A vontade de trabalharem juntos vem de longe, mas persistia a incógnita de como juntar seis braços que partilham um instrumento: “Somos 3 bateristas [que nos últimos anos têm trabalhado em vários grupos e com outros artistas, dos Paus aos Buraka Som Sistema, da fadista Caminho, a Batida e Sara Tavares] e o que é que se vai fazer com três bateristas?”, referiu Riot (Rui Pité), em entrevista à Lusa.

Ao longo dos anos, foram várias as vezes que se encontraram “na estrada, em concertos e assim” e “havia sempre uma grande empatia e uma conversa assim muito por alto de ‘qualquer dia temos que fazer uma cena juntos’”.

Em 2018, descobriram o que é que se podia fazer com três bateristas e decidiram começar uma “espécie de banda de baile, mas 2.0”.

Inicialmente, a ideia do projeto não passava pela criação de originais nem lhes passava pela cabeça a gravação de um álbum, mas sim “criar uma experiência de dança que ficava ali numa espécie de hibrido entre um DJ ‘set’ e o que seria um concerto essencialmente à base de percussão”, explicou Quim Albergaria.

“O objetivo era fazer uma banda de baile, mas que não era de originais, era tipo um DJ ‘set’ aumentado”, disse.

No processo de preparação das noites de DJ ‘set’, “que se transformaram numa residência no Musicbox [em Lisboa]”, o desafio de criarem duas horas de ‘set’ contínuo ou três ‘sets’ por noite, obrigou-os “a criar blocos de música que fossem para além dos instrumentais” que tinham para a atuação.

“E de repente começámos a criar música para suportar o ‘kit’ das três percussões, e nesse desafio fomos criando processos e linguagens”, recordou Quim Albergaria.

Nessa altura, já em 2019, decidiram ir a estúdio, criaram um primeiro instrumental e sentiram que Scúru Fitchádu “fazia sentido ali” e surgiu o tema “Lume”, um dos nove que compõem “Chegou”.

Com a criação de “Lume” deu-se a mudança: “E se fossemos mais do que uma banda de baile? Se fossemos um trio de produtores, se nos empenhássemos e levássemos este som, este pulso, este ritmo, ao centro desta identidade para fazer canções?”.

Entretanto chega março de 2020, que com ele traz a pandemia da COVID-19 e uma paragem total nos projetos dos três bateristas.

“Ficámos com os nossos projetos todos pendurados, mas este era o nosso novo bebé. Tínhamos espaços para trabalhar, eu tenho um estúdio e o Ivo também, e juntámo-nos para trabalhar à espera que esses seis meses [de paragem] passassem.

Ainda antes da paragem total do setor da Cultura, os Bateu Matou tinham criado “Povo”, tema que conta com a voz de Héber Marques, dos HMB.

A estratégia original da banda passava por divulgar os temas em singles. “Mas se não ias conseguir sustentar [os temas] com apresentações decidimos fazer um EP, mas como tínhamos mais material, com o tempo e fechados em casa transformou-se num disco”, contou Quim albergaria, acrescentando que “o resto do disco foi todo feito em contexto de pandemia”.

“Chegou” é um álbum de Ivo Costa, Riot e Quim Albergaria, mas também dos vários convidados: “Acreditamos que a colaboração faz música melhor”.

“A lógica é a de uma banda que também sabe receber. Ouvir a voz, para nós, é de alguma forma inseparável do que eles têm para dizer”, referiu Quim Albergaria.

As letras, na maior parte dos casos “são na essência do vocalista, e complementadas aqui e ali, ajustadas”, pelos três Bateu Matou, “enquanto agentes de produção”.

“Há uma exceção, a ‘Fica’, canção que estava pronta, e trouxemos o Toty [Sa’Med] que gostou muito da canção, decidiu fazê-la dele, e coproduziu connosco esse tema”, recordou o músico.

Além de Scúru Fitchádu, Héber Marques e Toty Sa’Med, “Chegou” conta ainda com as vozes de Papillon, Pité, Blaya, Favela Lacroix e Irma.

O que une os três bateristas aos convidados é, segundo Riot, “em primeiro lugar”, o facto de os admirarem como artistas.

“Chegou” vai ser apresentado ao vivo no Lux, em Lisboa, nos dias 27 e 28 deste mês, mas com as regras em vigor nas salas de espetáculos não poderá ser o que a banda imaginou como “um concerto ideal de Bateu Matou”.

Para Quim Albergaria, “uma solução imediata é muita coreografia de pés”.

“Quem nos vai ver dia 27 ou 28 vai sofrer um bocadinho com a tentação de se levantar ou arranjar soluções alternativas para não mexer o corpo todo, porque a nossa música é música de dança e está pensada para isso, e não faz sentido alterarmos, fazer um ‘unplugged’”, disse o músico.