
"O título 'This is a Shot' provém de uma obra de Hito Steyerl. O título dessa obra chama-se 'Abstract', mas é uma obra que relaciona texto e imagem e que relaciona também, no fundo, a nossa linguagem de comunicação, mediática, cinematográfica, e a questão do conflito", disse à Lusa Joana Valssassina, uma das curadoras da exposição.
A responsável explicou que o objetivo foi "convocar diferentes significados da palavra 'shot': o enquadramento de uma câmara, o disparo de uma arma, o enquadramento de uma coleção, a ideia de uma tentativa ou de uma oportunidade", com base na história de uma ativista revolucionária alemã na década de 1990 que se juntou ao PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) e morreu em 1998.
A também curadora Isabel Braga frisou que da exposição resulta "quase um mapeamento do mundo contemporâneo", com obras que vão desde a década de 70 do século XX até à atualidade.
"Por um lado, a questão dos conflitos, a questão da informação, da digitalização, e depois inevitavelmente as questões ambientais", frisou, numa era cuja velocidade dos acontecimentos foi potenciada pelo aparecimento da internet e em que a "inteligência artificial de que tanto se fala hoje tem consequências absolutamente fortíssimas para o planeta, porque o gasto de energia é brutal".
A exposição conta com várias obras que abordam o ambiente e a natureza, da autoria de Olafur Eliasson, Maja Escher, Renato Leotta ou também Ei Arakawa-Nash, natural de Fukushima, no Japão, "que fala por exemplo na produção de energia através do nuclear", em “Nuclear Lanterns”.
"À medida que fomos pensando numa obra que, por exemplo, abordasse mais as questões do consumo, da produção de massas, inevitavelmente nos levaria à questão ambiental", refere Isabel Braga.
A rapidez do aquecimento global é retratada em fotografias do degelo de glaciares da autoria de Olafur Eliasson, cuja água 'derrete' para a lentidão do Mediterrâneo exposta em “Bassa Marea, Alta Maria” (“Maré baixa, maré alta”, em tradução do inglês), de Renato Leotta, que mostra as linhas do sal num tecido.
Já numa sala marcada pela presença da instalação “Errata”, de Jean-Luc Moulène, que consiste em 3.240 latas de aço em nove paletes que remetem para a produção industrial, a reflexão sobre o Ocidente intensifica-se.
Em “Pixel-Collages”, Thomas Hirschorn aborda os critérios de ocultação e 'pixelização' de rostos em imagens mediatizadas, e “West”, de Doug Aitken, emula um 'outdoor' através de uma representação de letras e imagens reminiscentes do imaginário suburbano.
"No fundo, toda essa sala reflete sobre uma ideia de saturação. Saturação de imagens, de informação, de objetos no mundo virtual e no mundo global, em contraste com as salas anteriores em que é, em vez de ser saturação e velocidade, é parar", explica Joana Valssassina.
Na exposição há ainda lugar a reflexões mais íntimas como na instalação “Can you hear me?”, de Nalini Malan, sobre desigualdades sociais e raciais, e em “Between Heaven and Hell”, de Rashid Johnson, ou sobre o valor do dinheiro físico, como em “B.R.E.A.D.”, livro composto por 100 notas de um dólar encadernadas da autoria de Maurizio Cattelan.
"Para nós é relevante tratar estes temas porque os artistas tratam estes temas. Estes temas não são impostos nas obras, são as obras que nos trazem estes temas e que nos permitem fazer todas estas relações", resume Joana Valssassina.
A maioria das obras nunca foram expostas e foram adicionadas à Coleção de Serralves "através de aquisições, depósitos e doações" entre 2016 e 2025, incluindo trabalhos de artistas portugueses como Patrícia Almeida, Catarina Braga, Ana Hatherly (com desenhos da série “Neografitti”), Inês Brites, Diogo Evangelista, Vera Mota, Susana Mendes Silva ou Horácio Frutuoso.
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