Mohammad Rasoulof.

"Nuestra Tierra", apresentado fora de competição, é uma das doze produções latino-americanas agendadas, a maioria nas secções Horizontes e Spotlight, dedicadas às novas tendências.

Partindo do julgamento dos suspeitos do assassinato de Javier Chocobar, ocorrido em Tucumán em 2009, a cineasta argentina Lucrecia Martel, a cineasta de "O Pântano", "A Rapariga Santa", "A Mulher sem Cabeça" e "Zama", traça um retrato da comunidade Chuschagasta, contando uma história muito mais ampla que aborda temas como a memória, a identidade e a justiça social.

Martel, que denunciou o "racismo" como "um problema muito profundo e um grande obstáculo na cultura argentina", explicou em conferência de imprensa no domingo que decidiu investigar para "tentar perceber as suas origens, o que permite a um ser humano sentir-se no direito de sacar de uma arma e disparar sobre as pessoas".

Recorrendo a uma infinidade de imagens de arquivo, a cineasta conta a história de pessoas comuns, daqueles homens e mulheres que um dia partiram para Buenos Aires para ganhar a vida, e também daqueles que ficaram para trás, daqueles que defendem a terra onde nasceram, dos seus antepassados.

Uma história não contada, amplamente ignorada nas escolas e pelos historiadores. Os livros falavam de "um país que tinha sido habitado por nativos americanos, mas raramente mencionavam que ainda o habitavam, que nós estávamos aqui", observou um dos entrevistados.

A realizadora argentina Lucrecia Martel (centro) posa com o elenco durante uma sessão fotográfica para "Nuestra Tierra" no Festival de Veneza a 31 de agosto de 2025

Martel encorajou firmemente os criadores a "assumirem riscos".

"É essencial que (...) continuemos a correr o risco histórico de tentar compreender os outros, e através dos outros, os nossos países e a nós próprios", afirmou, admitindo que pode ter "cometido erros" ao fazer o seu filme.

"A minha tranquilidade é que, se tudo o resto falhar, temos um arquivo do passado e daquilo que tinha em seu poder aquela comunidade de fotografias, que pode durar um pouco mais do que o arquivo de outras comunidades", observou a cineasta

Dos 12 filmes latino-americanos apresentados este ano, entre longas e curtas-metragens, metade foi realizada por mulheres, como a venezuelana Mariana Rondón e a peruana Marité Ugás ("Aún es de noche en Caracas"), ou a equatoriana Ana Cristina Barragán ("Hiedra").

Una historia no contada y en gran medida ignorada en las escuelas, por los historiadores. En los libros hablaban de "un país que había sido habitado por los indios, poco decían que aún la habitaban, que estábamos acá nosotros", señala uno de los entrevistados.

Con voz firme, Martel alentó a los creadores a "asumir riesgos".

"Es indispensable que (...) no dejemos de correr el riesgo histórico que es acercarse a tratar de entender a los otros y a través de los otros a nuestros países y a nosotros mismos", sostuvo, admitiendo que pudo "haber cometido errores" al hacer su película.

"La tranquilidad que tengo es que si todo falla, tenemos un archivo del pasado y de lo que tenía en su posesión esa comunidad de fotografías, que quizás vaya a durar un poco más de lo que probablemente [dure] el de otras comunidades", apuntó la directora.

De los de los 12 filmes con producción latinoamericana presentados este año, entre largometrajes y cortometrajes, la mitad estuvieron dirigidos por mujeres, como la venezolana Mariana Rondón y la peruana Marité Ugás ("Aún es de noche en Caracas"), o ecuatoriana Ana Cristina Barragán ("Hiedra").