A editora Contraponto projeta iniciar, no próximo ano, uma coleção de biografias de “Grandes Figuras da Cultura Portuguesa” “nossas contemporâneas”, que não “sejam meros repositórios de factos por ordem cronológica”, disse o seu editor.

Agustina Bessa-Luís, Herberto Helder, José Cardoso Pires, Natália Correia, Manoel de Oliveira e Amália são as seis primeiras "grandes figuras" da coleção, que se expandirá a outras personalidades, ao longo dos próximos anos, com o objetivo de "dar mais força ao género biográfico".

Em declarações à agência Lusa, Rui Couceiro, editor responsável da Contraponto, editora do grupo Bertrand/Círculo, afirmou que o projeto visa “figuras ligadas ao século XX”. Para escrever as suas biografias, convidou, maioritariamente, escritores, pois não quer que estas obras “sejam meros repositórios de factos por ordem cronológica”.

“Queria sobretudo que os leitores destas biografias conhecessem bem as extraordinárias personalidades dos biografados, mas, sobretudo, que tivessem prazer ao lê-las e daí a escolha dos cinco ficcionistas, sendo João Pedro George uma exceção, mas com méritos comprovados”, disse Rui Couceiro, aludindo à biografia do escritor Luiz Pacheco (1925-2008), “Puta Que os Pariu!” (2011), escrita pelo sociólogo, que agora assinará o volume dedicado ao poeta Herberto Helder (1930-2015).

A primeira das seis biografias previstas para a primeira fase será dedicada a Agustina Bessa-Luís, é de autoria de Isabel Rio Novo, e vai sair nos começos do próximo ano. Na primeira semana de janeiro, aliás, a editora vai fazer uma apresentação oficial deste projeto, na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, antecipou Rui Couceiro à Lusa.

Bruno Vieira Amaral vai escrever a biografia do escritor José Cardoso Pires (1925-1998), Filipa Martins, a da escritora Natália Correia (1923-1993), Filipa Melo, a da fadista Amália Rodrigues (1920-1999), e Paulo José Miranda faz a do cineasta Manoel Oliveira (1908-2015).

Rui Couceiro afirmou que, “ainda no primeiro semestre de 2019, será editada uma outra biografia”, sem revelar qual, referindo que não está previsto uma regularidade definida para novas obras da coleção, mas este é um projeto para continuar “para lá de 2020", havendo já outras em perspetiva.

O editor lembrou que, em Portugal, “não há uma tradição, nem de aposta nem de leitura de biografias, e, “com esta coleção, a Contraponto pretende esbater esta tendência”.

“Acreditamos que é possível dar mais força ao género biográfico. E acredito muito no género, acho que há espaço de mercado no sentido de as pessoas começarem a ler mais biografias. É, aliás, uma tendência internacional, até porque há personalidades extraordinárias para biografar, de que as seis já escolhidas são um exemplo”, disse Rui Couceiro.

Quanto às biografias, o editor afirmou: “O nosso objetivo não é o de criar polémica. Nesse sentido, tenho mantido contactos com os familiares/herdeiros e amigos dos biografados, pois sei que são sensíveis ao revelar determinadas informações, daí que tenhamos tido este cuidado”.

“Limitámo-nos a perguntar-lhes se queriam ou não colaborar, e a maioria tem sido muito recetiva e colaborante”, acrescentou, referindo que “há outras pessoas que não se sentem confortáveis para falar, mas nem sempre isso é o fundamental”.

“Procuramos retratos completos, rigorosos, e muito bem escritos destas personalidades”, sentenciou Rui Couceiro.

O editor enfatizou que “a dialética entre o biografado e o biógrafo é especial e distingue estes livros, porque os biógrafos já têm os seus leitores e são, de alguma maneira, consagrados, e vão biografar pessoas de referências na nossa cultura”.