Durante dois anos, a Out.ra - Associação Cultural recolheu centenas de sons no Sapal de Coina, na Mata da Machada e na frente ribeirinha do Parque Industrial do Barreiro. Rui Pedro Dâmaso, dirigente associativo, explicou à Lusa que se quis “ilustrar que há mais diversidade no concelho do que o que os estereótipos mencionam”.

“Muitas vezes paramos para ver, raras vezes o fazemos para ouvir. Esse é o mote do projeto, nas palavras do ‘fonografista’ Luís Antero. E depois, o Barreiro não é necessariamente uma zona industrial, muito poluída, muito cinzenta. Achámos que devíamos promover [a cidade] de uma forma original, através do som”, acrescentou.

Em novembro, o projeto vai ter online um arquivo sonoro – “a principal herança da iniciativa, um património imaterial ao dispor das gerações futuras” –, realizar uma exposição no Auditório Municipal Augusto Cabrita sobre todo o processo e exibir um documentário que é “uma tradução visual do trabalho sonoro” e que mostrará zonas do concelho que o grupo entende que são desconhecidas da maior parte da população.

No sábado, o "Sons do Arco Ribeirinho Sul" vai transformar a atividade de recolha de sons, que “é, por natureza, solitária”, num trabalho de equipa: “Organizamos, na Mata da Machada, entre as 08:00 e as 17:00, uma ação de recolhas coletivas. Vamos espalhar grupos pela mata, sob a orientação de pessoas que colaboram connosco, e dar-lhes um pouco a vivência do que foi fazer este trabalho de recolha do projeto”, explicou Rui Pedro Dâmaso.

“Serve também como promoção, e para levar o ato de gravar sons de campo - o ato de parar para ouvir - a mais público”, acrescentou, explicando que, para participar na atividade, que é gratuita e inclui o almoço, “é necessário inscrever-se, enviando um email para info@outra.pt, e é imprescindível que todos os participantes venham munidos de um equipamento de gravação digital ou analógico, mesmo que amador”.

A sessão será coordenada pelos paisagistas sonoros Luís Antero e Paulo Raposo, que recolheram todos os sons deste projeto, e as recolhas efetuadas vão ser incluídas no arquivo sonoro construído pelos dois para o "Sons do Arco Ribeirinho Sul". Para “manter o projeto vivo”, a associação vai explorar “as potencialidades criativas deste arquivo” e promover a sua utilização “como matéria-prima para criações e composições”. Quer também “comissariar peças a compositores a partir dos sons captados”.

“Fizemos uma atividade de promoção do projeto no ano passado, o concerto para olhos vendados, que visava ilustrar a vontade de dar primazia à audição por alguns minutos. Foi um concerto produzido pelo Luís Antero, uma composição de trabalhos de recolha sonora efetuados por ele ao longo dos anos. O que queremos fazer é uma composição semelhante, mas exclusivamente baseada nos sons do Arco Ribeirinho Sul e que seja usada criativamente como matéria-prima por músicos, compositores e que possa ser apresentada ao vivo”, concluiu.

O projeto custou 30 mil euros, foi cofinanciado pela Arco Ribeirinho Sul, S.A., primeiro, e depois pela Baía do Tejo, e pela Câmara Municipal do Barreiro. O trabalho foi desenvolvido por uma equipa de sete pessoas.

@Lusa