O Ministério Público apresentou Harvey Weinstein como um predador sexual "especialista" que abusou do seu poder como um todo-poderoso de Hollywood para abusar de atrizes, enquanto a defesa insistiu que, após os supostos crimes, o produtor de cinema julgado em Nova Iorque manteve uma relação de amizade com as suas acusadoras.

Weinstein sacudia a cabeça de um lado para o outro e fazia anotações para os seus advogados, enquanto a procuradora Meghan Hast o apresentou ao júri como um fanfarrão de 136 quilos que violou, humilhou e manipulou várias mulheres, deixando-as traumatizadas durante anos.

Hast detalhou graficamente vários dos alegados abusos e disse que o réu injetou uma medicação no pénis para manter a sua ereção antes de agredir a atriz Jessica Mann, que o acusou de violação em 2013 e cuja identidade, até agora desconhecida, foi revelada no tribunal.

Como uma boneca de pano

A procuradora também disse que o produtor chegou ao quarto de hotel da atriz "Os Sopranos", Annabella Sciorra, de cuecas, com uma garrafa de óleo de bebé numa mão e uma cassete de vídeo na outra. Sciorra será uma das testemunhas do Ministério Público no julgamento.

"Ficará claro, neste julgamento, que o acusado sabia que estava a abusar de pessoas indefesas e inocentes", disse Hast ao júri, destacando que muitas das suas vítimas cresceram em lares problemáticos.

"Não sabiam que estavam caindo na sua armadilha, sob falsos pretextos. Achavam que tinham conseguido um grande papel. [Weinstein] Era a velhinha na casa de doces que atrai as crianças", acrescentou.

A procuradora disse que Weinstein deixou a sua acusadora, Mimi Haleyi, uma ex-assistente de produção, no chão "imóvel, como um peixe morto", após atacá-la com violência no seu apartamento de Nova Iorque em julho de 2006.

Ela acusou Weinstein de tratar a atriz Jessica Mann, que garante ter sido violada pelo acusado num quarto de hotel em Nova Iorque em março de 2013, como "uma boneca de pano".

Weinstein, de 67 anos, pai de cinco filhos e divorciado duas vezes, pode ser condenado a uma pena máxima de prisão perpétua se for considerado culpado de abuso sexual predatório contra Haleyi e Mann.

O caso é emblemático para o movimento #MeToo, e começa a ser julgado dois anos depois do surgimento do escândalo que o incriminou e derrubou dezenas de homens poderosos acusados de abusos sexuais.

"Amo-te"

O advogado de defesa, Demon Cheronis, disse que as alegações iniciais do Ministério Público eram falsas e que têm centenas de e-mails entre Jessica Mann e o acusado provando que mantinham "uma relação carinhosa".

Ele disse que Mann descreveu Weinstein como "o seu namorado ocasional" em 2014, um ano após a alegada violação. Também mostrou que a atriz mandou uma mensagem a Weinstein com a frase "Amo-te, grandalhão!", e outra que diz "obrigada pelo seu apoio incondicional e a sua amabilidade".

De acordo com Cheronis, as acusadoras de Weinstein deram-se bem com ele até o movimento #MeToo ganhar força, em 2017, e o produtor se tornar uma persona non grata.

Ambas as partes procuram convencer o júri, composto por cinco mulheres e sete homens, que devem chegar a um veredito unânime - se o acusado é culpado ou inocente das acusações.

Após uma seleção tensa, que durou duas semanas, a defesa conseguiu manter fora do júri jovens brancas - consideradas mais favoráveis ao movimento #MeToo.

As testemunhas

Três outras mulheres testemunharão pela acusação. Uma delas, a ex-modelo Tarale Wulff, 43 anos, diz que Weinstein a violou em 2005 quando trabalhava no bar Cipriani.

Outra, Dawn Dunning, diz que ele colocou os dedos na sua vagina em 2004 e uma terceira, Lauren Young, que ele se masturbou em frente dela em 2013.

Mais de 80 mulheres denunciaram Weinstein por assédio, agressão sexual e violação, desde que eclodiu o escândalo sobre os seus supostos abusos em outubro de 2017.

No final do dia, o seu advogado, Arthur Aidala, pediu ao juiz James Burke que desconsiderasse o julgamento porque Weinstein foi chamado de "monstro predador". E também porque o promotor mostrou uma foto "irrelevante" do réu com o ex-presidente Bill Clinton - submetido a um julgamento de impeachment por mentir sob juramento em 1998 sobre a sua relação com uma estagiária da Casa Branca -, no mesmo dia do início do julgamento de impeachment contra o atual presidente, Donald Trump.

Não se espera que Weinstein deponha no seu processo, que deve terminar por volta de 6 de março.