Em declarações à Lusa, o cofundador e diretor artístico da companhia, com sede no Teatro Taborda, explicou que o cancelamento da iniciativa decorre das limitações à realização de viagens de avião e consequentes quarentenas decorrentes da pandemia de COVID-19.

Alberto Velho Nogueira, que improvisaria em percurssão, em palco, é um escritor de língua portuguesa que se exilou na Bélgica, em 1968, por motivos políticos, por se opor à ditadura e se recusar a participar na guerra colonial.

Um “escritor de 'free jazz', avesso a convenções e de uma energia ímpar”, como Carlos J. Pessoa, responsável da companhia, definiu à Lusa o autor de "Autofagias", que continua a residir em Bruxelas onde, durante mais de 30 anos (de 1971 a 2006), foi conselheiro musical Mediateca da Comunidade Francesa da Bélgica.

Em declarações à Lusa, através de correio eletrónico, o autor explicou que compromissos na Bélgica e em Itália o impedem de estar no sábado em Portugal, devido às quarentenas inerentes à pandemia de COVID-19.

“Teatro Negativo” é uma 'performance' a partir da música improvisada por Paulo Galão (clarinete baixo) e Alberto Velho Nogueira (percussão) e de “um conjunto de 1397 textos, segundo uma forma que os aproxima do poema”, que seriam "postos em cena e lidos dramaticamente por três atrizes”, acrescentou o autor à Lusa.

A ideia resulta do trabalho que tem desenvolvido até agora, uma vez que as leituras que faz “são também um motor” para o que escreve, ainda que esteja “mais ligado às músicas de improvisação, que derivaram do 'free jazz', e das pinturas atuais, do que das literaturas conhecidas, fora ou dentro do país”, observou.

“Não pertenço à literatura portuguesa mas à literatura que se escreve em português”, foi como Alberto Velho Nogueira se definiu, na entrevista à Lusa.

“Teatro Negativo”, para o qual foram selecionados 30 textos, contava ainda com a participação do músico e compositor residente do Teatro da Garagem Daniel Cervantes e com a interpretação de Ana Palma e Rita Monteiro.

Carlos J. Pessoa, diretor artístico do Teatro da Garagem, adiantou à Lusa que pretende pôr em cena o espetáculo "Teatro Negativo” “logo que a pandemia de COVID-19 e a presença de Alberto Velho Nogueira o permitam”.

Esta era a terceira colaboração entre o Teatro da Garagem e Alberto Velho Nogueira, um “autor completamente fora da caixa”, como Carlos J. Pessoa o definiu.

A primeira foi há três anos e, a última, em maio do ano passado, quando o autor apresentou dois livros naquela sala, na Costa do Castelo.

Para Carlos J. Pessoa a escrita de Alberto Velho Nogueira, também conhecido como AVN, provoca “viagens sem fim, estranhas e a zonas desconhecidas”.

Durante anos Velho Nogueira foi autor do blogue “Homem à Janela", entretanto desativado, nome dado igualmente à sua editora.

Para Carlos J. Pessoa, Alberto Velho Nogueira tem uma “obra que deve ser lida como pintura e música”, uma escrita “mundividente” na qual retoma “o eixo cultural Flandres-Itália, que foi a espinha dorsal da Cultura Ocidental, nomeadamente da Renascença”.

“Estou na Bélgica há 52 anos” e recebo as matérias dos territórios belgas ou próximos da Bélgica, disse Alberto Velho Nogueira à Lusa, acrescentando não estar ferido por ser desconhecido ou por ninguém ler o que escreve.

“Não tenho nenhuma necessidade de ser conhecido, não publico para ser reconhecido como escritor. Publico as obras para entrarem nas bibliotecas através do depósito legal, e nada mais. Se me leem, está muito bem; se não me leem, não é isso que me fará parar de publicar”, sublinha.

Até agora, Alberto Velho Nogueira tem feito edições chamadas de autor, ainda que “o trabalho de preparação das edições tenha sido feito nas melhores condições de produção, na Guide-Artes Gráficas”.

Um outro volume de ensaios, “Ensaios 3”, "deverá estar pronto na sexta-feira, dia 6”, adiantou à Lusa.

Estava "tudo preparado para uma conversa sobre os dois livros, no Teatro Taborda, depois da performance" de sábado. "Mas tudo anulado", concluiu Alberto Velho Nogueira à Lusa, numa conversa por telefone e correio eletrónico.