Palco Principal - É impossível falar do teu álbum sem começar pela própria capa. O que simboliza o facto da capa do teu disco ser uma foto tua enquanto pequeno?

João Correia - Lembro-me daquela foto desde sempre. Camisola feita pela minha mãe, o cabelinho com franja curta demais e aquele olhar meio assustado. Quando dei o nome “The Good & The Mean” ao disco, lembrei me de usar essa foto para a capa. Acho que é forte e encaixa na perfeição com o que tinha em mente. Podes ouvir uma pessoa a cantar a sua música e olhar para ela em criança, da maneira mais pura e genuína possível. Menos fácil foi voltar a encontrar essa foto. Tive de vasculhar em casa dos meus pais e procurar fotos antigas na esperança de a encontrar.

PP - És músico em inúmeros projetos, que vão desde Walter Benjamin a Julie & The Carjackers. O que significa esta tua aventura a solo?

JC - Estas músicas foram escritas porque precisei de as escrever. Foi um processo que demorou uns seis meses, em que fui acumulando canções que nasciam da vontade de mandar coisas cá para fora. A temática do disco e o tipo de composição é diferente do que tinha feito e não fazia sentido tocar estas canções noutra banda. Chegou uma altura em que senti que devia mesmo gravar, editar e tocar estas músicas ao vivo.

PP - Qual foi o momento em que decidiste montar o teu próprio projeto? O que é que despoletou essa vontade?

JC - Foi como disse antes. Não pensei em nada. Estava numa fase mais confusa e perdida e é nessas alturas que escreves mais. Fui escrevendo sem pensar e nos locais mais estranhos possíveis. Nem pensava em canções, apenas frases e temas. Depois fui juntando tudo e construindo as canções. Quando começas, depois não paras. Durante esses seis meses não pensei em mais nada. Escrever e começar a gravar as demos era o meu objectivo. E foram seis meses de que não me esqueço tão rapidamente.

PP - Já tinhas músicas previamente compostas, ou começaste a construir tudo de raiz?

JC - A única música que já tinha escrita era a “Under my feet”. O resto foi tudo de raiz.

PP - Porquê TAPE jUNk?

JC - Uso esse nome há muito tempo. Escrevia isso em cassetes antigas, das minhas gravações em casa. Já não me lembro bem como surgiu.

PP - Sentes que este teu álbum, assim como a fotografia que o ilustra, é um retrato teu, na medida em que é um trabalho introspetivo?

JC - Sim, é assustadoramente introspetivo.

PP - Como é que nasceu esta tua ligação às raízes da música norte-americana?

JC - Ao longo dos anos, o tipo de música que consomes acaba por fazer parte de ti. Estas canções foram escritas à guitarra acústica e voz. E foi assim que saíram.Quando juntei o resto dos instrumentos, quis que a base continuasse a ser essa e que fosse tudo um suporte para a letra e melodia da canção. E ficou bastante americano e com um imaginário muito western e outlaw country que não tinha sequer sido pensado. Se saiu assim, é porque está cá dentro.

PP - É possível encontrar no teu press release referências a artistas como Johnny Cash e Hank Williams. Que outros artistas é que te influenciaram nesta tua aventura?

JC - Frank Black, Pavement e Beck estão sempre presentes. Encontro sempre influências destes três em quase tudo o que faço.

PP - Canções como “The Good an The Mean” e “Under My Feet” transportam-nos, inevitavelmente, até à América dos cowboys. Há alguma ligação entre o título do teu álbum e o filme “The Good The Bad and The Ugly”?

JC - Pois, também reparo nisso, mas não veio daí. O nome surgiu enquanto escrevia o tema “The Good & The Mean”. Quando acabei de escrever o primeiro verso, dei logo o título à canção. Quando a acabei a canção, dei o título ao disco. Foi a penúltima música a ser escrita. É um título que resume na perfeição a temática do disco.

PP - "From the Screaming Jay Hawkins' Spell to Chuck Berry's Wet Mademoiselle” é um dos versos do tema “The Good and The Mean”. O que queres dizer com isto?

JC - O tema fala um pouco do mito do pacto com o Diabo. Durante a letra vou sempre falando de inúmeras situações e o que é, ou aparenta ser, correcto ou errado no meu percurso. Este verso é menos sério e pouco pessoal, na verdade. Falo do Screaming Jay Hawkins pelo assustador que é a versão original do “I Put A Spell on You” e o impacto que me causou a primeira vez que ouvi. “ I put a Spell on you because you’re mine” é uma frase que se enquadra bem no tema desta música, os gritos violentos de Hawkins e esta frase são super demoníacos. Falo das “Wet mademoiselle” do Chuck Berry como piada acerca da sua sex tape obscura. É a parte com mais humor negro da letra.

PP - “The Good and The Mean” foi editado através da Optimus Discos e está disponível para download gratuito no site. Qual o próximo capítulo desta tua aventura? Já tens material pronto para lançar um álbum novo?

JC - Já tenho bastantes músicas novas. Para a semana vou começar a gravar as primeiras demos para o segundo disco com o António V Dias. Para além de baterista, foi com ele que produzi “The Good & The Mean”. Já estamos a começar a pensar no próximo.

PP - Onde é que vai ser possível ouvir TAPE jUNk ao vivo nos próximos tempos?

JC - Para já, vamos estar no Indie Music Fest em Baltar, na Optimus D’Bandada no Porto, Feira de S. Mateus em Viseu, Salão Brasil em Coimbra e C.C. Vila Flor em Guimarães. Em Setembro voltamos para concertos em Lisboa. E depois vai haver mais, muito mais, espero.

Entrevista: Manuel Rodrigues

Fotografias: Cláudia Manuel Silva e Vera Marmelo