“Em 2001, fez o último espetáculo da vida dela, que foi 'Os Fantasmas', do dramaturgo italiano Eduardo De Filippo", recordou Júlio Gago, atual presidente da Assembleia Geral do Teatro Experimental do Porto (TEP) e amigo da família da atriz, de quem recorda a sua estreia em palco, em maio de 1956, na encenação de "Macbeth", de Shakespeare, dirigida por António Pedro.

Em entrevista telefónica à agência Lusa, Júlio Gago contou que Fernanda Gonçalves fez parte da equipa do TEP desde início, desde o primeiro espetáculo, de "Gota de Mel", de Leon Chancerel, levado a cena em 18 de junho de 1953.

“Ela entrou para o TEP logo no primeiro espetáculo, e foi um dos primeiros alunos do [encenador, artista e escritor] António Pedro, entre maio e junho de 1953”, contou Júlio Gago, referindo que Fernanda Gonçalves se especializou em papéis mais curtos.

A atriz começou a trabalhar com António Pedro, que gostava de lhe chamar uma “utilidade", porque se desdobrava em "vários papéis na ação”, mas chegou a ser protagonista da peça “Ratos e Homens”, de John Steinbeck, em 1957.

“Ao longo de décadas, desde 1956 até 2001, teve uma permanência sobretudo no TEP, mas fez uma peça no Seiva Trupe. Fez espetáculos na televisão, nas noites de teatro, antes do 25 de Abril, e na rádio também, porque eram as alternativas da altura”, acrescentou.

Júlio Gago refere ainda que Fernanda Gonçalves só trabalhou no Porto.

“Trabalhou em todo o país, mas em deslocações do TEP, nunca esteve sediada em qualquer outra cidade”.

Em declarações à agência Lusa, o atual diretor artístico do TEP, Gonçalo Amorim, refere que Fernanda Gonçalves é ainda a atriz com mais obras representadas no Teatro Experimental do Porto.

“É, portanto, uma grande figura do Teatro Experimental do Porto”.

A base de dados do Centro de Estudos do Teatro, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, atribui à atriz a participação em 80 peças em palco, de "Macbeth" a "Os Fantasmas", todas no TEP, a que junta ainda "A hora em que não sabíamos nada uns dos outros", de Peter Handke, posta em cena por José Wallenstein, no Teatro Nacional São João, em 2001.

A lista abre com a tragédia "Antígona", de Sófocles, uma produção do TEP de 1954, a cujo elenco Fernanda Gonçalves se juntou em 1956, para substituir Maria Júlia no papel de Eurídice.

Seguem-se dezenas de encenações, de obras de dramaturgos como Alfred Jarry, Anton Tchekhov, António José da Silva, Arthur Miller, Ben Jonson, Bernardo Santareno, Bertolt Brecht, Eugene O'Neill, Federico García Lorca, Georg Buchner, Gil Vicente, John Stenbeck, Romeu Correia, Samuel Beckett, atravessando séculos e as mais importantes e diferentes expressões da dramaturgia mundial.

A missa por Fernanda Gonçalves está marcada para este sábado, dia 9 de janeiro, às 9h45, na Igreja da Lapa, no Porto.