Com as discotecas de Los Angeles fechadas por causa das restrições impostas pelo combate à pandemia, os promotores de festas recorrem às mansões de Hollywood Hills, o bairro nobre na parte alta da cidade, onde fica o famoso letreiro gigante. Eventos luxuosos, barulhentos e, às vezes, sangrentos enfurecem vizinhos e autoridades locais.
"Quando falo de festas em casa, não me refiro a um típico churrasco ou reunião familiar", disse à agência AFP o membro do conselho municipal David Ryu, que trabalha numa proposta de lei para enfrentar a situação.
"Quero dizer literalmente festas que custam um milhão de dólares, com leões e tigres enjaulados e bebés girafa na passadeira vermelha", esclareceu. "É uma extravagância."
Estas grandes festas "têm repercussões que vão muito além dos eventos em si, elas refletem-se em toda a nossa comunidade, porque o vírus pode espalhar-se de forma rápida e fácil", assinalou o presidente da câmara de Los Angeles, Eric Garcetti.
Porém, a transmissão do COVID-19 não é o único risco dessas celebrações. Esta segunda-feira (10), sob o barulho dos helicópteros da imprensa, a polícia chegou a uma mansão na famosa Mulholland Drive que estava cheia de jovens. Na confusão que se seguiu à operação, foram ouvidos tiros e uma pessoa morreu.
Resultado: o presidente da câmara concedeu poderes de emergência aos funcionários dos serviços públicos, a partir deste fim de semana, para que possam cortar a água e a eletricidade dessas casas, localizadas à volta do famoso letreiro de Hollywood e que "se tornaram, essencialmente, discotecas".
A ordem de confinamento em Los Angeles foi emitida em março, quando a pandemia começou a espalhar-se pelos EUA. Já em meados do mês, a cidade começou a reduzir as restrições a negócios e atividades ao ar livre, mas restaurantes, clubes e bares mantêm-se fechados desde então.
As colinas de Hollywood
Sob as rígidas leis de Los Angeles, que fecham a vida noturna às 2 horas da manhã, os mais animados há muito que já estendiam a noite nas festas em "The Hills", as colinas de Hollywood. Embora o isolamento tenha criado, ao princípio, uma pausa nas noitadas agitadas em mansões luxuosas da cidade, as reclamações aumentaram nas últimas semanas.
De acordo com o presidente da associação de moradores local, George Skarpelos, antes da pandemia havia de 10 a 15 festas por noite aos fins de semana, mas, agora, são cerca de 50.
“Percebo que se sintam fechados e queiram divertir. Mas tenho a impressão de que há pessoas que estão a demonstrar muito pouca cautela”, avaliou.
O facto dessas festas serem organizadas ilegalmente aumenta as possibilidades de que algo corra mal.
"Acredite ou não, o barulho é a última das minhas preocupações", disse Ryu.
“Tivemos grandes incêndios durante três anos seguidos... e há pessoas a fumar nas varandas. Para onde acha que vão as pontas dos cigarros?”, perguntou irritado.
Além disso, com os carros dos convidados estacionados em ruas sinuosas, os serviços de emergência costumam ter dificuldade para chegar aos locais de festa.
50 mil dólares em dinheiro
A maioria destes eventos não é organizada pelos proprietários das mansões, mas por promotores das casas noturnas, que encontram as propriedades na plataforma de aluguer Airbnb por valores como 10 mil dólares a noite.
Eles promovem as suas festas como se fossem em discotecas, disse Steve Lurie, da polícia de Hollywood, à AFP.
"É exatamente a mesma coisa. Só que, agora, a minha discoteca tem uma vista deslumbrante de Los Angeles e uma piscina maravilhosa", acrescentou.
Os organizadores costumam cobrar entrada aos participantes e operam um bar em dinheiro vivo nas noites que promovem através de listas de e-mail secretas e no boca a boca. Para eles, multas de 8 mil dólares são vistas como um simples custo operacional.
Em alguns casos, os proprietários nem ficam a saber que tais eventos ocorreram nas suas casas. Mas Skarpelos acha que, muitas vezes, existem acordos "secretos".
"Eles pensam 'Ok, talvez alugue a este tipo esquisito que está a oferecer-me 50 mil dólares em dinheiro'", especulou o representante.
Enquanto a casa envolvida no tiroteio desta semana é anunciada como um refúgio para o fengshui e o ambientalismo, as suas contas nas redes sociais colocam vídeos de dançarinas e empregadas seminuas a servir champanhe.
Os administradores do imóvel garantiram à AFP que não tinham "absolutamente nenhuma informação prévia sobre essa grande festa na mansão".
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