"É só isso/ Não tem mais jeito/ Acabou, boa sorte/ Não tenho o que dizer/ São só palavras/ E o que eu sinto/ Não mudará/ Tudo o que quer me dar/ É demais/ É pesado/ Não há paz". Quando se fala de Vanessa da Mata, são estes os primeiros versos que saltam à cabeça do público. A cantora brasileira regressa esta semana a Portugal para quatro concertos - sesta-feira, dia 27, vai atuar no Casino Póvoa de Varzim, no dia seguinte, no salão preto e Prata do Casino Estoril, no dia 11 de agosto, no espaço L´Kodac, em Leça da Palmeira, e dia 13 de agosto no Festival do Marisco de Olhão.
Para esta visita, Vanessa da Mata traz na bagagem o seu mais recente DVD, "Caixinha de Música", onde reúne o passado e o presente da sua carreira - os novos temas, como "Orgulho e Nada Mais" e "Gente Feliz”, "Ai, Ai, Ai", e sucessos como "Amado", "Boa Sorte/Good Luck", "Não Me Deixe Só", "Ainda Bem" ou “As Palavras”, não vão ficar de fora do alinhamento dos concertos.
"Foi difícil escolher o alinhamento porque tínhamos muitos discos para apresentar. Tínhamos de contar a história de todos os discos que não apresentamos com imagens. Há um fio condutor do início ao fim. E acho que não está a faltar muita coisa, estão lá todas as épocas", conta a artista em conversa com o SAPO Mag.
"Caixinha de Música" é o segundo DVD da carreira de Vanessa da Mata. Já podiam ter sido mais, nas palavras da cantora, não fosse a atenção que dá aos detalhes. "Sou uma pessoa que dá muita atenção aos detalhes, chata e muito atenta a todos os detalhes num DVD. Nos últimos anos, todos os DVDs que gravei no Multishow... não consegui gostar das imagens. E gostei apenas deste. E, por isso, só tenho dois DVDs. Acho que este DVD tem muitos detalhes, tem boas cores e bons cenários", conta.
Para este trabalho, as canções mais antigas ganharam uma nova vida, explica. "Têm arranjos modificados, mas não estão tão modificadas e as pessoas conseguem continuar a reconhecer (...) A música está lá, tem o mesmo caminho... mas tem mais detalhes, que não existiam", revela.
"Caixinha de Música" é apenas o último projeto da cantora brasileira, que já soma 15 anos de carreira. Mas o gosto pelas canções começou ainda na adolescência. "Comecei a cantar com 15 anos, sem os meus pais saberem. Morava fora da minha cidade natal e, então, à noite, como as pessoas achavam que eu era maior de idade, cantava num bar e gostava muito da banda... e essa banda acabou por me convidar para cantar", recorda.
"Aos 18 anos, comecei a carreira de forma mais séria, em São Paulo. Só comecei a compor as minhas canções com 21 anos... já compunha, mas só aí é que comecei a mostrar as minhas canções e a Maria Bethânia cantou uma versão minha chamada 'A força que nunca seca', com música de Chico César e letra minha. E aí começou a minha carreira maior como compositora e de seguida como cantora. Depois, aos 26 anos, lancei o meu primeiro disco", lembra a artista.
Mais de uma década depois, Vanessa da Mata ainda recorda com um sorriso o dia em que Maria Bethânia cantou um tema seu. "Foi maravilhoso ter a Maria Bethânia a cantar a minha canção porque eu já compunha música a pensar nela, gostava dela, da qualidade dela, da atenção que ela tinha com as palavras e da sua interpretação. É diferente uma cantora e uma intérprete. Ela trazia as canções à tona. Gostava disso. Quando ela cantou uma música minha, achei que tudo fazia sentido, que estava no caminho certo", frisa.
"Parecia a consagração de uma ideia que, para mim, era o máximo que poderia ter. Depois disso, fui cantar com ela e com o Caetano Veloso uma canção e quem estava no público era o Chico Buarque... a nata da música brasileira e eu era fã. Não era fã de música internacional. Era fã de música brasileira, que era uma referência de qualidade na minha cabeça", recorda, acrescentando que achava que "não tinha mais nada para fazer depois disso".
Depois do primeiro salto, a carreira de Vanessa da Mata foi acumulando sucessos. "Depois disso, a minha carreira cresceu de uma forma extremamente forte. Algumas canções chegaram ao primeiro lugar aqui no Brasil e em Portugal. E eram músicas com as quais as pessoas ficavam admiradas, porque tinham muita qualidade na época. Estavam em primeiro lugar e não eram músicas com letras fortes ou com histórias, eram músicas com mais ritmo. Por milagre, essas canções ficaram no primeiro lugar e acho que foi incrível. E isso tem-me acontecido ao longo da carreira. Temos feito digressões grandes e com esta 'Caixinha de Música' já fomos aos Estados Unidos duas vezes e agora vamos para a Europa", explica.
"Há muita dedicação, mas há muita solidão também"
Para Vanessa da Mata, a sua carreira é marcada por uma junção de sorte e trabalho, com solidão à mistura. "Há muita dedicação, mas há muita solidão também - sempre que vamos para a estrada, há um pouco de solidão. Mas isso não é mau. Adoro viajar, adoro trabalhar. É bom poder conhecer sítios que, talvez, não pudesse ter a oportunidade de conhecer se não fosse em trabalho, se trabalhasse noutra coisa. Também vamos fazendo amizades e aí em Portugal, por exemplo, conheço o António Zambujo, o Ricardo Pereira, o Tiago Bettencourt, com quem gravei uma canção no ano passado, e o António Chainho. Vamos conhecendo pessoas e isso dá um gosto diferente à vida", confessa.
Regressar a Portugal, um dos países onde já foi feliz, é sempre bom, confessa. Especialmente porque pode comer arroz de pato. "Sou fanática por arroz de pato. Para terem uma ideia, levei a marmita para o hotel e comi de manhã à noite. É horrível, sou quase viciada. Mas também sou viciada nos doces, mas estou a precisar de parar um pouco. Mas o arroz de pato é uma fixação. Há umas senhoras que fazem e que me mandam", graceja.
"Acho que o Brasil tem uma mentalidade de adolescente"
Para lá da música, a atualidade brasileira também preocupa Vanessa da Mata. "Tem acontecido uma revolução no Brasil, em todos os sentidos. A nível político, estamos a ver pessoas que nunca vimos a passar perto de uma cadeia... a serem presas", lembra.
"Estamos a ver muitas coisas a acontecer e vários políticos, de todos os partidos. Eu fico a perceber que alguma coisa mudou desde que eu era criança porque nenhum deles era preso. Acho inocente da parte dos meus amigos defender algum político hoje. Existe uma grande conspiração, um sistema de corrupção com muitos tentáculos no Brasil", defende.
Para Vanessa da Mata, ainda há um longo caminho a percorrer no Brasil. "Acho que o Brasil tem uma mentalidade de adolescente. Somos muito positivos, estamos sempre num lugar de felicidade intocável. Temos uma cultura de felicidade e isso é muito bom. Tem de continuar isso mas, ao mesmo tempo, temos de ter responsabilidade", sublinha a cantora brasileira.
Comentários