(Atualizada às 15h30)

A atriz espanhola Marisa Paredes, com uma carreira longa e aclamada, que incluiu vários filmes com o cineasta Pedro Almodóvar, morreu aos 78 anos, informou esta terça-feira a Academia Espanhola de Cinema.

"O cinema espanhol fica sem uma das suas atrizes mais icónicas, Marisa Paredes, que deixa para trás uma longa carreira na qual o público pôde vê-la mais de 75 vezes no grande ecrã", afirmou a Academia Espanhola de Cinema na sua conta na rede social X (antigo Twitter).

Com uma trajetória prolífica construída desde a sua estreia aos 14 anos, Paredes foi uma das grandes atrizes da Espanha, onde chegou a presidir à Academia de Cinema entre 2000 e 2003.

A sua carreira alcançou uma nova dimensão após a sua primeira colaboração, em 1983, com o realizador Pedro Almodóvar, com quem estabeleceria uma grande parceria a partir da sua participação em "Negros Hábitos".

Ficando conhecida como 'chica Almodóvar', os dois trabalharam juntos em "Saltos Altos" (1991), "A Flor do meu Segredo" (1995), "Tudo Sobre a Minha Mãe" (1999), "Fala com Ela" (2002) e "A Pele Onde Eu Vivo" (2011).

Em declarações à televisão pública RTVE, Almodóvar reagiu dizendo estar a viver "um sonho mau".

"É como se acordasse de um sonho mau, mas ainda continua a ser um sonho mau. Percebo que tenho dificuldade em assimilar que a Marisa morreu", afirmou o cineasta de 75 anos.

"Minha querida Marisa... Deixas-nos cedo demais. Amo-te", escreveu no Instagram Penélope Cruz, outra 'chica' Almodóvar.

Premiada com o Goya pelo conjunto da sua carreira em 2018, Marisa Paredes também participou de produções internacionais como "A Vida é Bela" (1998), do italiano Roberto Benigni, ou "Nas Costas do Diabo" (2001), do mexicano Guillermo del Toro.

O seu colega e compatriota Antonio Banderas chorou a perda de "uma grande dama da interpretação".

"Querida amiga, deixaste-nos cedo demais", escreveu Banderas na rede X.

O chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, disse estar "desolado" e saudou "uma das atrizes mais importantes que nosso país já teve", escreveu no X.

"A sua presença no cinema e no teatro e o seu compromisso com a democracia serão um exemplo para as gerações posteriores", acrescentou sobre a trajetória da artista, muito envolvida em causas progressistas.

Confiança absoluta

"Tudo Sobre a Minha Mãe" (1999)

Nascida em 1946 na Madrid pós-guerra civil, a quarta filha de uma família humilde conseguiu convencer os seus pais a deixá-la ser atriz depois de passar muitas horas nos teatros para observar os atores e esperar por uma oportunidade.

"A minha vocação nasce comigo (...) mas teve muito a ver com o bairro onde morava", explicou numa entrevista na Academia Espanhola de Cinema, em referência à infância numa praça central de Madrid, próxima de um teatro.

"Marisa depositou absoluta confiança em mim e deu-me tudo", declarou Almodóvar numa entrevista ao jornal francês Libération em 1995 a propósito de "Negros Hábitos".

"Obrigado, Pedro Almodóvar, a minha vida, a minha carreira e tudo ganhou uma dimensão extraordinária", reiterou por sua vez a atriz há alguns meses numa entrevista para a televisão espanhola.

A carreira da atriz não se limitou, no entanto, à parceria com Almodóvar. Ela também trabalhou com realizadores como Agustí Villaronga e Arturo Ripstein.

"Sempre deram-me personagens especiais", explicou Paredes ao jornal El País, em fevereiro.

"Tive a sorte de que, como não tenho aparência espanhola (...), quando a televisão era culta e passava teatro, fazia todos os dramas de Tchekhov, de Dostoiévski, de Ibsen. Era a alma russa. O grande drama", acrescentou.

Do seu casamento com o cineasta Antonio Isasi-Isasmendi nasceu a sua filha, a também atriz María Isasi.

Além da sua prolífica carreira artística, Paredes nunca escondeu a sua ideologia progressista e feminista, com envolvimento em diversas causas. Era ela que presidia à Academia de Cinema durante a cerimónia dos Goya de 2003, marcada por protestos contra o apoio da Espanha à guerra no Iraque.

"Isso tem a ver com o sentimento de classe", explicou em conversa com a Academia de Cinema espanhola. "Era isso de dizer para a minha mãe, 'Por que não tenho a [boneca] Mariquita Pérez?' Porque somos pobres (...) 'E por que somos pobres?' Porque isso herda-se", lembrou.