
"No Other Land", codirigido por realizadores palestinianos e israelitas, que tinha exibição prevista para segunda-feira, em Haifa, documenta a ocupação da Cisjordânia por Israel, e abrange cinco anos de filmagens (2019-2023) na região de Masafer Yatta, onde habita o jornalista palestiniano Basel Adra, um dos autores do filme, mostrando as demolições recorrentes de habitações, escolas, poços de água e estradas, pelo exército de Telavive.
"Querem perceber quão difícil é a situação?", lê-se na mensagem na rede social X de Alon Lee Green, cofundador da organização não governamental israelita Standing Together, que promovia a exibição do filme. "A Universidade de Haifa, a instituição académica com maior mistura de judeus e árabes em Israel, acaba de nos informar que cancelou a exibição prevista do filme vencedor de um Óscar 'No Other Land'".
A Standing Together, que organizou esta e outras exibições de "No Other Land" em diferentes 'campus' de Israel, acrescenta que a Universidade de Haifa aguarda a aprovação do documentário pelo Conselho de Revisão de Filmes, do Ministério da Cultura e Desporto israelita.
Contactada pelo diário progressista Haaretz, a universidade reconheceu que as diretrizes do conselho só se aplicam a exibições comerciais, não educacionais. No entanto, "devido a dúvidas" sobre a necessidade de "permissão do Conselho de Revisão" para o filme, a universidade "solicitou uma decisão formal", não estando autorizada a projeção da obra, até que seja conhecida.
Organizações sionistas como a Im Tirtzu e a B'Tsalmo criticaram a exibição da obra em Haifa, considerando-a "extremista" e de "propaganda contra Israel".
Após a vitória de "No Other Land" nos Óscares, o ministro da Cultura israelita, Miki Zohar, pediu aos cinemas e instituições culturais do país que não exibissem o filme, acusando-o de "servir inimigos do Estado".
No passado dia 23 de março, um dos realizadores do filme, o palestiniano Hamdan Ballal, foi agredido por colonos israelitas na Cisjordânia, onde mora, e detido pelas forças de Israel, quando estava a ser socorrido numa ambulância, na sequência do ataque. Seria libertado dois dias mais tarde, depois de interrogado pelas forças de ocupação.
Na cerimónia dos Óscares, em 02 de março, em Los Angeles, o realizador israelita Yuval Abraham, coautor de "No Other Land", disse, no discurso de aceitação do prémio, que este filme tinha sido feito porque as vozes juntas de palestinianos e israelitas "são mais fortes".
Abraham apelou ao fim da "destruição atroz de Gaza e do seu povo", e à libertação dos reféns israelitas, "brutalmente capturados no crime de 07 de outubro [de 2023]", pelo Hamas.
"Quando olho para Basel [Adra]", correalizador palestiniano de "No Other Land", "vejo o meu irmão, mas somos desiguais", prosseguiu então Abraham. "Vivemos num regime em que sou livre ao abrigo da lei, e Basel está sujeito a leis militares que lhe destroem a vida e que ele não consegue controlar".
Abraham, na sua intervenção, apelou a "um caminho diferente, uma solução política, sem supremacia étnica, com direitos nacionais para ambos os povos", sublinhando que israelitas e palestinianos estão interligados.
"O meu povo pode estar realmente seguro se o povo de Basel [Adra] estiver realmente livre e em segurança", afirmou, insistindo "noutra forma" de resolver o conflito. "Não é tarde para a vida, para os vivos. Não há outro caminho", concluiu Abraham.
Basel Adra, por seu lado, disse esperar que a sua filha de dois meses, no futuro, não tenha de temer "a violência dos colonos, as demolições de casas e as deslocações forçadas" que a sua comunidade vive todos os dias sob a ocupação israelita.
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