"Camões nasceu do povo e as Sanjoaninas devolvem Camões ao povo", disse à Lusa, o linguista Luiz Fagundes Duarte, autor do texto justificativo do tema das Sanjoaninas 2025.

Durante 10 dias, a cidade de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, celebra o São João com desfiles, marchas populares, música, gastronomia, desporto, artesanato, tauromaquia, entre outras atividades.

Este ano, as festas celebram os 500 anos do nascimento de Luís de Camões e integram o programa nacional das comemorações camonianas.

"Trazer 'Os Lusíadas' e a 'Ilha dos Amores' para as Sanjoaninas é extremamente importante a nível nacional, porque é a primeira vez que o grande poeta nacional é trazido para a rua, para o povo, ao qual ele pertencia", defendeu Luiz Fagundes Duarte.

Para o linguista, natural da ilha Terceira e antigo secretário regional da Educação dos Açores, Camões não deve ser celebrado apenas nas cerimónias oficiais do 10 de Junho.

"Não é suficiente nas universidades, na biblioteca nacional, nas instituições, fazerem-se congressos e conferências para eruditos, é importante é trazer Camões para a rua", vincou.

Em Angra do Heroísmo, a poesia de Camões, que representa "a alma nacional" e "todo o conhecimento que existia naquela época", será espelhada no desfile de abertura e nas marchas de São João, para milhares de pessoas que enchem as ruas da cidade.

As festas focam-se sobretudo na "Ilha dos Amores", descrita nos cantos IX e X d’ "Os Lusíadas", como uma ilha paradisíaca, criada pela deusa Vénus para recompensar os navegadores portugueses que tinham descoberto novos mares.

Ainda que esta ilha tinha sido imaginada por Camões, é possível que o poeta se tenha inspirado nos sítios por onde passou e é quase certo que tenha passado pela ilha Terceira, ponto de paragem obrigatória para os navios que cruzavam o Atlântico, entre os séculos XV e XIX.

"Será que a 'Ilha dos Amores' é a Terceira? É claro que não é. Mas podia ser, porque Camões, quando criou a sua ficção, naturalmente fundamentou-se na sua experiência, nas viagens que tinha feito e ele passou pela Terceira", salientou Luiz Fagundes Duarte.

"Quando ele descreve a 'Ilha dos Amores',uma ilha verde, com passarinhos, com água a correr, nós imaginamos uma ilha frondosa e a ilha Terceira tem essas características", acrescentou.

Durante todo o ano, mas em particular nas Sanjoaninas, a Terceira é "a ilha da festa, da boa disposição, em que as pessoas são capazes de passar uma noite inteira na rua a conversar".

"Se Camões, este ano, passasse pela Terceira durante as Sanjoaninas ia sentir-se em casa", brincou Luiz Fagundes Duarte.

A semana das festas é uma das alturas do ano em que a ilha Terceira recebe mais visitantes e este ano não será exceção.

"A hotelaria está com taxas de ocupação superiores aos 90%. A noção que temos é que a procura tem sido crescente, o que é um aspeto muito positivo e é sinal de que as Sanjoaninas continuam a atrair muita gente", adiantou à Lusa o vice-presidente da Câmara de Angra do Heroísmo, Guido Teles.

Entre os visitantes destacam-se os emigrantes dos Estados Unidos e do Canadá, que escolhem esta altura do ano para regressar a casa, e há também muitos grupos organizados de outras ilhas e regiões do país.

Da Califórnia e da costa leste dos Estados Unidos chegam uma filarmónica, um grupo de forcados, um grupo de folclore e duas marchas populares.

"As Sanjoaninas são já caracterizadas por uma forte presença de emigrantes, mas nós temos feito esta aposta ao longo dos anos de convidar grupos das nossas comunidades emigrantes. Tudo isso tem contribuído para um crescimento do número de pessoas que vêm das nossas comunidades nesta altura à ilha", salientou Guido Teles.

Entre os que chegam dos Estados Unidos para participar nas festas, há também lusodescendentes que vêm conhecer a terra onde nasceram pais e avós.

"O facto de estas novas gerações, que já não têm uma ligação direta à ilha, terem oportunidade de virem às festas faz com que se mantenha esta ligação à ilha e que ganhem essa vontade de manter esses laços para o futuro", sublinhou o autarca.

Até 28 de junho, Angra do Heroísmo está em festa, com espetáculos musicais todos os dias, divididos por quatro palcos.

Há mais de 70 tasquinhas de comida espalhadas pela cidade. Na noite de São João e na noite seguinte, desfilam pelas ruas principais 35 marchas populares de adultos e oito infantis.