A peça, como o título indica, é “focada na ideia de um DJ com um microfone”. “Acaba por ser a figura solitária de um DJ numa cabine, que tem o microfone ao pé de si. Esse microfone acaba por simbolizar várias coisas. A origem do que é a figura do DJ, que começa por ser um comunicador. E os dias de hoje, em que o microfone já é utilizado para galvanizar multidões. A peça anda por aí, pelo lado intimista, o lado de tentar atrair o público, e, pelo meio, de contar uma história muito pessoal”, referiu Pedro Coquenão em entrevista à Lusa.
De acordo com o autor, trata-se de teatro que “cruza a ideia de uma peça, de um monólogo, com o personagem, que é um DJ e alguém que também tenta, de alguma maneira, entreter as pessoas através do humor”.
Cenicamente, “é uma cabine de um DJ com um microfone, que simboliza não só a necessidade de comunicar, mas também a parte que é assumida num formato quase de ‘stand up [comedy]’”.
O texto “tem muito de autobiográfico”.
“Acaba por ter um ponto de partida muito autobiográfico, mas que em vez de ser fechado numa ideia de memória ou de saudosismo, é muito o reveres uma parte da tua vida, mas que te serve o propósito de te colocar agora no dia em que tu estás, no momento em que tu estás”, explicou Pedro Coquenão.
Olhando para “Um DJ e um Microfone”, o músico e produtor apercebeu-se que “vem no seguimento, se calhar, de ‘The Almost Perfect DJ’”, apresentado pela primeira vez como uma performance, no festival Iminente, em 2016, mas que evoluiu para outros formatos.
A primeira faceta deste projeto, partilhou, foi criada “em pleno e bombástico ‘burnout’”. “[A peça de teatro] fez-me relembrar que se calhar eu já tinha andado ali, e fez-me voltar a essa adolescência [abordada em ‘Um DJ e um microfone’], em que senti os primeiros efeitos de ficar completamente estourado”, recordou.
Nos vários projetos que já desenvolveu, Pedro Coquenão tem ideia de estar “sempre a fazer a mesma coisa, mas de perspetivas diferentes”.
“Gosto de explorar a mesma coisa vista de várias maneiras, e de levá-la a uma certa profundidade. Gosto de dar esse flanco e a possibilidade de as coisas serem vistas de uma outra perspetiva. Neste caso, a grande novidade é que em vez de ser um documentário, um filme, um concerto, um disco, um programa de rádio, uma peça, agora é mais assumidamente teatral”, referiu.
Já com “a ideia fechada na cabeça” e parte dos textos de “Um DJ e um Microfone” escritos, Pedro Coquenão optou por escolher alguém que interpretasse as suas palavras.
“Não sei se tenho talento para honrar aquilo que quero dizer”, confidenciou.
A escolha recaiu em Manuel Moreira, ator em quem viu coisas que lhe interessaram: “a qualidade, capacidade de fixar texto, qualidade também como pessoa, o facto de ser muito opinativo e ser um cidadão ativo também me agradou”.
“Fisicamente tem uma cara vagamente judaica, como eu. Parecia-me que era alguém que poderia refletir o meu texto, de forma tecnicamente irrepreensível, sustentá-lo ao nível dos valores, da ética e da cidadania, e de compromisso, porque não é fácil passares um texto tão pessoal para alguém. Eu não queria um exercício técnico só”, contou.
Pedro Coquenão e Manuel Moreira estiveram duas semanas em residência artística na Mala Voadora, que culmina com a apresentação de “Um DJ e um Microfone” hoje, em duas sessões, às 18h00 e às 22h00.
Depois, Pedro Coquenão gostava de apresentar o espetáculo “em mais sítios”, que não terão necessariamente que ser salas de teatro.
“Vamos ver o que é que consigo. Gostava muito de fazer circular [o espetáculo] e partilhar o que de bom consegui materializar. Estou muito feliz com o que fiz. E gostava de expor noutros contextos para além destes”, disse.
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