O escritor, realizador francês Jean-Claude Carrière, que trabalhou com Luis Buñuel, Jacques Deray e Milos Forman, entre outros, faleceu esta segunda-feira (8) aos 89 anos, anunciou a sua filha à agência AFP.
O escritor, que não sofria de nenhuma doença em particular, morreu "durante o sono" na sua casa parisiense, disse Kiara Carrière.
"Uma homenagem" ser-lhe-á em breve prestada em Paris e ele deverá ser enterrado na sua aldeia natal, Colombières-sur-Orb, na região de Hérault, no sul de França, disse também a filha.
Carrière, que se definiu como um "narrador", escreveu cerca de 60 argumentos que se destacam pela qualidade e fidelidade literária, e 80 livros, entre contos, ensaios, traduções, ficção, argumentos e entrevistas.
Também foi ator (por exemplo em "Cópia Certificada", de 2010, realizado por Abbas Kiarostami), dramaturgo e escreveu letras para Juliette Gréco, Brigitte Bardot e Jeanne Moreau.
Jean-Claude Carrière centrou a sua vida em "encontros, amizades e mestres de vida", como o Dalai Lama, com quem escreveu um livro, e o cineasta espanhol Luis Buñuel (1900-1983), com quem colaborou durante 19 anos, até à sua morte.
Este expoente do surrealismo francês começou a sua colaboração com o cineasta espanhol como argumentista do filme "Diário de Uma Criada de Quarto" (1964) e continuou com outros títulos como "A Bela de Dia" (1967), "A Via Láctea" (1969), "O Charme Discreto da Burguesia" (1972), "O Fantasma da Liberdade" (1974), "A Mulher das Botas Vermelhas" (1974) e "Este Obscuro Objecto do Desejo" (1977).
Outra colaboração fiel até à morte do realizador foi com Jacques Deray (1929-2003), em "A Piscina" (1969), "Borsalino" (1970), "Um Raio de Sol na Água Fria" (1971), "Mosca em Teia de Aranha" (1972), "O Gang" (1977), "Testemunha na Ratoeira" (1978) e os telefilmes "Les secrets de la princesse de Cadignan" (1982), "Credo" (1983), "Une femme explosive" (1996), "Clarissa" (1998), e "Lettre d'une inconnue" (2002).
Outros realizadores importantes foram Milos Forman ("Os Amores de Uma Adolescente", 1971; "Valmont", 1988; "Os Fantasmas de Goya", 2006), Volker Schlöndorff ("O Tambor", 1979; "A Paixão de Swann", 1984; "O Ogre", 1996; "Ulzhan", 2007) e Andrzej Wajda ("O Caso Danton", 1983; "Os Possessos", 1988).
Sozinho ou em co-autoria, escreveu ainda argumentos para filmes como "O Grande Amor" (1969, Pierre Étaix), "Liza, a Submissa" (1972, Marco Ferreri), "O Fantasma da Liberdade" (1974), "A Rapariga da Orquídea" (1975, Patrice Chéreau), "Salve-se Quem Puder", 1980, Jean-Luc Godard), "Le Retour de Martin Guerre" (1982, Daniel Vigne), "Max, Meu Amor" (1986, Nagisa Oshima), "Cyrano de Bergerac" (1990, Jean-Paul Rappeneau), "O Hussardo no Telhado" (1995, Jean-Paul Rappeneau), "Birth - O Mistério" (2004, Jonathan Glazer), "O Amante de Um Dia" (2017, Philippe Garrel) ou "À Porta da Eternidade" (2018, Julian Schnabel).
Jean-Claude Carrière ganhou um Óscar com Pierre Étaix, mas na categoria de Melhor Curta-metragem, com "Heureux anniversaire" (1962).
Foi nomeado para as estatuetas pelos argumentos para filmes de Buñuel, "O Charme Discreto da Burguesia" e "Este Obscuro Objecto do Desejo" (77), e ainda "A Insustentável Leveza do Ser" (1988), de Philip Kaufman. Em 2014, recebeu o prémio honorário da Academia.
Um bibliófilo, apaixonado pelo desenho, astrofísica e vinho, fã da arte marcial Tai-Chi-Chuan, Jean-Claude Carrière foi sempre muito activo apesar da idade.
Em 2018, escreveu um último ensaio, "La vallée du néant" [O Vale do Nada], e em 2020 co-assinou o argumento do filme "O Sal das Lágrimas", de Philippe Garrel.
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