O Misty Fest 2013 junta toda uma panóplia de artistas de 1 a 23 de novembro, contando com diferentes cenários como o Centro Cultural de Belém, o TMN ao Vivo, ou mesmo o clássico cinema São Jorge. Contudo, para além de existirem diversos artistas em diversos dias, também existem aqueles que se juntam em misturas algo caricatas, como foi o caso de Samuel Úria e os Cindy Kat a que assistimos, numa rodagem de cenários que passou de intimista a futurista num abrir e piscar de olho.

Samuel Úria, o solitário natural de Tondela, foi o primeiro a pisar o palco da sala do Cinema São Jorge, tendo começado de uma forma bastante reservada que nos levaria a um sentimento de surpresa com o surgimento da sua faceta de comediante. "O meu nome é Samuel Úria. Provavelmente o nome mais estranho que vão ouvir esta noite, a menos que achem que Cindy Kat é um nome!", foi o primeiro dos diversos comentários humorísticos do cantor em palco.

"Essa Voz" foi uma das muitas faixas que o cantor nos apresentou em concerto, ao mesmo tempo que as guitarras circulavam entre o chão e as suas mãos, numa troca frenética de instrumentos que eram afinados à medida que eram selecionados, levando aos constantes zumbidos e desafinações das cordas que vibravam incessantemente nas mãos do artista. E depois, como se tal não bastasse, ficava ainda a pairar no ar uma incerteza quanto ao facto dos vibratos do mesmo serem apenas guinchos, ou meros deslizes intencionais, fruto do excentricismo de Samuel Úria.

Todavia, não tardaria até o cantor se recompor e nos brindar com mais um sucesso, mais uma faixa, ou simplesmente mais uma piada, como o falso sentimento de tristeza que o artista afirmou ter pela perda da sua mulher, quando, na verdade, se referia à companheira de Eric Clapton, Pattie Boyd.

Em desabafo, Samuel afirmou ainda que era um orgulho poder estar a abrir para amigos, e que esta seria a terceira vez que tocava naquela mesma sala, agora com um toque especial de limitação ao tempo: "Quando me deixam sozinho as coisas ganham proporções catastróficas!", confessou o cantor, que tendia a não se conter nos comentários.

No fim, um pedido de colaboração do público, onde a opção das "palminhas" foi posta de lado e Samuel optou por um coro bem ensaiado de "teimoso que nem um moleque". O motivo da recusa das palmas? Uma experiência traumática do cantor durante um programa de televisão, quando não conseguiu desativar o bater das palmas da plateia idosa.

Depois, seguidos de uma pausa para alteração do cenário, os Cindy Kat subiram ao palco para aquele que deveria ser o concerto mais aguardado da noite, mas que se veio a revelar no maior desgosto da mesma. Com um cenário completamente futurista, a banda formada por alguns dos membros da antiga banda Sétima Legião, o grupo deitou tudo ou quase tudo a perder com o volume excessivo que era emitido, dando origem a um completo ruído em que a voz do vocalista era pouco perceptível para a plateia que assistia.

Ainda assim, a banda conseguiu voltar a destruir expectativas com erros durante as músicas, onde uma delas teve de ser interrompida a meio para se começar desde o princípio: "Desculpem lá. Mas o que se passou?" foram algumas das palavras de indignação trocadas entre os membros do grupo que tentou levar a situação da melhor forma.

O momento alto da noite para os Cindy Kat terá sido a colaboração com Samuel Úria, durante a qual o público, que já poucas palmas batia, voltou a ganhar vida na presença do cantor de Tondela. De outra forma, era visível o descontentamento e a má qualidade deste segundo momento musical da noite, tendo surgido um vazio imenso de cadeiras à medida que as pessoas se iam dispersando na sala, muito antes do término do concerto. As remanescentes mantinham um olhar mortiço e bocejavam incessantemente enquanto viam as horas passar - provavelmente num ato de misericórdia para com o dinheiro despendido no bilhete.

E cadeira a cadeira, todo o público foi saindo até ao fim do concerto, altura em que também nós abandonámos o nosso lugar, dando por encerrada uma noite em que aquele que deveria ter sido o ato secundário, acabou por roubar as luzes da ribalta a uma vedeta mal preparada.

Fotografias: Rita Sousa Vieira

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