A agência Portugal Film, focada na internacionalização do cinema português, admite dar “um empurrãozinho” aos filmes nacionais, trabalho facilitado pelos prémios ganhos nos últimos anos que têm captado cada vez mais o interesse além-fronteiras.
“O nosso trabalho está facilitado com as palmas, os Ursos [de Ouro, em Berlim], os Leões [de Ouro, em Veneza] e essa bicharada toda, há um interesse crescente pelo cinema português. As pessoas acham que se estão a fazer coisas interessantes em Portugal e querem ver. Algo que se calhar há uns anos era muito difícil porque era quase uma coisa de nicho, de dois autores. Não havia uma grande curiosidade para ver novos realizadores, ficávamos sempre pelo Manoel de Oliveira e Pedro Costa”, sublinha Margarida Moz, uma das diretoras da Portugal Film.
A agência, que começou a dar os primeiros passos em 2014, está este ano no Festival de Cinema de Berlim com a curta-metragem de Jorge Jácome “Past Perfect”, que já tinha “mais de meia dúzia de festivais confirmados, mesmo antes de [se] estrear”.
“Somos sobretudo distribuidores, os filmes chegam-nos numa fase de pós-produção e nós tentamos perceber que percurso podem ter nos festivais internacionais e depois, posteriormente, em vendas”, explica Margarida Moz em declarações à Lusa.
O exemplo de "Colo"
A Portugal Film representa, nesta altura, alguns filmes em coprodução, mas apenas produções portuguesas que não têm distribuidoras internacionais.
“O que nos propusemos desde o início foi acompanhar de perto o trabalho dos realizadores, potenciando encontros com produtores internacionais, com outros distribuidores, para que depois possam crescer e ter mais financiamento, não só em Portugal. Damos uma espécie de ‘empurrãozinho’”, revela.
“Às vezes somos engolidos pelas distribuidoras maiores. Por exemplo, o ‘Colo’ da Teresa Villaverde, que esteve em competição há dois anos, e foi trabalhado por nós, quando chegou a Berlim, foi captado por uma grande distribuidora, com uma enorme carteira de clientes. Conseguimos estabelecer um acordo com eles, nós fazemos os festivais, eles fazem as vendas, tentamos não ficar excluídos do processo. Mas obviamente não temos uma dimensão que nos permita dispensar uma distribuidora internacional dessas”, confessa Margarida Moz.
A diretora da Portugal Film admite que o interesse pelo cinema português tem vindo a crescer graças a uma nova geração de realizadores, como João Pedro Rodrigues ou Miguel Gomes, entre outros.
“A responsabilidade também é maior porque quase todos os jovens realizadores nacionais acham, ou têm a esperança, de levar um Urso ou de vir para Berlim, mas é impossível ter os filmes todos premiados. A maior parte dos festivais não pode fazer uma programação só de filmes portugueses na competição internacional e ficam muitos de fora, o que também é difícil de gerir”, ressalva Margarida Moz.
“Nós tentamos ser uma espécie de ‘matchmakers’ [casamenteiros], ou seja, pensamos: este filme tem o perfil de que festival? Em vez de estar a jogar as fichas todas no mesmo festival ou mandar os filmes todos para o mesmo, tentamos perceber onde é que eles se adequam melhor. No ano passado tivemos um filme em Berlim, em Cannes, em Locarno, e vamos conseguindo estrear em cada festival importante”, destaca aquela responsável.
A cerimónia de entrega dos Ursos de Ouro, os prémios do Festival de Cinema de Berlim, decorre este sábado com “Past Perfect” de Jorge Jácome na corrida na secção de curtas-metragens.
A 69.ª edição da Berlinale termina no domingo.
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