Se a grandeza se fez, efectivamente, sentir em quase todas as esquinas do certame – destaque-se a pontualidade dos concertos, a diversidade de actividades paralelas a decorrerem em simultâneo com aqueles, a exímia organização de toda a área de restauração, e a permanente limpeza do recinto -, o Verão, nem por isso, com um vento persistente e uma chuva traiçoeira a atordoarem o segundo dia do festival.
Sexta-feira, contudo, escapou aos castigos dum São Pedro mal-humorado, brindando os presentes com um fim-de-tarde soalheiro, idílico cenário para os concertos de Souls of Fire, The Original Wailers e Ojos de Brujo, que despertaram os sentidos para as actuações mais esperadas de dia 26: as de Horace Andy e Patrice.
Foi à banda de Leça da Palmeira que coube o arranque do evento – um arranque a meio gás, não por culpa da performance em si (franca, enérgica e expansiva, como sempre), mas sim dos festivaleiros mais desprevenidos, que, por volta das 19h00, ainda se dividiam entre a montagem das tendas e a árdua tarefa de estacionar as suas viaturas junto do Ericeira Camping, o local que acolheu as festividades.
Mais público tiveram os The Original Wailers, que, num claro tributo à memória sempre viva de Bob Marley (com quem, em tempos, partilharam o palco, sob o nome “Bob Marley & The Wailers”), salpicaram o seu repertório com os êxitos Get Up, Stand Up, No Woman No Cry, I shot the Sheriff, Exodus e Jamming - apostas sensatas, não fossem esses temas os mais reconhecidos e aplaudidos pelo público, entre tantos outros cantados ao longo dos dois dias de música.
Protagonizaram o terceiro concerto do dia as sonoridades flamencas do conjunto catalão Ojos de Brujo, que apresentou em Ribeira d’Ilhas o seu mais recente disco de originais, o contagiante “Aocaná”. Com o pôr-do-sol como pano de fundo, conquistaram os presentes com variadíssimas animações vídeo, aprumados jogos de luzes e com as suas deambulações dançantes, que logo foram imitadas, ainda que de uma forma algo desleixada, pelos fãs mais foliões. Afinal, nem só de reggae vivia o Sumol Summer Fest!
A actuação de Horace Andy viria uma hora e meia mais tarde superar as expectativas de todos, cuja alma, mais do que os corpos, se balançaram ao som de um reggae, emoldurado pelas típicas mensagens pacifistas e de denúncia social que Horace “Sleepy” Andy, fiel aos propósitos que sempre conduziram o reggae, insiste em transmitir sempre que pisa um palco.
Seguiu-se a performance de Patrice – presença mais do que habitual no nosso país -, empobrecida pelo som oriundo da tenda Good Vibes, que teimava em sobrepor-se, não só á voz do artista alemão, como à voz de todos os que com ele entoaram músicas como Clouds, Sunshine, Today e Soulstorm, entre outras faixas do seu novo álbum, “Free-Patri-Ation”.
A primeiro dia do evento viria a terminar poucas horas depois, com a dupla Tiefschwarz a abandonar a cabine do espaço electrónico, depois dum DJ set electro house extremamente concorrido e aclamado pelos mais resistentes.
O segundo dia do festival começou com a actuação da portuguesa Ana Free, que, apesar de evidenciar ligeiros, embora justificados, traços de timidez e insegurança, soube arrancar elogios rasgados aos mais catraios, rendidos que estavam à “voz daquele anúncio televisivo” e à sua serenidade em palco.
A inexperiência em palco de Ana Free deu lugar à sapiência dos Police in Dub que, apesar de evocarem versões dos grandes êxitos daqueles que foram, a par dos Clash, uma das mais influentes bandas do século XX, não conseguiram convencer o público, que não se encontrava - não fosse maioritariamente composto por jovens e adolescentes - familiarizado com temas como Spirits in a Material World, Roxanne ou Message In A Bottle.
A surpresa da noite estava reservada para a actuação dos Culcha Candela, um grupo alemão constituído por sete elementos de várias proveniências étnicas, parcialmente desconhecido entre o público português, que conseguiu, contra todas as expectativas, e através de uma interacção constante, levada, por vezes, ao extremo do burlesco e hilariante, incendiá-lo para aqueles que seriam os três últimos concertos da noite.
O «incêndio» foi, porém, apagado pela primeira chuvada da noite, que arrasou grande parte do concerto do estreante em solo português, Justin Nozuka, levando os menos agasalhados a correr, em busca de um abrigo em pleno Verão, para a reduzida tenda electrónica.
Já com as estrelas de volta ao recinto, Mishka – uma das principais atracções do segundo dia do festival – protagonizou um concerto pacato, bem ao estilo das ilhas Bermudas, onde foi criado a bordo de um barco. “Above the bones”, o seu novo registo de originais, foi o fio condutor de toda a performance.
E eis que surge em palco um dos expoentes máximos do reggae mundial, o costa-marfinense Tiken Jah Fakoli, que, com um punhado de êxitos (Je suis na africain a Paris, Ils ont partager le monde ou Tonton de America) a evidenciar-se entre um reggae multifacetado – cantado ora em inglês, ora em português -; um distinto acompanhamento musical; e uma energia que alguns artistas ousam perder quando passam a barreira dos 20 anos de carreira, venceu uma assistência cansada e intimidada por «meia dúzia» de chuviscos que viriam ditar uma madrugada húmida, passada ao som do DJ Miguel Rendeiro e do DJ Patife.
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