Trata-se da terceira obra exibida no âmbito do “O Belo, a Sedução e a Partilha”, projeto museográfico conjunto do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) e da Fundação Gaudium Magnum – Maria e João Cortez de Lobão (FGM), e ficará em exposição até 3 de julho, anunciou a instituição.

A nova obra, que pertence à Coleção Gaudium Magnum, é um óleo sobre tela do pintor Giovanni Baglione (1566-1643), nascido em Roma, tem como título "São João Baptista no Deserto", uma dimensão de 194 por 151 centímetros e está assinada e datada de 1610.

Esta grande tela de São João Baptista, representado jovem, relaciona-se, segundo o museu, muito provavelmente com uma encomenda do cardeal Alessandro Damasceni Pereti di Montalto (1571-1623) que, em agosto desse ano de 1610, pagou a Baglione por uma pintura do mesmo tema.

A encomenda "mostra como Baglione era um dos pintores romanos com maior aceitação entre os cardeais e as principais famílias dos grandes colecionadores de arte da cúria papal, mesmo depois do episódio que o opôs judicialmente a Caravaggio e a outros pintores", recorda ainda o MNAA.

Em 1603, Baglione acusou Caravaggio e alguns dos pintores mais próximos do grande mestre barroco de serem os autores de dois poemas jocosos contra ele que circulavam anonimamente em Roma, hoje conhecidos por terem ficado anexos ao processo forense.

Apesar de alguns dos visados, como Orazio Gentileschi, reconhecerem a valia artística do pintor, Caravaggio proferiu no processo uma frase rude e direta dizendo que não conhecia nenhum artista "que pensasse que Baglione fosse um bom pintor", recorda.

Ao longo da sua carreira, Giovanni Baglione absorveu e cruzou influências muito diversas, tendo feito aprendizagem com Francesco Morelli. Trabalhou nas obras do Vaticano, na Scala Santa, na Biblioteca e no Palazzo Lateranense, incorporando influências de Veronese e de pintores tardo-maneiristas como Frederico Zuccari e o Cavalier d’Arpino.

Uma doença levou-o a viajar para Nápoles, na década final do século, onde trabalhou na Cartuxa de San Martino, com Giuseppe Cesare.

Foi quando retornou a Roma, no final do século XVI, e nos anos seguintes, que se manifestou na sua obra a mais sensível influência de Caravaggio, que viria a ser interrompida após o conflito de 1603.

"Este interesse pelas obras dos outros artistas, bem como um estudo continuado dos modelos escultóricos, marcaram profundamente a obra de Baglione, numa versatilidade que lhe foi reconhecida por alguns escritores contemporâneos, como Karel van Mander", refere ainda o MNAA, sobre o autor.

Tal como ocorreu com as anteriores peças cedidas pela fundação, o novo quadro estará em exibição na ala de pintura europeia, num espaço dedicado ao programa, situado na sala 49 do MNAA.

A Fundação Gaudium Magnum – Maria e João Cortez de Lobão existe desde 2018, tendo como missão "enaltecer Portugal, a língua portuguesa, a sua cultura e as suas gentes", apostando em quatro eixos estratégicos: cultura, educação, beneficência e investigação.

Na área cultural, e em particular a coleção de arte, reúne um espólio de peças centrada nos mestres antigos de pintura, com uma forte componente de autores portugueses.