A vontade de Marta Miranda se dedicar a um álbum a solo nasceu na altura em que encerrou a Tasca Beat, tasca que tinha no bairro de Alfama, em Lisboa, e que é também o nome do álbum de estreia dos O’queStrada, editado em 2009, contou em entrevista à Lusa.
“Uma mulher na cidade”, que saiu no ano passado pela editora alemã Jaro Medien, é “um álbum de vadiagem”, feito de fados e canções “encontrados pelas ruas de Lisboa”.
O título remete para o de um álbum de Carlos do Carmo, “Um homem na cidade”, editado em 1977.
“A principal razão [para o título do álbum] é pensar na mulher na cidade, no espaço público, 40 anos depois de ‘Um homem na cidade’. Como é uma mulher na cidade 40 anos depois”, explicou.
MirAnda, como “mulher que sai à noite e por vezes janta sozinha”, vê poucas mulheres a fazer o mesmo. “E gostava de ver mais, e de ver mulheres mais à vontade pelas ruas, porque muitas vezes não é tão seguro assim. O dia em que uma mulher puder andar à vontade pelas ruas, a qualquer hora do dia ou da noite, é um bom sinal para a Democracia”, disse.
“Uma mulher da cidade” tem Lisboa como cidade referência, mas é “também das mulheres pelas cidades do mundo”.
Entre os dez temas que compõem o álbum há originais e versões de fado, que MirAnda cantava na Tasca Beat, como “Cacilheiro”, “Rosinha dos limões” e “Alfama”, e “há muito gostaria de musicar”.
Além de português, em “Uma mulher na cidade” ouve-se também crioulo e francês.
“Já nos O’queStrada tínhamos alguns temas em crioulo, foi a primeira língua em que aprendi a tocar à viola, muito graças à comunidade cabo-verdiana de Lisboa”, recordou MirAnda, para quem o crioulo “é uma língua a que se deve tomar mais atenção, e as novas gerações estão a tomar finalmente, porque tem uma raiz portuguesa e é uma língua interessante para os portugueses aprenderem”.
Já o francês “vem deste caminho que Portugal fez também muito francófono” e que MirAnda faz “desde sempre”. “É uma segunda língua para mim”, contou.
O tema que canta em francês, “Petit Pays II”, tem composição sua e letra do músico Jean Marc Pablo, o contrabaixista de O’queStrada.
“É uma carta de amor a Portugal, dele enquanto francês. Um país que mudou a vida dele e o modo de estar”, partilhou.
“Uma mulher na cidade” conta com “participações muito valiosas” de outros músicos “imigrados há muito tempo em Lisboa e que fazem parte da cidade”, como Mbye Ebrima, da Gâmbia, que participa na versão do fado “Alfama”, onde a kora toma o papel da guitarra portuguesa, ou Kimi Djabaté, da Guiné-Bissau, com o seu balafon.
Sem editora ou distribuição em Portugal, “Uma mulher na cidade” pode ser ouvido nas plataformas de ‘streaming’.
MirAnda ainda tentou arranjar uma editora portuguesa, mas acabou por desistir.
Durante os anos em que foi a voz dos O’queStrada, Marta Miranda fez “muitas digressões no estrangeiro”, e gostaria “muito de voltar a Portugal com este álbum e de ter mais espetáculos aqui”.
Para já, tem o espetáculo de hoje no B.Leza, no qual MirAnda estará acompanhada por Simone Carugatti, na guitarra e ukulele, e Ganso, nas programações. Além disso, haverá convidados, como Mbye Ebrima, na kora, Joana D’Água, na cabaça, e Gil Dionísio, no violino.
“Vai ser um encontro entre amantes de Lisboa”, referiu a cantora.
Comentários