O voto de Augusto Santos Silva - a cuja leitura assistiram nas galerias do parlamento uma familiar e a responsável pela Casa das Histórias, em Cascais - recorda Paula Rego como “figura maior da pintura contemporânea e uma das mais reconhecidas e premiadas artistas portuguesas”.

Maria Paula Figueiroa Rego nasceu em Lisboa a 26 de janeiro de 1935, tendo mostrado desde muito jovem apetência para o desenho, o que a levou a ir estudar para Londres, no Reino Unido, país que a acolheu e onde viveria grande parte da sua vida.

Na capital britânica, estudou na Slade School of Fine Art, University College.

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“A sua obra, que evoluiu de um estilo inicial mais abstrato para a pintura figurativa - área em que se elevou como expoente internacional - cruzou várias influências, que incluem a literatura, o cinema e o teatro, destacando-se as suas pinturas e gravuras inspiradas em contos populares portugueses e ingleses e livros de histórias”, destaca o texto.

No voto, refere-se que a sua obra “reflete de forma indelével um compromisso com o feminismo e a luta contra a opressão, a desigualdade e a injustiça que afeta de forma grave as mulheres, podendo vários quadros seus serem vistos como autênticos manifestos contra o preconceito, a dominação e a indiferença”

“Os assuntos que tratava eram eminentemente políticos, no sentido mais amplo e nobre do tema, interpelando-nos a todos, por vezes de forma crua, tendo sabido explorar os nossos sonhos, os nossos medos, as nossas histórias, a nossa condição”, realça-se.

Em Portugal, a artista foi objeto de múltiplos prémios e distinções, como a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, em 2004, o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, em 2013, ou a Medalha de Mérito Cultural, atribuída, em 2019, pelo Governo.

Em 2009, foi inaugurado a Casa das Histórias, em Cascais, museu que recebeu parte da sua obra. Em 2005, Paula Rego foi escolhida pelo antigo Presidente da República Jorge Sampaio para fazer o seu retrato oficial, sendo a primeira mulher a figurar na galeria de pintores oficiais da Presidência da República.

Fora de fronteiras, onde expôs ao lado dos mais reconhecidos artistas mundiais, foi distinguida, por exemplo, em 1989, com o Prémio Turner, e, em 2010, com a Ordem do Império Britânico com o grau de Oficial, pela Rainha Isabel II, pela sua contribuição para as artes.

“Paula Rego era uma pintora singular, cuja voz irá fazer muita falta. O luto nacional decretado pelo Governo assinala a importância da artista e da sua obra, refletindo a dimensão desta perda”, refere o voto, no qual se endereçam condolências à família e amigos da pintora.

No dia 10 de Junho, Marcelo Rebelo de Sousa anunciou em Londres, onde esteve por ocasião das comemorações do Dia de Portugal, que vai condecorar a título póstumo a pintora Paula Rego com o Grande Colar da Ordem de Camões, distinção que será formalmente entregue em Lisboa.