Palco Principal - Cinco anos separam este vosso álbum do anterior “Lady Cobra”. A que se deve tamanha pausa? Foi uma pausa pensada, propositada, ou os vossos projetos paralelos não vos deixaram tempo livre para os Riding Pânico?

Shela - Não foi nada pensado, fazemos músicas quando nos apetece. Quando temos músicas suficientes, juntamo-las todas e fazemos um disco. E este disco não escapou a essa regra: tínhamos tempo, vontade, juntámo-nos e resolvemos fazê-lo. É óbvio que todos nós temos os nossos projetos paralelos, sejam eles musicais ou de outro cariz. E isso condiciona. Mas não existe nenhum plano geral. Seguimos o percurso do rio calmamente, se aparecer uma catarata, mergulhamos; se aparecer um lago, nadamos; se aparecerem uns rápidos….logo se vê o que acontece!

PP - Já sabemos que o nome escolhido para o vosso disco nada tem a ver com David Lynch e o filme “Elephant Man”. Qual é, então, a vossa fixação com o sujeito homem/animal que dá nome aos vossos discos?

S - Não sei bem explicar isso. Existe, de certeza, uma ligação, mas para já ainda não sabemos qual é.

PP - Que diferenças, em relação ao álbum anterior, é que podemos encontrar em “Homem Elefante”?

S - É um pouco diferente, mais colorido, com mais algodão doce e mais contas de vidro e caleidoscópios, menos betoneiras, menos prensas mecânicas e conchas de casagrande. Nós não parámos de fazer coisas desde o último álbum, nem parámos de viver, nem de tocar – entre nós e com outras pessoas externas à banda –, e tudo isso influencia a nossa música. Em “Homem Elefante” é possível encontrar-se uma colecção de canções honestas que podem servir de transporte para vários sítios. Uns talvez se goste, outros talvez não. Mas que se chega a algum lado, isso é certo!

PP - Que nomes da cena pós-rock é que vos influenciaram, neste álbum em específico, e na carreira em geral?

S - Isso é muito difícil de responder. Somos seis, e cada um com gostos muitos particulares. Fazendo a intersecção, e que me lembre, andámos todos a ouvir Youth Lagoon, Filho da Mãe, Unknown Mortal Orchestra, Esborn Svensson Trio......

PP - Disponibilizaram o vosso álbum para download gratuito, no entanto existe uma edição em vinil para quem realmente é fã e faz questão de dispensar uns euros em prol da banda. Acham que este é futuro da indústria musical? O CD vai cair em desuso e o vinil vai regressar como formato?

S - Não faço a mínima ideia. Pareceu-nos uma boa ideia, hoje em dia toda a gente saca música da Net e ouve em leitores portáteis. Por isso, pareceu-nos lógico fazer isto assim: quem quiser, faz download; quem gostar de segurar em alguma coisa enquanto está a ouvir, pode comprar o disco. Se é o futuro ou não, é difícil de prever. Por outro lado, lembro-me de alguém ter dito, ou de ter visto escrito que “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”.

PP - Os elementos que constituem os Riding Pânico são provenientes de vários outros projetos, todos eles nos campos do rock, mas todos eles com a sua própria identidade. Foi fácil construir a personalidade dos Riding Pânico, visto serem vários os inputs na banda?

S - Fácil não foi, mas fez parte do desafio: tentar jogar com todas as diferentes personalidades e gostos, e tentar fazer com que tudo resultasse num conjunto. Acho que no fim é parte da beleza das músicas quando elas já estão concluídas. Quando alguém se sai com um riff assumidamente rock, outro põe algo que faz lembrar Duran Duran ou o Toumani Djabaté, e depois resta aos outros quatro fazerem algo para compor o ramalhete. A sensação que eu tenho é que fazer música é qualquer coisa entre o descobrir e o testemunhar, não existe esse controle assim tão consciente, nem se constrói nada com um fim concreto em vista, pelo menos nós não o fazemos assim.

PP - Apesar de não haver voz neste vosso projeto, que sentimentos querem expressar através da vossa comunicação instrumental? Que histórias podemos encontrar em “Homem Elefante”?

S - É ouvir o disco, as histórias estão lá, mas cada um que encontre a sua.

PP - Bandas como Sigur Rós e Mogwai arriscaram adicionar voz a um estilo que tem por hábito ser fundamentalmente instrumental. Imaginam-se algum dia a incorporar tal elemento na vossa música?

S - Tanto a voz, como qualquer outro instrumento, tem espaço na nossa música. É só algum de nós, ou algum amigo, querer expressar-se dessa maneira... Só ainda não aconteceu, mas julgo que ainda temos algum tempo…

PP - Onde é que vamos poder encontrar os Riding Pânico ao vivo nos próximos tempos (sem contar com o concerto no Milhões de Festa)?

S - No festival Esvoaça, em Esposende, dia 10 de agosto.

PP - No dia 28 de Julho vão atuar no Milhões de Festa, em Barcelos. Sendo um festival no qual atuam desde a primeira edição, será de prever um concerto especial? Mais intimista, por exemplo...

S - Não creio. Vamos tocar o disco na íntegra, como temos feito, e uma ou duas músicas do disco antigo. Mas tudo pode acontecer, tocamos no último dia, e em conversa e devaneios durante todo o festival podem surgir várias ideias. Talvez o Fua queira cantar uma música (risos).

Manuel Rodrigues