O livro tem como título "Novo Mundo – Arte Contemporânea no Tempo da Pós-Memória" resulta de um trabalho de pesquisa com quase três anos, propondo uma releitura das narrativas da História da Arte e um olhar sobre estas gerações de artistas, a maioria deles com memórias de afro-europeus.

Escrito no contexto do projeto de investigação “Memoirs – Filhos de Império e Pós-Memórias Europeias”, a obra consiste numa seleção de 13 depoimentos escolhidos por António Pinto Ribeiro em mais de uma centena de artistas entrevistados que nasceram na Europa ou foram, ainda crianças, viver para o continente.

"Há histórias ressentidas, traumáticas, de tudo um pouco, que têm a ver muito com as experiências de cada agregado familiar. Cada artista pegou nessas histórias de forma diferente, alguns muito a sério, que usam como material de trabalho fundamental, outros procuram arquivos, vão aos países de origem, fazem uma revisão das histórias coloniais, procurando as narrativas dos países colonizados e não do colonizador", descreveu o investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, contactado pela agência Lusa.

António Pinto Ribeiro considera que as narrativas que ouviu destes artistas de várias nacionalidades, incluindo portugueses, revelam “uma diversidade de pontos de vista muito rica" que constitui "contributos muito novos para o futuro”, por parte de “pessoas que estão a renovar a História".

Estas posturas de criação de novas narrativas descolonizadoras "está a ser expressa neste momento nos grandes encontros e fóruns europeus de arte contemporânea, e é uma presença que já não é passível de ser ocultada", salientou.

Nas narrativas, António Pinto Ribeiro percebeu que o género, a idade, a cultura de origem, a história do país, "também influencia muito a prática artística e a perspetiva, visível em artistas de múltiplas áreas”, desde o cinema, o teatro, a música e as artes visuais.

O livro aborda a produção artística contemporânea, "e como a mesma deve ser repensada a partir dos estudos pós-coloniais no atual contexto da arte contemporânea europeia".

O investigador concluiu que os artistas que entrevistou "fazem dois tipos de descolonização: um de descolonização dos países originais, dos seus pais e avós, num trabalho sobre a narrativa do colonialismo português, inglês, belga ou da Argélia; e outro, muito inovador, sobre a descolonização no interior da Europa, onde se encontra um conjunto de traços, clichés, de pontos de vista, de temas curriculares, das universidades, das escolas e das museografias".

Depois de conhecer estas múltiplas narrativas e perspetivas, Pinto Ribeiro encontrou uma certeza: "Ninguém tem propriedade sobre a memória, não há uma memória histórica que seja um padrão ou propriedade de alguém".

Com chancela das Edições Afrontamento, o livro vai ser lançado na quinta-feira, às 18h00, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com apresentação de Dino D'Santiago e Margarida Calafate Ribeiro.

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