Palco Principal – Os Mundo Secreto encontram-se, atualmente, em estúdio, a gravar um novo álbum. Qual o título do registo?

Mundo Secreto – O nosso próximo disco – o terceiro dos Mundo Secreto - vai chamar-se “Néons e Lasers”. Um nome muito peculiar, mas com uma explicação muito fácil: o lado dos néons tem muito a ver com o dia, com as relações entre as pessoas e esse tipo de sentimentos mais harmoniosos; depois tem um lado mais obscuro, que é o lado dos lasers, que retrata algumas das sensações que nós acumulámos durante alguns anos em atuações em discotecas. Basicamente, são dois mundos em que os Mundo Secreto vivem diariamente.

PP – No que difere este novo discodos que o antecedem?

MS – Neste disco tentámos seguir a linha que sempre nos caracterizou: a mistura entre o acústico e o eletrónico. Tentámos trazer os tais mundos de que falávamos há pouco para este álbum. Temos, também, uma componente mais dançável, que não tínhamos nos trabalhos anteriores. No entanto, o hip hop está lá, o rock está lá – está lá toda esta energia que sempre tivemos e esta mensagem positiva nas letras.

PP – A mensagem dos vossos últimos trabalhos incidia muito na consciencialização, sobretudo das camadas mais jovens. Este novo disco também tem essa preocupação?

MS – Nós temos sempre essa preocupação, se bem que neste terceiro disco decidimos que devíamos incidir mais nas vivências que temos tido. São muitos anos de estrada, muitos concertos que demos e muitas pessoas que conhecemos. O que tentamos fazer é uma espécie de tributo a isso tudo. Mas obviamente que há sempre essa consciencialização – é um dos deveres dos MCs consciencializar as pessoas, principalmente os jovens.

PP – Que outras temáticas serão abordadas?

MS – O disco, apesar de ser muito diferente de música para música, vai ser global, ou seja, vai abordar as relações entre os elementos da banda, a nossa atitude, falar daqueles momentos em que estamos a captar reações e olhares de outras pessoas. Em suma, vai falar sobre relações interpessoais – acho que vamos conseguir colocar várias imagens no disco.

PP – Vamos encontrar no vosso trabalho algumas participações especiais?

MS – Para já, e como tem sido habitual nos nossos discos, ainda não colocámos participações. E isso prende-se diretamente como facto de já sermos muitos – já enchemos bastante as músicas. No entanto, o disco ainda não está encerrado, há músicas que ainda não estão completamente terminadas, por isso não fechámos, ainda, portas a participações, até porque têm surgido umas parcerias e uns contactos engraçados… Quem sabe…

PP – Na vossa página de Facebook, partilharam com os vossos fãs a satisfação em ouvirem o vosso novo single, Leva o Teu Mundo, a tocar, já, numa estação de rádio. Estão sedentos de ouvir o feedback do vosso público?

MS – Sim, nós já há muito tempo que estamos em estúdio a trabalhar e a compor músicas novas. Portanto, temos aquela necessidade real de pôr a música cá para fora e de ouvir os comentários das pessoas. Também queremos voltar rapidamente à estrada e dar concertos, por isso, quando soubemos que a nosssa música já estava a passar na rádio, ficámos super contentes. Agora só queremos que a nossa música consiga chegar a todas as rádios e ao maior número de pessoas possível.

PP – Já existe uma data prevista para o lançamento?

MS – Está previsto o disco sair no mês de maio, no final do mês.

PP – Os Mundo Secreto sempre foram algo marginalizados no mundo do hip hop pelos amantes mais puristas do movimento. A que se deve, na vossa opinião, tamanha «exclusão»?

MS – Não nos sentimos muito marginalizados pelo mundo do hip hop, até porque nós nunca quisemos pertencer somente ao mundo do hip hop. Isto é uma banda de música, nós somos músicos, não somos hip hopers. Temos como base o hip hop, obviamente, porque os cinco elementos iniciais trouxeram essa essência, mas, a partir do momento em que a banda entrou em estúdio para o primeiro disco, a nossa abordagem foi fazer música pela música. Não quisemos fazer hip hop, não quisemos fazer rock, mas sim uma mistura entre vários mundos. A partir do momento em que a nossa música se torna pública, há sempre uma opinião para tudo – é normal as pessoas opinarem.

PP – Com o fim dos Da Weasel e os anos de inatividade dos Yellow W Van, vocês são o único coletivo de hip hop em formato banda-de-raiz (apesar de se terem iniciado no formato MC e DJ) ainda existente. Como se sentem como tal?

MS – Não sentimos que estamos sozinhos no mundo [risos]. Há muita gente no mundo do hip hop que toca, atualmente, com banda. O que podemos dizer é que fomos das primeiras bandas a fazer hip hop com banda. Fomos dos primeiros a transpor a parte do DJ para uma banda a sério, num estilo mais acústico. E lá está: também fomos criticados por isso. Diziam que isso não era hip hop. E é engraçado ver essas bandas, hoje em dia, a tocar com baixistas, guitarristas, teclistas e bateristas, ou seja, a fazer aquilo que os Mundo Secreto faziam há seis anos atrás.

PP – Apesar de misturarem muitas influências na música que fazem – desde o funk ao soul, passando pelo rock, por exemplo -, continuam a evocar as origens do hip hop, evidenciando o papel do DJ e do Scratch, do sampling, do b-boying… Sublinham, inclusivé, a importância de gurus do movimento com os Beastie Boys, os Run DMC e o Krs-One. É interessante vocês serem, por muitas vezes, colocados à margem de um movimento, mas serem, simultanemente, vocês próprios a relembrarem os seus principais alicerces, não é?

MS – Pergunta curiosa. Quando nós falamos dessas referências, falamos, acima de tudo, dessa altura e do espírito com que se faziam essas músicas, ou seja, nessa altura não havia barreiras e acho que isso é que é importante na cultura hip hop. O hip hop construiu-se em torno de outros universos, visto ser uma importação de funk, soul, rock, etc. Esses [gurus do hip hop] foram os primeiros a fazer isso e os primeiros a ultrapassar essas barreiras e a construir canções com outros estilos de música. Os Mundo Secreto partilham esse tipo de identidade. Não importa de onde vens e o que fazes, ou aquilo que mais gostas – tens é de ser real contigo próprio. E, se quiseres juntar areia com sal e sal com água, junta! Porque isso é que vai dar uma identidade própria à tua própria música.

Manuel Rodrigues