“Para mim, fazer este disco, foi um sonho que sempre acalentei pela música de Angola”, disse o músico à Lusa, referindo que, no seu primeiro álbum, também gravou alguns temas com a Orquestra Municipal do Rio de Janeiro.

“Tive sempre o sonho de cantar uns clássicos da música de Angola, vestidos com outra roupagem, neste caso os arranjos feitos pela Orquestra Sinfónica de Londres”, que é dirigida por Nick Ingman.

O álbum intitula-se “Classics of My Soul” e o músico angolano destacou “o papel fundamental” do produtor, Derek Nakamoto, que foi pianista de Michael Jackson.

“Trabalhámos com franqueza relativamente ao que se estava a fazer; o Derek [Nakamoto] já tem o problema do ego resolvido e era arte o que queríamos fazer”, disse. “Foi uma sorte [trabalhar com Nakamoto], mas foi fundamental para este álbum, em que procuro cantar a alma angolana”, rematou.

Além de temas cantados em português, o álbum, editado pela Enja, inclui canções em umbundo, língua do Sul de Angola, e em quimbundo, predominante no Norte, daquele país africano. O CD inclui 11 temas entre os quais “Teresa Ana”, “Calção roto no rabo”, “Humbi Humbi Yangue”, “Muxima” ou “M’biri M’biri”.

“Foi um disco suado, foi duro fazer isto, houve uma longa caminhada para chegar a estes pormenores”, disse o músico que acrescentou: “Quis realmente mostrar ao mundo aquela música ancestral que é a angolana, e os arranjos musicais dão uma maior dimensão à própria realidade da música angolana”.

Referindo-se aos espetáculos em Portugal, agendados para o dia 28 de abril, no grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, e no dia seguinte, na Casa da Música, no Porto, ambos produzidos pela Uguru, o músico afirmou que não será uma orquestra em palco, mas o seu quinteto com três violinos, sendo as canções interpretadas com “novos arranjos só para cordas”. “O violão e a minha voz é que são determinantes neste disco”, sublinhou o músico.

Nos palcos portugueses, com Waldemar Bastos (violão e voz), vão estar Derek Nakamoto (piano), Mitchell Long (violão acústico), Mafwala Komba (percussão e bateria) e Jonas Dowouna-Hammond (contrabaixo)

Nascido há 59 anos, em M’Banza Kongo, no norte de Angola, o músico realçou, nas declarações à Lusa, “os primeiros tempos” e a influência do pai, que compunha música sacra. Hoje as novas gerações de músicos apontam-no como uma referência, mas não se sente uma estrela, disse. “Falam do meu trabalho, me tomam como uma referência, mas eu ando na rua, abraço todos e tenho a felicidade, graças a Deus, que tudo sabe, de ser reconhecido em todo o país, em qualquer lado que vá, isso é verdade”, afirmou.

Com “Classics of my soul”, Waldemar Bastos conta atuar, ainda este ano, em França, Áustria, Coreia do Sul e Brasil. “Em 2014 provavelmente atuarei em Lisboa, com a Orquestra Gulbenkian”, adiantou à Lusa.

Waldemar Bastos começou a tocar acordeão aos sete anos, seguindo-se as aulas de violão e de formação musical. Constituiu uma banda, a Jovial, com a qual atuou em várias regiões de Angola. Waldemar Bastos formou outros grupos de baile com êxito, como o realizado em Luanda, em 1990, ao qual assistiram 200 mil pessoas, segundo dados do músico.

Na década de 1980 viveu no Brasil e, com o apoio de Chico Buarque, com o qual colaborara anos antes no projeto Kalunga, gravou o seu primeiro disco, “Estamos Juntos” (1983).

Viajou para Paris e, depois, para Lisboa, onde gravou os álbuns “Angola Minha Namorada” (1990) e “Pitanga Madura” (1992). Em 1997, em Nova Iorque, gravou “Pretaluz” (1997), ao qual se seguiu, em 2002, o disco “20 Anos de Carreira”. Do “Pretaluz”, os temas “Muxima”, “Sofrimento” e “Querida Angola” integraram a banda sonora do filme “Sweepers”, de Dolph Lundgren. O álbum “Renascence” foi lançado em 2005, com o selo da neerlandesa World Connection.

A convite de David Byrne, Waldemar Bastos participou na recompilação “Afropea 3: Telling Stories to the Sea”, na qual também participou Cesária Évora.

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