Rebecca Hall está arrependida de ter pedido desculpa por trabalhar com Woody Allen no auge do movimento Time's Up contra a violência sexual em Hollywood.
A carreira da atriz britânica ficou lançada após trabalhar com o famoso cineasta em "Vicky Cristina Barcelona" (2008), que a voltou a chamar para "Um Dia de Chuva em Nova Iorque" (2019).
Em janeiro de 2018, poucos meses após explodir o escândalo #MeToo com o produtor Harvey Weinstein e outros homens poderosos, Dylan Farrow, filha de Allen, reafirmou as acusações de abuso sexual que alegadamente terá sofrido do pai quando era criança em 1992, pedindo ao mundo que finalmente acreditasse nela.
Apesar de sempre ter negado as alegações, que foram investigadas e nunca corroboradas, o vencedor de quatro Óscares e muito premiado na Europa viu a carreira ser muito afetada. Vários dos seus atores distanciaram-se publicamente, mostrando-se arrependidos de terem trabalhado com ele, incluindo Hall, que doou o salário do segundo filme, tal como Timothée Chalamet, Selena Gomez e Griffin Newman.
"Vejo não apenas o quão complicado é este tema, mas que as minhas ações fizeram outra mulher sentir-se silenciada e rejeitada. Lamento esta decisão e não tomaria a mesma hoje", disse a atriz na altura.
Quase sete anos depois surge o arrependimento, com Hall a dizer à revista do jornal britânico The Guardian que os atores não se deviam sentir pressionados a tomar posições sobre questões controversas.
A sua posição, esclarece, foi tomada quando estava num “emaranhado” emocional e grávida, e quis 'fazer algo definitivo' para ir de encontro à importância do momento que se vivia e a necessidade de acreditar nas mulheres.
Um impulso em que agora, não se reconhece: "Fico dividida com isto. É muito invulgar eu fazer uma declaração pública sobre o que quer que seja. Faço as coisas, é assim que sou política. Não me vejo como uma atriz-ativista. Não sou essa pessoa. E de certa forma arrependo-me de ter feito essa declaração porque acho que não é responsabilidade dos seus atores falar sobre essa situação".
Hall conta que nunca se esqueceu de estar a filmar uma cena exterior de "Um Dia de Chuva em Nova Iorque" com Jude Law quando apareceram os jornalistas a fazer perguntas sobre Weinstein, um dos produtores do filme, pois os diálogos eram uma conversa sobre sexo entre homens e adolescentes.
Mas a atriz acrescenta que o que fez em 2018 "tornou-se apenas 'outra pessoa denuncia Woody Allen e arrepende-se de ter trabalhado com ele’, o que não foi o que realmente disse. Não me arrependo de ter trabalhado com ele. Deu-me uma grande oportunidade profissional e foi gentil comigo".
Hall diz que "já não está em contacto" com o realizador, "mas acho que não devemos ser juiz e júri nisto".
Se fosse agora, "não teria dito nada. De facto, a minha política é ser uma artista. Não aparecer e proclamar tanto as tuas coisas. Não acho que isso faça de mim apática ou desinteressada. Só acho que o meu trabalho é esse".
Em maio de 2020, Allen disse que eram oportunistas os atores que se demarcaram e manifestaram arrependimento por terem trabalhado nos seus filmes, nunca altura em que isso tinha sido feito por Hall, Mira Sorvino, Greta Gerwig, Kate Winslet, Elliot Page e Colin Firth (Michael Caine fez o mesmo, mas recuou e disse que era preciso respeitar as decisões judiciais) e foram criticados aqueles saíram em sua defesa, como Scarlett Johansson, Diane Keaton, Alec Baldwin, Alan Alda, Javier Bardem ou Larry David.
"É tonto. Os atores não fazem ideia dos factos e agarram-se a uma posição pública segura que serve os seus interesses. Quem é que no mundo não é contra o abuso de crianças? É assim que são os atores e as atrizes e [repudiarem-me] tornou-se a tendência da moda, como de repente toda a gente comer couves", reagia numa entrevista ao mesmo The Guardian.
O realizador mostrava-se ainda conformado com o escândalo que ofuscava a carreira: "Parto do princípio que, para o resto da minha vida, um grande número de pessoas vai pensar que fui um predador."
E reconhecia que não havia nada a fazer: "Tudo o que digo soa egoísta e defensivo, por isso o melhor é continuar o meu caminho e trabalhar".
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