O músico, que vai cumprir 30 anos de carreira em 2018, nasceu em Champigny, nos arredores de Paris, há 50 anos, "uma cidade quase portuguesa", e sempre defendeu uma "portugalidade" na sua música.
"Muito antes de o fado estar na moda e de ser Património Mundial [da UNESCO], como eu não era fadista, explorei o Fado Blues, ou seja, um blues com um lado cristalino da guitarra portuguesa. É uma ponte entre o que sempre gostei, entre os meus amores da música americana e as minhas raízes portuguesas", descreveu o cantor à Lusa.
A aposta no que também descreve como "Luso Blues" aconteceu ao terceiro disco, "Atlânticoblues" (2002), em que as músicas cantadas em português convidavam a "uma viagem em torno do Atlântico - do blues americano, à morna cabo-verdiana, passando, um pouco, pelo fado com a guitarra portuguesa".
O sotaque francês, "criticado por algum público franco-português", acabou por ser uma mais-valia junto do público francês atraído pela pronúncia melódica e "hesitante" de um português nascido em França: "No fundo, é o que me distingue dos outros artistas", considerou.
Ainda que só em 2002 tenha editado um disco quase todo em português, no qual se destacavam temas originais como "Casaria", "Solidão Ela e Eu" e "Fado Gaivota", Dan Inger já tinha incluído as suas raízes portuguesas no primeiro e no segundo álbuns.
Em 1996, no disco "Vivre avec Amour", com canções em francês, o tema "Je suis resté" falava "das raízes e da cultura francesa e de uma certa portugalidade franco-lusófona".
Em 1998, em "Au Belvédère (live)", Dan Inger incluiu um tema de Rui Veloso, "Morena de Azul", para mostrar o seu "desejo de ir para algo mais português, não só pelo idioma, mas também pelo modo de ser que corre no sangue".
Em 2007, no quarto disco, chamado "Le Quatrième", o músico também tentou explicar, por exemplo, o que era "o sentimento português de saudade" na canção "La Saudade".
Para celebrar os 20 anos do lançamento do primeiro disco, o cantor autoproduziu, no ano passado, o quinto álbum, "20 Ans", que está disponível em plataformas de ‘streaming' na internet, sendo uma compilação de várias músicas dos discos precedentes, com dois temas inéditos "I've never been an Angel" e "Azul (Ainda O Céu)".
O álbum - que assinou como Dan Inger dos Santos para sublinhar o apelido português - conta com um dueto com Rui Veloso, intitulado "Rei do Blues", que foi gravado em 2002, mas só em 2016 Dan Inger teve autorização para o usar, graças à mudança de editora do autor de "Chico Fininho".
"Foram muitos anos à espera. No princípio, eu gostava mais de toadas de rock, ouvia os franceses Bill Deraime, Eddy Mitchell, Johnny Hallyday e Paul Personne e o americano Tony Joe White, e quando ouvi, pela primeira vez, o Rui Veloso fiquei logo conquistado pelas letras do Carlos Tê. Fiquei fã", revelou, acrescentando que um dos momentos mais marcantes da sua carreira foi ter cantado ‘Não Há Estrelas no Céu' com Rui Veloso, em agosto passado, em Cascais.
Na compilação "20 Ans", há também o tema "Noite e Ressaca", em dueto com a artista luso-belga Lio, que foi cantado, nomeadamente, na inauguração de um monumento dedicado à emigração portuguesa em Champigny-sur-Marne, a 11 de junho do ano passado, nas cerimónias comemorativas do Dia de Portugal e na presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do primeiro-ministro, António Costa.
Filho de pais emigrantes de Ourém, Dan Inger herdou a paixão materna pela música, teve a primeira guitarra aos 16 anos e aprendeu a tocar "no terreno", ainda que o pai não considerasse a música como "um bom ofício" e preferisse que ele enveredasse pela carpintaria.
Aos 21 anos, depois da tropa, Daniel dos Santos recebeu o primeiro "cachê" e, desde então, tem sido "uma luta dia-a-dia para poder viver da música", uma luta que descreveu no livro "Trois Notes de Blues pour un Fado", lançado no ano passado pela Chiado Editeur.
Para "sobreviver" no mundo da música, Dan Inger é autor, compositor, cantor, produtor, guitarrista, baterista, harmonicista e também criou quatro espetáculos musicais infantis.
O músico alterna a subida aos palcos com dois grupos: o "Atlântico Tour", mais virado para "o fado blues, músicas do mundo e folk", e o "Dan Inger Gang", uma formação "mais mexida e mais pop" composta por metais, participando, ainda, como cantor e baterista noutras bandas de jazz.
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