Este sábado, Wagner Moura ganhou o prémio de Melhor Ator no Festival de Cannes pelo filme "O Agente Secreto", de Kleber Mendonça Filho.

Aos 48 anos, ele é um dos rostos mais conhecidos do cinema brasileiro internacionalmente por causas das suas participações na série "Narcos" e em filmes como "Guerra Civil" e "Elysium".

Nascido em Salvador, começou no teatro, mas rapidamente foi para os ecrãs e participou em filmes como "Deus é Brasileiro" (2003), "Tropa de Elite 1 e 2" (2007-2010) e "Praia do Futuro" (2014).

O seu papel como capitão Nascimento em "Tropa de Elite", um sucesso mundial, catapultou-o para a cena internacional. O filme ganhou o Urso de Ouro do Festival de Berlim.

"Tropa de Elite"

Em 2013, entrou na super produção norte-americana "Elysium", ao lado de estrelas como Matt Damon e Jodie Foster.

E, dois anos depois, chegou "Narcos", sobre Pablo Escobar, uma das séries de maior sucesso da Netflix e um dos expoentes da recente fascinação do mundo do cinema com a figura do narcotraficante colombiano.

Wagner, sem saber se conquistaria o papel, mudou-se durante seis meses para Medellín para estudar o idioma e percorrer as suas ruas, em busca de captar a visão que ainda havia sobre o "El Patrón".

O intérprete, que foi nomeado para um Globo de Ouro pelo papel, considera que "o narcotráfico é uma realidade para todos os países latino-americanos" que merece ser contada.

"A série conta precisamente como começou, como envolveram-se nesta guerra antidrogas [com os EUA] e [como] tornaram-na uma guerra equivocada", disse numa entrevista à France-Presse.

Filmar em português

"Narcos"

Após o sucesso mundial da série, o ator procurou distanciar-se um pouco dos papéis latinos.

"Quero fazer filmes nos EUA que não reforcem os estereótipos latinos, especialmente depois de interpretar Escobar", comentou.

Desde então, participou em grandes produções, entre elas "Sergio" (2020), com Ana de Armas, e "Guerra Civil" (2024), com Kirsten Dunst.

Com "O Agente Secreto", de Kléber Mendonça Filho, voltou a filmar no Brasil, onde não trabalhava como ator desde 2012.

"'Narcos' é seguramente a obra mais contundente que fiz", afirmou esta semana em Cannes. "Foi uma aventura totalmente extraordinária", mas "realmente precisava voltar ao Brasil, filmar em português".

A série "durou três anos, depois houve a pandemia, e depois o governo fascista que chegou ao poder destruiu todas as possibilidades de fazer um filme", prosseguiu, referindo-se a Jair Bolsonaro.

"O Agente Secreto"

Em "O Agente Secreto", Moura dá vida a um professor que volta ao Recife para se juntar com o seu filho, sem saber que o seu passado, onde enfrentou a corrupção, o colocará em perigo.

"A personagem que interpreto quer viver apenas com os valores que o representam. É terrível que, nos momentos distópicos, prender-se aos seus valores de dignidade seja perigoso", disse em Cannes.

O filme ganhou ainda o prémio de Melhor Realização para Kleber Mendonça Filho.

"É um grande ator e espero que 'O Agente Secreto' lhe traga muitas coisas boas", declarou o realizador quando recebeu o prémio em nome do seu protagonista.

Algum tempo mais tarde, regressou pela segunda vez para falar.

"Estava a beber champanhe pelo prémio do Wagner Moura", declarou Mendonça Filho, um pouco surpreendido.

"O meu país, o Brasil, é um país cheio de beleza e poesia. Estou muito orgulhoso de estar aqui esta noite. Penso que Cannes é simplesmente a catedral do cinema neste planeta", acrescentou o cineasta, que misturou português, francês e inglês no discurso.

A longa-metragem, que será distribuída em Portugal pela Nitrato Filmes, com data de estreia para breve, já conquistara um prémio fora da competição oficial, considerado o melhor do festival pelo júri da crítica da Fipresci (Federação Internacional de Críticos de Cinema).