Palco Principal - Escolheram o nome hebraico Heylel para representar a banda e a música que criam. Porquê? Em que medida o seu significado se reflete na sonoridade praticada pelo grupo?

Heylel - Quisemos escolher um nome que representasse a nossa filosofia de vida, que assenta essencialmente no desenvolvimento e na busca constante pelo conhecimento.
Heylel vem do hebraico Hellel e é referido inicialmente na bíblia cristã como alusão à queda do Rei da Babilónia (Isaías 14:12). Mais tarde viria a ser incorretamente conotado com Lucifer. Nós pegámos em toda esta mitologia e achámos que Heylel conseguia reunir os requisitos que procurávamos para um nome.

PP - Não obstante se apresentarem como uma banda, os Heylel são, digamos, um projeto de autor, pensado e construído, maioritariamente, pelo Narciso. Tendo em conta a sonoridade que praticam, assente, em grande parte, no rock progressivo, foi fácil encontrar «compinchas» para esta aventura?

Heylel - De todo. Quando a aventura começou, o projecto foi-lhes apresentado com todo o detalhe, e eles aceitaram de imediato participar. Temos feito um trabalho conjunto muito interessante e enriquecedor. Independentemente das criações serem essencialmente minhas, temos uma partilha muito grande de interacções durante o processo de conceção, e cada músico insere o seu cunho pessoal.

PP - Antes de se aventurar nos Heylel, o Narciso era parte integrante dos The Gama GT Blues Project, um projeto dedicado ao blues, tal como o nome sugere. Além de uma maior liberdade criativa, que nem sempre o blues permite, com todas as barreiras que lhe são «impostas», o que lhe «oferecem» os Heylel que o faz pensar que este é o caminho a seguir?

Heylel - Em termos de carreira não consigo prever se este caminho dará frutos, apesar de, num curto espaço de tempo, já ter tido consideravelmente mais resultados do que nos Gama GT, mas, pessoalmente é um projeto de grande realização, precisamente pela ausência de barreiras e pela total liberdade de expressão emocional.

PP - Editaram o vosso álbum de estreia, “Nebulae”, no verão passado. Um disco conceptual, abstrato, difícil. Um risco consciente?

Heylel - Plenamente consciente. Na verdade, acho que o disco tem os seus momentos difíceis, mas, simultaneamente, é contraposto com momentos de reflexão, introspeção e de puro ambiente melódico. É um disco concetual, logo cada momento faz parte de um todo e não é fácil separar momentos isolados como amostra. Tem um caminho e uma forma de o percorrer, e a ideia é que o ouvinte participe dessa viagem e se deixe levar pelos diferentes ambientes, sem pressa, de forma a entender e sentir a lógica ascendente dos temas.

PP - Porquê a integração de duas versões no alinhamento do álbum? Uma homenagem às principais influências do projeto?

Heylel - Sim, é uma homenagem a dois criadores que são uma referência incontornável das nossas influências. São dois temas que se enquadram na evolução do disco e permitiram-nos ter o prazer de abordar, da nossa forma, duas autênticas obras de arte do progressivo do inicio da década de 70.

PP - Curiosamente, o disco - sugere-nos o site oficial dos Heylel - conquistou mais atenção fora de portas do que em Portugal. O nosso país não estará «preparado» para as sonoridades por vocês praticadas? Na vossa opinião, qual o motivo da grande parte das críticas do disco terem sido publicadas em publicações internacionais?

Heylel - Eu penso que Portugal tem imenso público que aprecia estas sonoridades, pelo menos atendendo à participação de portugueses em eventos e espectáculos de bandas semelhantes. Na nossa experiência, o problema não reside no público mas sim nos media, que tendem a ignorar e desvalorizar novos projetos nacionais. E, sem a colaboração dos media, é muito difícil chegar às pessoas, aos verdadeiros potenciais ouvintes. Fora de portas, tem sido bastante diferente, temos muitas dezenas de publicações, artigos e notícias, e isso fez com que a base de fãs atuais da banda seja esmagadoramente estrangeira.

PP - Em “Nebulae”, apresentam uma componente visual e artística muito forte, pouco comum entre os artistas portugueses. Uma tentativa de marcar a diferença numa indústria saturada? A concretização de um ideal?

Heylel - Ambas. A música é um meio de comunicação, mas, quando estamos a dar um espetáculo, temos a possibilidade de utilizar outros meios além do áudio. Tiramos proveito disso e complementamos a parte musical com um jogo muito próprio de iluminação e com projeções multimédia, que não são só complementos, mas sim parte do espectáculo, fazem parte da mensagem. A embalagem de "Nebulae" é também pensada para que o grafismo e o próprio formato sejam contínuos com a música. "Nebulae" não é apenas um CD, é uma história audiovisual.

PP - Objetivos a curto, médio prazo, para os Heylel: quais são? Não está prevista uma digressão nacional de promoção ao vosso longa duração de estreia?

Heylel - Estamos a concluir novos trabalhos, quer para a promoção de "Nebulae", como para a criação de novos lançamentos. Infelizmente, não será fácil para já ver-nos ao vivo em Portugal, temos necessariamente de olhar para os dados estatísticos de vendas, escutas e interações, e essas mostram-nos que os focos de concentração de ouvintes não estão aqui mas sim em países como a Holanda e o Reino Unido.Continuamos a trabalhar com management potenciado para o exterior, mas sempre na esperança de que venha a crescer o conhecimento em Portugal e que isso nos permita dar cá espectáculos.

Sara Novais