“Providence”, do realizador francês Alain Resnais, é o filme que abre um ciclo de cinema dedicado a escritores, organizado pela Associação Portuguesa de Escritores (APE) e pela Cinemateca Portuguesa, com início no dia 17, em Lisboa.
“Escrever Filmar” é o tema deste ciclo, coordenado por Luís Machado, secretário-geral da APE, que “parte da centralidade do escritor enquanto personagem, e integra um conjunto de nove filmes de ficção que abordam esta temática”, anunciou hoje a associação, adiantando que todas as sessões decorrem na cinemateca.
“Providence”, filme franco-suíço de 1977, escrito por David Mercer, explora os processos de criatividade de um romancista com problemas de saúde, que imagina as cenas para o seu último romance.
A exibição deste filme conta com a apresentação do escritor José Manuel Mendes.
A 18 do mesmo mês, será exibido “Florbela”, de Vicente Alves do Ó, um drama biográfico de 2012, inspirado na vida da poetisa Florbela Espanca (1894-1930), numa sessão apresentada por Luís Machado e que inclui um recital de poesia dedicado à autora de "Charneca em Flor", com as atrizes Dalila do Carmo e Maria do Céu Guerra.
No dia seguinte, será exibido “Movimento em falso”, do cineasta alemão Wim Wenders, sobre a subtil distinção entre o bem e o mal, inspirado na obra de Goethe "Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister”, com adaptação de Peter Handke, autor austríaco, vencedor do Nobel da Literatura, em 2019.
Segue-se “O dia do desespero”, de Manoel Oliveira, que trata dos últimos anos de Camilo Castelo Branco, a partir de cartas do escritor, analisando os seus conflitos e dramas, a relação com Ana Plácido e a cegueira que conduziu ao seu suicídio.
“As faces de Harry”, comédia de Woody Allen, escrita pelo cineasta, a ser exibida no dia 21, centra-se num escritor de sucesso que é convidado para receber uma homenagem na mesma universidade que um dia o rejeitou.
No dia 25, a Cinemateca exibe “O escritor fantasma”, de Roman Polanski, com argumento adaptado do romance “The Ghost”, de Robert Harris, sobre um autor de sucesso que aceita concluir as memórias do ex-primeiro-ministro britânico Adam Long, iniciadas por um outro escritor que morreu acidentalmente.
“Malina”, filme de drama germano-austríaco de 1991, dirigido por Werner Schroeter, com argumento adaptado por Elfriede Jelinek do romance homónimo de Ingeborg Bachmann, de 1971, será exibido a 26, com apresentação do poeta e ensaísta José Manuel de Vasconcelos.
O penúltimo filme do ciclo é “Madame Bovary”, adaptação do clássico francês de Gustave Flaubert, por Vincente Minnelli, que será apresentado pelo realizador António-Pedro Vasconcelos.
“Escrever Filmar” termina no dia 29 com a exibição do filme “Vidas duplas”, com realização e argumento do francês Olivier Assayas, sobre um bem-sucedido editor parisiense com dificuldade em adaptar-se à revolução digital, que se confronta com grandes dúvidas quanto a um novo manuscrito de um dos seus autores de longa data.
A APE destaca que, “entre as inúmeras relações possíveis de estabelecer entre o cinema e a literatura, uma das mais evidentes é a frequente utilização da figura e do trabalho do escritor enquanto matéria-prima narrativa”.
“Abundância de personagens escritores – reais ou imaginários – na história do cinema daria certamente para alimentar vários ciclos dedicados ao mesmo tema”, considera a associação.
Este mês, a Cinemateca dedica também um ciclo a Deborah Kerr (1921-2007), intitulado “Até à eternidade”, no âmbito do centenário do nascimento da atriz escocesa, em que exibirá vários filmes por si protagonizados, como “O grande amor da minha vida”, de Leo McCarey, “O fim da aventura”, de Edward Dmytryk, “O compromisso”, de Elia Kazan, e “Bom dia tristeza”, de Otto Preminger.
Este será também o mês de encerrar os ciclos “Clássicos do cinema coreano" e “Mares da Europa”, este último concebido no contexto da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, e composto por uma cinematografia europeia variada, do cinema mudo ao contemporâneo, tendo como tema central o mar, e que envolve títulos como "A Terra Treme", de Luchino Visconti, "Filme Socialismo", de Jean-Luc Godard, "Gigantes em Fúria", de Raoul Walsh, "A Canção do Mar", de Tomm Moore, "La Pointe Courte", de Agnès Varda, "The Edge of the World", de Michael Powell, “O Navio dos Homens Perdidos”, de Maurice Tourneur (o último filme mudo de Marlene Dietrich), “Na Rebentação”, de Joris Ivens, "BAlaou", de Gonçalo Tocha, "A Almadraba Atuneira", de António Campos, "As Ilhas Encantadas", de Carlos Villardebó (com Amália Rodrigues), e "Um Filme Falado", de Manoel de Oliveira.
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