Em declarações à agência Lusa, o fadista disse que este seu quarto álbum "é mais esperançoso", obedecendo a "um conceito diferente que não é o de cantar o fim", como nos discos anteriores, mas "é mais positivo", pois "canta uma dimensão da condição humana que é a capacidade de estar só, bem diferente de estarmos em solidão, que é muito mais devastador”.
Este disco, insiste o fadista natural de Évora, canta essa “capacidade de estar só, de partir só, de nos refazermos, de nos protegermos”, afirmou recordando os tempos de infância, em que cantava quando sentia medo.
Duarte assina todas as letras do álbum, à exceção de “Maria da Rocha”, de autoria de João Monge, e também algumas das músicas, excetuando as que usa do repertório dos fados tradicionais. Há ainda o caso do “Fado Gripe”, que é de autoria de José Mário Branco, assim como “Que Fado é esse afinal?”, e um outro, “Rimbaud”, que assina com Rogério Ferreira.
“Maria da Rocha” conta com uma estrofe que parte do Cancioneiro Tradicional Alentejano, à qual João Monge acrescentou outras de sua autoria, a seu pedido, explicou.
Referindo-se ao alinhamento do disco, Duarte afirmou que há dois temas em que procurou retomar uma tradição fadista, fazendo “uma certa autocrítica, que se está, atualmente, a perder”.
São eles “Covers”, que canta no fado Pechincha, de João do Carmo Noronha, no qual afirma que “Já não são fados, são ‘covers’/ Imitações desalmadas/ Reproduções do destino/ Tantas vezes tão cantadas/ Esses que tentam viver/ Aquilo que outros viveram/ Acabam por se perder/ No tanto que não fizeram”, e no “Que Fado é esse afinal?”, que canta no fado Gripe.
“São duas reflexões sobre o estado da arte [fadista]”, reconheceu o criador de “Os Mistérios de Lisboa”.
Sobre “Que Fado é esse afinal?”, Duarte referiu que procurou, através da letra, “ver o que está acontecendo com ao fado, o que se vai vivendo”, e o que as pessoas lhe vão dizendo, e afirmou-se como "mais de ouvir que de falar".
A letra deste fado abre com uma série de recomendações: “Convém que seja moderno/ Ritmado sem critério/ E fácil de consumir/ Que não deixe de imitar/ As modas que estão a dar/ Que não ouse resistir/ Convém que não seja triste/ Que se venda, que se lixe/ O valor do seu passado/ Que se sirva ao desbarato/ Como um hambúrguer no prato/ Produto pré-fabricado”. Mas como alertou Duarte, “a indústria fonográfica é uma coisa, outra bem diferente é o universo dos fados”.
“Este álbum – reconheceu - é mais imediato. Eu já cantei o fim de qualquer coisa, já cantei o luto. Agora fazia sentido cantar o que pode vir depois do luto e elogiar essa nossa capacidade, que todos devemos ter, de estar bem connosco”.
Este é "um álbum menos carregado, menos complicado, que não é tão denso e, pesadamente, melancólico”, que os anteriores.
“Só a Cantar”, que é apresentado ao vivo no dia 23, em Sintra, sucede a “Sem Dor Nem Piedade” (2014).
Duarte, psicólogo de profissão, estreou-se discograficamente com “Fados Meus” (2004), ao qual se seguiu “Aquelas Coisas da Gente” (2009).
Em “Só a Cantar”, produzido pelo músico João Gil 8que acompanha, à viola, o fadista no tema "Maria da Rocha"), participam os músicos Paulo Parreira, na guitarra portuguesa, Rogério Ferreira, na viola, e Daniel Pinto, na viola baixo, e ainda Pedro Amendoeira, na guitarra portuguesa.
Este guitarrista participa nos fados "Vai de Roda", letra e música de Duarte, "Doméstica Solidão", com letra de Duarte, que o interpreta no fado Zé António de quintilhas, de José António Sabrosa, e "Covers".
Com Mara, Duarte partilha a interpretação do tema "Às Tantas", de sua autoria.
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