Um retrato dos costumes brasileiros, da música, do modo de falar, da culinária, da geografia e do quotidiano do país entrou pela televisão nas casas de portugueses, mas também de outros europeus, de africanos, asiáticos e latino-americanos.
"Ao exportarmos a nossa novela, levamos a outro país não apenas as tramas, as personagens, mas, em particular, todo o entorno social", afirmou à Lusa Mauro Alencar, professor em teledramaturgia e membro da Academia Internacional de Artes e Ciências da Televisão de Nova Iorque (EMMY).
Alencar citou como exemplos a abertura de "O Bem-Amado", com o centro de Salvador e a trilha sonora de Vinícius de Moraes e Toquinho, e "Gabriela" (1975), cuja abertura mostrava as gravuras de Aldemir Martins e a história tinha pratos da culinária da Bahia.
Desde 1973, a emissora fundada por Roberto Marinho exportou cerca de 130 títulos para mais de 170 países (incluindo Portugal, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau), entre telenovelas, séries, documentários e especiais, segundo a organização.
A realidade na ficção
A exportação de telenovelas para países deu-se, segundo Alencar, porque as produções conseguiram "interagir com o fator psicossocial" e "construir uma identidade nacional", além de haver um interesse internacional pela cultura do país e de as produções terem qualidade.
As produções também influenciaram nas discussões sociais colocadas no país, segundo o professor em teledramaturgia. "A novela passou a legitimar os assuntos mais candentes, e os temas abordados passaram a influenciar e a movimentar a realidade social", disse.
Como exemplo, estão os debates sobre o tema do tráfico humano colocados em pauta após a telenovela "Salve Jorge" (2012/2013, distribuída como "A Guerreira" em Portugal).
A emissora avalia que houve uma "evolução positiva" de seus negócios internacionais, desde a exportação de telenovelas, às quais depois foram somados documentários, séries, minisséries, programas e filmes. Em 1999, foram lançados os canais internacionais da Globo, com foco nos brasileiros que moravam no exterior.
"Além de entreter, a Globo ajuda a resgatar as raízes que ficaram no Brasil e promover a língua portuguesa", afirmou a Comunicação Globo, realçando que, atualmente, sua programação chega a 2,2 milhões ao redor do mundo.
Atualmente, a emissora também produz telenovelas em conjunto com emissoras internacionais, como a SIC, de Portugal, cuja parceria resultou na produção de "Laços de Sangue" (2010), "Dancing Days" (2012) e a atual "Mar Salgado" (2014).
Neste ano, secundo a emissora, a SIC adquiriu as séries "Dupla Identidade", "Amores Roubados" e "O Caçador", do catálogo de 2015, e "O Canto da Sereia", de 2014. A STV, de Moçambique, adquiriu os direitos das telenovelas "Amor à Vida" e "Sangue Bom".
@Lusa
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