A Netflix chegou a Portugal em outubro de 2015 e está no caminho certo para atingir o objetivo de 30% do mercado em sete anos, revelou Yann Lafarge. O diretor de tecnologia e de comunicação para a Europa, Médio Oriente e África (EMEA) visitou Portugal e conversou com o SAPO Mag sobre o futuro do serviço de streaming.

"Nos últimos três anos, desde que chegámos a Portugal, estamos a ir bem", frisa. Apesar de não revelar os números dos subscritores, Lafarge acrescenta ainda que as equipas estão a crescer, o que significa que o negócio está a crescer.

Desde 2015, a oferta da Netflix tem aumentado em todo o mundo e Portugal não é excepção. "Temos uma lista que está sempre em atualização: todos os dias mudamos coisas. Adicionamos conteúdos, outros conteúdos saem. Mas o que posso dizer é que o catalogo da Netflix é cinco vezes maior agora do que era há quatro anos", explica Yann Lafarge, acrescentando que as preferências dos subscritores são analisadas regularmente.

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"Aumentámos muito a oferta e o que temos verificado é que quando alguém subscreve a Netflix, não perdemos depois esse consumidor. É um bom sinal, significa que a oferta, o catálogo, é bom e que as pessoas apreciam o conteúdo que temos", sublinhou em conversa com o SAPO Mag, lembrando ainda que o serviço de streaming tem feito várias parcerias para chegar a mais públicos.

"Estamos a tentar encontrar parceiros locais e fizemos recentemente um acordo com a Altice (...) O mercado tradicional de televisão poderia ver a Netflix como 'um inimigo'. Mas podemos ser bons parceiros. O acordo com a Altice, em novembro de 2017, e que chegou a Portugal, faz todo o sentido. Torna o acesso fácil à Netflix e a experiência é excelente porque está integrada na box", defende.

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A criação de conteúdo é a grande aposta da Netflix para este ano - segundo o responsável da empresa, o orçamento de 2018 é de cerca de oito mil milhões de dólares (cerca de sete mil milhões de euros, à taxa de câmbio atual) e destina-se à "criação de conteúdo original, parceria e licenças".

"Este ano vamos criar centenas de conteúdos, desde séries de stand up comedy, filmes, séries... É um leque muito grande de conteúdos de entretenimento e para toda a família. Não somos uma marca como a HBO, que cria conteúdo incrível mas sempre dentro do mesmo género, o drama. Têm uma assinatura e nós não temos. Não é algo mau, para nós é bom porque não queremos ter apenas um tipo de conteúdo. Queremos criar as melhores séries de anime, os melhores filmes de Hollywood, os melhores espetáculos de stand up. Queremos ter algo para toda a gente: para ti, para as crianças, para as avós de 80 anos que vivem em Tóquio. Queremos coisas para toda a gente numa família", frisou ao SAPO Mag.

"Não estamos a fazer nenhum conteúdo em Portugal"

A produção local é também um dos focos da Netflix. "Queremos criar conteúdo local porque as boas histórias podem vir de qualquer lugar", defende Lafarge. "Estamos a filmar na Europa em 16 países, é muito. Da Noruega à Itália, passando pela Polónia, Turquia, França e por aí fora. Não estamos a fazer nenhum conteúdo em Portugal neste momento, mas isso não é o importante. Não dizemos temos de fazer conteúdo original em Itália ou em França. Não é assim que funciona. Procurámos boas histórias que nos levem a viajar. Não interessa de onde são as histórias. O importante é que acreditamos naquela história e que vai ser um sucesso", conta.

Ao SAPO Mag, o diretor de tecnologia e de comunicação para a Europa, Médio Oriente e África assinala ainda que a Netflix fechou um acordo com os criadores da série alemã "Dark", que levará à criação de novas produções europeias. Yann Lafarge lembrou ainda que o serviço de streaming assinou uma parceria com a produtora Shondaland, de Shonda Rhimes ("Anatomia de Grey", "Scandal" e "Como Defender um Assassino").

A Netflix, o maior serviço mundial de entretenimento pela internet, e a Shondaland anunciaram o primeiro conjunto de séries a ser desenvolvidas por Shonda Rhimes, Betsy Beers e a sua equipa e que irão estrear em exclusivo para membros da Netflix em todo o mundo.

O sucesso "La Casa de Papel"

Dar visibilidade a boas histórias locais também pode ser um caminho para a Netflix. "La Casa de Papel" é um desses exemplos - a série espanhola da Antena 3 tornou-se num fenómeno de popularidade depois de chegar ao serviço de streaming.

"Com 'La Casa de Papel', reestruturámos um pouco para criámos uma história mais dinâmica e mais interessante para os espectadores. O ponto interessante é que os números em Espanha foram ok, bons mas nada de especial. Quando chegou à Netflix, chegou a centenas de países e tornou-se num sucesso mundial. Não é conteúdo em inglês e é incrível: há pessoas, na Arábia Saudita, a encher estádios e a cantar Bella Ciao'. É um fenómeno global", frisa.

Ao SAPO Mag, Yann Lafarge explica ainda que, na Netflix, a duração dos episódios não é um factor importante. "Na televisão, os episódios precisam de ter 40, 50 minutos por causa da publicidade. Na Netflix, não. Por exemplo, em 'The OA', há episódios com 45 minutos e outros com uma hora e 15 minutos. Não nos interessa a duração. Depende do arco narrativo", sublinha.

E a forma de consumo de séries como "La Casa de Papel", "The OA", "Dark", "Narcos" ou "Stranger Things" pode ser muito variada.  "Um utilizador da Netflix usa, em média, entre três a cinco dispositivos diferentes - começam a ver na televisão, à noite continuam na tablet e de manhã continuam a ver no smartphone quando estão no comboio ou no autocarro ou ver à hora de almoço no computador", revela, acrescentando que "a Netflix não pretende criar conteúdos diferentes para dispositivos diferentes".

"Queremos dar sempre melhor experiência. O dispositivos não interessam, queremos criar sempre o melhor conteúdo", frisa, lembrando que "a maioria das pessoas vê Netflix na televisão". "Os grandes ecrãs são os preferidos dos utilizadores. Mas há cada vez mais pessoas a verem os conteúdos no telemóvel. Mas são cinco, dez, quinze minutos. Por exemplo, se estão a ver 'Narcos', vão ver na TV ou no computador. No telemóvel, as pessoas gostam de ver stand up comedy porque o som e a qualidade de imagem não é tão fundamental", explica.

E o futuro da televisão tradicional?

"A televisão linear como conhecemos agora vai desaparecer. Mas não quer dizer que os canais vão desaparecer, não estou a dizer que irá existir apenas Netflix, Hulu ou Amazon. Não é isso. O que quero dizer é que a televisão tradicional vai transformar-se e passar a ser on demand e na internet", defende.

Para Yann Lafarge, "os espaços informativos, os talk shows ou os programas desporto em direto vão continuar a ser a mesma coisa". "Funcionam bem. O resto do conteúdo, como documentários, filmes ou séries, é que vai mudar", acrescenta.

"Os canais vão transformar-se para estarem mais acessíveis. Vão criar aplicações próprias para disponibilizaram o canal na televisão e no telemóvel. (...) Vai levar o seu tempo, talvez 10 ou 15 anos. Depende do mercado. E ninguém terá o monopólio de criação de boas histórias, o que é fantástico para os consumidores", frisa.