Júlio Resende e Salvador Sobral dão o corpo ao manifesto pelos Alexander Search, projeto que dá vida aos poemas do heterónimo de Fernando Pessoa. Um processo que começou a ganhar corpo há dois anos e que agora saiu para as ruas - e atualmente até lidera os tops nacionais. No dia em que abriram o Super Bock Super Rock, com o primeiro concerto desta quinta-feira, quisemos saber como é que se dá música aos poemas do que é por muitos considerado o maior poeta da língua portuguesa.
SAPO Mag: Maria Bethânia, Camané... há vários artistas que já interpretaram Fernando Pessoa. Qual é a maior aventura em desmistificar os poemas do Pessoa?
Júlio Resende: Não é fácil desmistificar e acho que nunca será possível, mas é possível inspirarmo-nos neles e tentar criar algo a partir deles. Foi mais ou menos o que tentei fazer em relação a esta música. A ideia é que somos uma banda de música e os poemas ficaram ao serviço da música, mas eles inspiraram-nos a desenhar um certo enquadramento musical e direção musical. E isso acaba por ser um material maravilhoso.
SAPO Mag: E como é que vocês imaginam Fernando Pessoa ali no palco do Super Bock Super Rock, perante uma multidão, como que uma estrela de rock?
Salvador Sobral: É uma excelente pergunta. Eu acho se calhar não ia perceber tão bem as canções. Mas uma canção como "I Love My Dreams", acho que ele não poderia ficar indiferente. Ou a "Regret". Depois o resto são coisas que não são da geração dele. Se bem que ele é bastante aberto.
SAPO Mag: Por exemplo, Álvaro de Campos iria ficar eufórico se vivesse nesta época.
Salvador: Sim, claro.
Espreite as imagens da atuação no Super Bock Super Rock:
SAPO Mag: Este projeto começou a ser desenhado há dois anos. Como é que podes dizer que este foi o timing ideal?
Júlio Resende: Foi pura coincidência. Já tínhamos preparado isto há algum tempo. Depois eu e o Salvador começámos a trabalhar no disco dele também e acabou também por ser a altura que o disco acabou por sair. Podia ter saído há um ano, mas foi pura coincidência.
Salvador Sobral: Mas por causa da Eurovisão?
SAPO Mag: Sim, da tua crescente mediatização.
Salvador Sobral: Sim, foi coincidência, mas foi uma feliz coincidência.
Júlio Resende: Sim, sim! Foi uma FELIZ coincidência. Ajuda que o projeto tenha mais visibilidade. Ou então foi o Fernando Pessoa!
SAPO Mag: Li numa entrevista que o David Fonseca era um dos nomes que iria fazer parte do projeto. Vocês gostavam de contar com outras pessoas para colaborar?
Júlio Resende: Ainda não pensámos nisso muito concretamente. Ou para chamar alguém para cantar connosco. Ainda não houve possibilidade de acontecer. Mas no futuro poderá acontecer. No entanto, não sinto falta disso no disco nem na banda. Mas gostava de experimentar no próximo disco, talvez.
SAPO Mag: Então, vamos falar do próximo disco. [risos] Têm outros autores que gostassem de interpretar?
Júlio Resende: A banda vai-se chamar sempre Alexander Search ainda que toque material de outros heterónimos ingleses do Fernando Pessoa - no próximo disco isso já acontece. Ele tem tanta coisa que eu não preciso de me preocupar nos próximos anos.
SAPO Mag: Concordam que a versatilidade do jazz acaba por combinar muito bem com os heterónimos do Fernando Pessoa?
Salvador Sobral: Sim, a própria música já é "heterónica"... "heterónima?"... sendo que tem heteronímia. Sendo que tem esta vertente jazzística, óbvia com os nossos backgrounds, e este lado mais rock e punk que assumimos nas nossas canções.
Júlio Resende: Claro, sem dúvida.
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