“Sing Sing”, que chega hoje às salas portuguesas de cinema, retrata uma realidade pouco conhecida nas prisões norte-americanas, mostrando a reabilitação pelas artes numa história inspirada em factos verídicos.

Realizado por Greg Kwedar, o filme de baixo orçamento (cerca de dois milhões de dólares) está na corrida aos Óscares, com o protagonista Colman Domingo nomeado para Melhor Ator, e competindo na categoria de Melhor Argumento Adaptado.

Veja aqui a lista completa de nomeados aos Óscares 2025
Veja aqui a lista completa de nomeados aos Óscares 2025
Ver artigo

Colman Domingo colaborou no desenvolvimento do guião com Greg Kwedar, Clint Bentley, John Whitfield e Clarence Maclin, que esteve encarcerado 15 anos na prisão Sing Sing por roubo e interpretou-se a si próprio no filme.

“A informação que me deram foi um artigo que detalhava o programa Reabilitação pelas Artes e a dádiva que foi para os presos que usaram a arte e o teatro”, disse Colman Domingo, numa exibição especial do filme em Los Angeles. “Mudou as suas vidas e funcionou. O artigo falava de 3% de reincidência entre eles, contra 60% na média nacional”.

Domingo interpreta uma versão ficcional de John “Divine G” Whitfield, um dos presos da vida real em Sing Sing que fundou o programa Reabilitação pelas Artes e ganhou múltiplos prémios de escrita atrás das grades.

“Pensei: 'Uau, isto é incrível!' Todos ouvimos histórias muito limitadas sobre pessoas presas e eu nunca tinha esbarrado numa história assim”, disse Colman Domingo.

O ator tinha acabado de filmar “Rustin” e preparava-se para embarcar no ‘remake’ de “A Cor Púrpura” quando o guião ficou pronto – tinha sido uma jornada de oito anos e meio para Greg Kwedan, com vários anos em busca do tom certo.

Colman Domingo achou que não tinha tempo, mas Clarence Maclin convenceu-o e “Sing Sing” foi filmado em apenas 18 dias. Agora, pode valer dois Óscares.

“O programa Reabilitação pelas Artes não está desenhado para criar atores, mas para fazer melhores seres humanos”, disse Maclin, que é um dos nomeados na categoria de Melhor Argumento Adaptado.

“Em todas as prisões há um segmento de pessoas que querem genuinamente mudar as suas vidas e voltar para casa e serem melhores”, continuou. “Mas raramente vemos esse lado da prisão, porque eles focam-se na violência dos prisioneiros ou na corrupção dos guardas prisionais”.

Maclin disse que “ninguém vê filmes de prisão na prisão”, porque não reconhecem neles a sua realidade. E considerou que “Sing Sing” nem é um filme de prisão, é uma “história humana sobre crescer e ser responsável, estar em comunidade”.

Além de ter realmente ex-presos numa grande porção do elenco, o filme também foi feito com um modelo diferente, de partilha de receitas. Todos os que trabalharam nele (92 pessoas) têm uma participação nos lucros.

Greg Kwedar explicou que a ideia para “Sing Sing” surgiu quando produziu um documentário em curta-metragem numa prisão no Kansas e descobriu um preso que estava a cuidar de um cão resgatado das ruas. “Isso mudou a expectativa que eu tinha da prisão, muito baseada nos filmes que cresci a ver, na produção da nossa própria indústria”, admitiu.

Nessa noite, encontrou o programa Reabilitação pelas Artes nas suas pesquisas e descobriu que, em 2005, tinham encenado um musical que viajava no tempo e incluía comédia, uma justaposição inesperada no cenário da prisão. Foi essa a história que chegou ao filme, com o verdadeiro “Divine G” a participar no desenvolvimento do guião.

“Sing Sing” já ganhou algumas distinções na temporada de prémios, incluindo Melhor Ator para Colman Domingo, nos Satellite Awards e Gotham Awards, e Melhor Elenco, nos Boston Society of Film Critics Awards, além de dezenas de nomeações.

O filme compete em cinco categorias nos Critics Choice Awards, que serão entregues em Los Angeles a 7 de fevereiro. A 2 de março, será a vez dos prémios da Academia, cuja cerimónia está marcada para o Dolby Theatre em Hollywood.

"Sing Sing" fez parte da programação da mais recente edição do Lisboa Film Festival (Leffest), realizada no passado mês de novembro, na capital portuguesa.

TRAILER.