O agressor de Salman Rushdie, um jovem norte-americano de origem libanesa, declarou-se na quinta-feira perante um tribunal em Mayville, no Estado de Nova Iorque, inocente da "tentativa de homicídio" do escritor.

Hadi Matar, libanês de 24 anos nascido nos Estados Unidos e considerado por especialistas em radicalismo islâmico um simpatizante do Irão e da Guarda Revolucionária iraniana, esfaqueou Salman Rushdie durante uma conferência na sexta-feira na cidade vizinha de Chautauqua.

Detido imediatamente após o ataque, o suspeito já se tinha declarado inocente durante uma audiência processual.

Salman Rushdie está no "caminho da recuperação", diz agente do escritor britânico
Salman Rushdie está no "caminho da recuperação", diz agente do escritor britânico
Ver artigo

O jovem compareceu em tribunal algemado, de cabeça baixa, com máscara e vestido com uniforme de prisioneiro, com listas pretas e brancas, prestando declarações através do seu advogado.

O juiz optou por manter o suspeito detido, sem direito a fiança, noticiou a agência France-Presse (AFP).

Numa entrevista ao jornal The New York Post, divulgada na quarta-feira, Hadi Matar declarou ter aversão a Rushdie por este “atacar o Islão” no seu romance “Os Versículos Satânicos”, que admitiu não ter lido, mas negou qualquer contacto com o Irão.

Na breve entrevista concedida ao diário norte-americano, o acusado, que está detido num estabelecimento prisional em Chautauqua, expressou surpresa por Rushdie ter sobrevivido ao ataque e evitou, a conselho do seu advogado, revelar se se inspirou na ‘fatwa’ do ayatollah que dirigiu o Irão desde a Revolução Islâmica, em 1979, embora tenha deixado clara a sua simpatia pelo antigo líder supremo iraniano.

O autor de 75 anos, britânico de origem muçulmana indiana e contra quem o ayatollah Khomeini (1902-1989) emitiu em fevereiro de 1989 uma ‘fatwa’ (decreto religioso) ordenando aos muçulmanos que o assassinassem, foi na passada sexta-feira esfaqueado dez vezes no pescoço e no abdómen, durante um evento literário público em Chautauqua, no norte do Estado de Nova Iorque, depois de ter vivido muitos anos em reclusão.

Salman Rushdie, de quem logo após o ataque se disse encontrar-se em estado crítico, ligado a um ventilador em consequência do esfaqueamento no pescoço, correr o risco de perder um olho e com o fígado destruído pelos golpes, continua internado em estado grave num hospital do Estado da Pensilvânia e os pormenores sobre o seu estado de saúde têm sido escassos, mas o seu filho revelou que já não precisa de respiração assistida e que na terça-feira foi considerado “eloquente” quando prestou depoimento a agentes policiais.

O ataque provocou ondas de choque, especialmente nos países ocidentais: o presidente norte-americano, Joe Biden, condenou o "ataque brutal" e prestou homenagem a Rushdie pela sua "recusa em ser intimidado e silenciado".

Após três dias de silêncio, o Irão negou na segunda-feira qualquer envolvimento no ataque, atribuindo as culpas ao próprio Salman Rushdie.