Direcionado a maiores de 12 anos, o espetáculo procura "promover uma reflexão sobre o privilégio da língua ouvida, e sensibilizar os espectadores para uma realidade na qual 'reina' o sentido de obrigação para as pessoas falarem da mesma forma".

"Neste espetáculo, basicamente o que propomos é uma proposta de reflexão em torno da ideia de língua, em que tentamos questionar das possibilidades, limites, identidades, em suma o que pode ser uma língua. Pelo meio passamos também pela história dos surdos, por especificidades da comunicação em língua gestual portuguesa e também algumas especificidades da relação entre ouvintes e surdos", explicou, em declarações à Lusa, um dos criadores do espetáculo, José Nunes.

Neste espetáculo os papéis invertem-se e os ouvintes percebem os desafios que um surdo enfrenta quando assiste a um espetáculo que, neste caso, se pretende "verdadeiramente bilingue".

"O nosso objetivo inicial foi inverter um bocadinho aquela relação que existe num espetáculo com tradução para língua gestual portuguesa, em que normalmente o intérprete fica num cantinho para não atrapalhar. Queríamos precisamente propor o inverso, ter a língua gestual a ocupar o espaço e dar-lhe outra visibilidade", assinalou.

Explorando a ideia de autorreflexidade, Cátia Pinheiro, José Nunes e Diogo Bento - responsáveis pela criação da peça - tentam combater o "fonocentrismo", salientando que a língua ouvida não é a única forma de falar.

Segundo José Nunes, o espetáculo não tem propriamente uma história, mas várias propostas cénicas e visuais, confluindo para uma experiência em que os 'ouvintes' vão poder colocar-se no lugar de um surdo e sentir até "se calhar" algum desconforto.

"Isto pode fazer refletir sobre a forma como nós interagimos com quem tem uma língua diferente da nossa e perceber que, se calhar, a vontade de comunicação dos ouvintes para com os surdos deveria ser diferente, deveria ser algo mais presente nas nossas vidas", defendeu.

Nesta coprodução da companhia Estrutura, com o São Luiz Teatro Municipal e o Teatro Nacional São João, que se estreia no Teatro Carlos Alberto (TeCA), além dos atores profissionais, fazem parte do elenco Joana Cotim, que é surda e professora de língua gestual, e que é a atriz principal do espetáculo, e Claúdia Braga, que é uma intérprete de língua gestual.

O espetáculo pode ser visto no palco do TeCA, de quinta a sábado, às 19h00; e no domingo, às 16h00.

No dia 7 de novembro vai ser possível participar numa conversa pós-espetáculo.

Também o Centro Cultural de Ílhavo, em Aveiro, irá acolher "Língua", em as datas ainda por definir.