Na base do texto dramatúrgico, escrito por Luísa Monteiro para a companhia teatral, esteve um estudo dos investigadores Jaime Pinho, João Pedro Santos e Vanessa Amorim sobre a vida e os contextos sociais das mulheres conserveiras de Setúbal, disse à agência Lusa o encenador da peça.

“A Casa de Emília” não é um "trabalho documental", acrescentou José Maria Dias, que também é diretor artístico do Teatro Estúdio Fonte Nova. É "antes uma tragicomédia" na qual se entrecruzam universos de mulheres conserveiras de várias localidades, precisou.

A ação da peça situa-se entre os anos 1920 e 1960/1970 e gira em torno de Emília, uma personagem inventada, que rondará os 70, 80 anos, e que vai discorrendo sobre a vida das conserveiras naquelas datas passadas.

A decadência e mesmo o encerramento que, entretanto, algumas fábricas de conservas atravessaram, até à atualidade, são também mencionadas pela personagem, assim como os polos desta indústria que ainda se mantém em Portugal, nomeadamente nas zonas de Aveiro e Olhão.

"A violência do trabalho – que ia do escamar, amanhar, escorchar e salgar – inerente ao dia-a-dia a encher latas com comida que às vezes lhes faltava ao estômago e ao dos filhos, que viam partir para a guerra [colonial]" são temas que perpassam na peça, referiu o encenador.

O universo das mulheres conserveiras algarvias - sobretudo de Olhão e de Vila Real de Santo António, onde, segundo historiadores, terá sido instalada a primeira fábrica conserveira em meados do século XIX – estão também presentes na peça, já que a autora do texto reside no Algarve.

Luísa Monteiro, natural de Famalicão (1968) e residente no Algarve desde 1998, que exerceu jornalismo durante 17 anos e tem obra publicada em vários registos literários, é uma autora “bem conhecida e acarinhada” pelo Teatro Estúdio Fontenova, disse ainda José Maria Dias, também diretor artístico da companhia.

“A! Minha Dinamene!”, peça estreada pela companhia, em 2018, sobre mulheres que, em risco de sobrevivência, eram abandonadas e obrigadas a escolher entre a fé e a prostituição, tem igualmente texto de Luísa Monteiro.

Esta peça anterior partiu também de uma investigação histórica de José Luís Neto e das “Cartas de Perdão”, apresentadas a João II, que reinou de 1481 a 1495, por centenas de mulheres condenadas ao exílio.

Com música original de Jorge Salgueiro e participação do Coro Setúbal Voz, “A Casa de Emília” é interpretada por Eunice Correia, Fábio Nóbrega Vaz, Graziela Dias e Sara Túbio Costa.

O vídeo é de Eduardo Dias, os figurinos, de Maria Luís e, o espaço cénico, desenho de luz e 'voz off', de José Maria Dias.

“A Casa de Emília” vais estar em cena no Fórum Municipal Luísa Todi até 15 de novembro, num total de oito representações.

Um dia depois da estreia, na galeria da Casa da Avenida, também em Setúbal, será lançado o livro da peça que inclui um texto sobre o estudo dos três investigadores, na origem da peça.

O encenador e a autora da peça, assim como a investigadora Vanessa Iglésias Amorim, estarão na apresentação desta obra.

O lançamento conta ainda com a presença da socióloga e museóloga Isabel Victor, que foi diretora do Museu do Trabalho Michel Giacometti (Setúbal), durante os seus primeiros 15 anos da existência.

Diretora do Museu do Sporting Clube de Portugal desde 2017, Isabel Victor exerceu, entre outras funções, a de dirigente na Rede Portuguesa de Museus, entre 2009 e 2012.

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